Revista Parêntese

Parêntese 58: O peso da memória

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Parêntese 58: O peso da memória Foto: Douglas Fischer
De vez em quando me lamento por não ser muito imaginativo. Não teria capacidade de projetar uma utopia, uma ilha ou um mundo com regras próprias. Aliás, quando me perguntaram coisas como qual o livro que eu levaria para a proverbial ilha deserta, eu respondi com dificuldade – a minha verdade íntima seria dizer que qualquer bom autor me interessaria. Minha família é mais aquela do Belchior: minha alucinação é suportar o dia-a-dia, e meu delírio é a experiência com coisas reais.  Vai daí, para mim a memória tem um peso forte. Não como prisão, mas como dimensão da vida real. Ali onde se passou a vida, bem ali a gente encontra o sentido da vida. É o meu modesto parecer. Então fico como pinto no lixo – comparação antiga, do tempo em que todo mundo sabia que os pintos ficam faceiros com aquele cisco ajuntado – quando tenho o gosto de apresentar uma edição como a 58: recheada de histórias vividas, evocadas, prontas para virarem, desculpa a comparação, adubo para as vidas ainda em curso.   Sergius Gonzaga, grande figura da cidade, ex-secretário de Cultura de Porto Alegre, ex-diretor da Editora da UFRGS, professor de literatura em colégios, cursinho e na UFRGS, com umas boas décadas de experiência (foi meu professor no curso de Letras!), oferece um panorama breve da vida e da obra de Josué Guimarães, que nasceu cem anos atrás.  Na entrevista, a impressionante (e nem sempre fácil) vida da Lélia Almeida, escritora, professora, taróloga, uma mulher que encarnou em sua trajetória um tempo difícil do feminismo. Vinícius Rodrigues, com a colaboração de Cristiano Fretta, analisa o excelente livro Beco do Rosário, de Ana Luíza Koehler, que nos leva ao mundo de 1920 numa Porto Alegre muito diferente da atual. Em seu texto também de memória, Célio Golin revive uns tempos heroicos na “lanchera” do Parque.  Paulo Coimbra Guedes (que não se perca pela homonímia com o errático ministro!), pensador da língua, conta aqui um caso que parece elementar, um problema de concordância numa letra de canção ultraconhecida, mas que encerra toda uma discussão sobre a língua em que escrevemos, em que queremos escrever.  As fotos de Douglas Fischer (pena, mas não somos parentes, apenas compartilhamos o sobrenome) talvez sejam a seção mais imaginativa, mais inventiva de todas as desse 58. Sim? E as imagens do Felipe Fortuna são um gosto para a inteligência, como sempre. Bem, ao lado das fotos há o novo capítulo do folhetim de Marcelo Martins da Silva, assim como a nova cena da série que Eduardo Vicentini de Medeiros desenvolve aqui sobre o casamento tal como registrado na ficção brasileira, desta vez em Clarice Lispector, uma campeã de audiência, quer dizer, de leitura. A sempre instrutiva e bem humorada biografia musical de Porto Alegre, de Arthur de Faria, alcança um novo tempo – logo, logo, vamos enxergar Lupicínio Rodrigues no palco. Duas crônicas guardam ainda traços de memória. A da Zainne Lima da Silva, apesar do título meio requintado, também está interessada em […]

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