Revista Parêntese

Parêntese #118: Intensidade

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Parêntese #118: Intensidade

Uma vida humana, se alcança muito, vai aos cem anos. Um hipotético sujeito nascido em 1922 hoje poderia dizer muito desse século, acompanhando por exemplo a cidade de Porto Alegre. E ainda assim teria visto apenas uma fração do que se passou por aqui. 
    
Duzentos e cinquenta anos são dez gerações, que chegaram, nasceram, viveram, procriaram, trabalharam, sonharam, sofreram, realizaram, morreram. Matéria vivida espessamente, que só uma abstração nos permite referir distraidamente como um quarto de milênio. E é.  
    
Mas quem pensa na cidade, quem a conhece, quem a estuda, quem a percorre, pode ter 20, 50, 70 anos mas trazer consigo, com intimidade, esses 250 anos e mais – porque pode ajuntar ao que leu e viu coisas que pode reconstituir daquilo que viveram nesta margem do Guaíba sabe-se lá quantos milhares de indígenas, há talvez 7 mil ou até 12 mil anos. Assim é o tempo, que sempre escapa pelo meio dos dedos quando se tenta aprisioná-lo.
    
O certo é que intensidade funciona mais do que apenas a idade quando se considera uma cidade, com rima e tudo. Caminhar sobre uma calçada sabendo que ali se fez aterro, saber que no centro do Mercado há um símbolo do trabalho dos negros, escravizados ou livres, reconhecer a parte italiana da Cidade Baixa, conhecer o cemitério da comunidade espanhola, reconhecer a presença judaica em geografia e instituições, ter dançado num baile da Sociedade Polônia ou da Libanesa, ouvir ainda o eco da fala germânica num bar-chope: intensidade. 

Nossa homenagem ao aniversário redondo da capital gaúcha reúne lindas fotos aquáticas do João Marcelo Osório. Os quadrinhos com que o Pablito dá a palavra aos frequentadores da Alfândega. A coluna já clássica de Fernando Seffner, hoje examinando os nomes relativos a Porto Alegre na designação de prédios da cidade. Textos sensíveis de Augusto Darde e Douglas Belarmino, debochado como o da Cláudia Tajes, analíticos como os de Álvaro MagalhãesVanessa Marx. A sempre interessante coluna de Arnoldo Doberstein. Porto Alegre respira neles.
    
Isso e mais a nossa rotina de mergulhos no folhetim de ficção científica de Taiasmin Ohnmacht, na terceira e última parte do perfil biográfico de Vera Mogilka, por Jandiro Koch, assim como no terceiro momento da pungente saga da série Memórias da epilepsia, de Carlos Scomazzon. Seguimos ainda acompanhando a viagem a cidades da Península Ibérica, com Ana Marson, por sinal outra debochada. 
    
Nossa militância na memória já nos levou à obra de Maria Lídia Magliani, em perfil feito por seu amigo Renato Rosa, e eis que sua produção está em cartaz numa excelente exposição no museu Iberê Camargo. Aliás, no térreo há também uma pequena mostra do próprio Iberê, com pinturas e desenhos comoventes, muitos feitos nos anos 40, quando ele começava a meter sua mão na massa pictórica para registrar a cidade. 
    
Para não deixar por menos: nosso colunista Arthur de Faria está promovendo uma vaquinha para viabilizar a edição em livro das colunas que aqui mesmo na Parêntese ele tem desfilado (acesse aqui a de hoje), para gosto geral e proveito da inteligência, sob o nome nada casual de “Porto Alegre, uma biografia musical”. O texto de hoje do Arthur é só acessar aqui. Também focado em Porto Alegre é o originalíssimo e inteligente trabalho de Breno Serafini, que lança a edição impressa de seu projeto POAlaroides urbanas – uma ode visupoética a Porto Alegre no domingo dia 27 às 18h no Espaço Brasco, e terça dia 29, às 19, no Centro Municipal de Cultura, com exposição ali mesmo de imagens do projeto. 
    
Tudo imperdível, para celebrar o aniversário de todo mundo. 

P.S. – E não esqueça, caro leitor, gentil leitora, de responder ao nosso questionário O que gosto e o que desgosto em Porto Alegre?, para a gente produzir uma consistente reportagem em nossa edição impressa a sair em abril, a primeira PARÊNTESE TRI. 

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