Parêntese 48: A vida é o que é

Ao conhecer a história da Lizete, nossa entrevistada da semana, a gente se bota a fazer perguntas radicais. Como funciona o curso de uma vida? Como alguém se decide profissionalmente? Quantas vidas cabem em uma? O que é mesmo uma vida? Faz lembrar um famoso poema do Drummond, “Poema das sete faces”, que começa assim:  Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos, ser gauche na vida! A Lizete parece ter recebido uma ordem semelhante: guria, vai viver o lado esquerdo da vida! Vai – terá dito o anjo torto – vai, que tu vai aprender muito. Depois nos conta. Não para dar aulas, nem para dar moral, mas para expor essa maravilha misteriosa que é aceitar que a vida é o que é. É como é. Pablito nos conta a história do bacurau-de-telha na janela do Sandro, e as fotos de Lucas Moesch nos levam a passear por cenários da América do Norte, tão parecidos com outros, tão singulares. Arthur de Faria conclui o relato da trajetória do impressionante Chiquinho do Acordeom, enquanto Cristiano Fretta começa agora a contar seu contato transcendental (e banal) com Apolinário Porto Alegre. Cláudia Laitano explica o sentido de “antitruste”, palavra que evoca dominação, sufocação, até mesmo imperialismo, nomás, o que nos liga com a recente eleição boliviana, motivo de visitar brevemente uma impressionante vida que se esvaiu agora, a do poliglota pedritense Carlos Freire, em texto deste seu servo obrigado.  O folhetim “Pássaros da cidade” passou da metade, e a Júlia Dantas segue criando a trama que une Domingos e Lúpino, numa cidade meio travada pela pandemia. José Falero vai de uber e de táxi, enquanto pensa sobre a vida dos de baixo.  O ensaio de Demétrio Xavier é um sopro de novidade no terreno ultrapisoteado da identidade gaúcha, rio-grandense, sulina, como queira. E o Retrato do Caio Fernando Abreu feito pela Amanda Costa é um luxo acompanhado, uma carta para os astros, uma subida aos céus da amizade. E a seção Relampo: tá curtindo?  Luís Augusto Fischer