Revista Parêntese

Parêntese #120: Invadir

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Parêntese #120: Invadir

Pode escolher a cifra: 522 anos, desde 1500, ou 530 anos, desde 1492. A primeira marca é exclusivamente brasileira, orgulho nacional, ao passo que a segunda vale para toda a América. Cabral em 1550 ou Colombo em 1492.

Qualquer das duas datas marca o começo de uma invasão. Tinha gente que morava aqui, aqui vivia, sonhava, criava filhos. Muita gente, de muitas etnias, usando centenas de línguas. Do ponto de vista deles, os ibéricos foram invasores.

Mas, como ensina a antropologia, os ameríndios em geral consideravam interessantes os diferentes, os que chegavam. Queriam conhecer mais de perto, não para ser iguais a eles, nem para converter os que chegavam ao seu modo de vida: gostavam da diferença enquanto diferença. 

Já os ibéricos só viam nos que aqui viviam uma gente que tinha uma única chance: mudar radicalmente seu modo de pensar e agir, deixar de ser o que eram, transformando-se em algo parecido com os ibéricos. Todos deveriam ser católicos, usar roupas para cobrir o corpo, ter coisas para vender no mercado. Ou a morte.

Faz 522 ou 530 anos que essa invasão começou, e não terminou ainda. Neste governo federal, como sabemos, muitas das legítimas conquistas dos povos nativos estão sendo ativamente renegadas. O presidente é fã do garimpo predatório até em terras demarcadas.

Aqui no sul do Brasil, uma antiga e equivocada crença sugeria que esse problema não mais existia, porque não havia mais indígenas. Se existiam, estavam lá longe, no extremo norte do estado ou no extremo passado. 

Mas não. Gente como a gente, mas gente diferente da gente, os indígenas estão adquirindo voz própria, à custa de muito esforço, luta, obstáculos que vão da indiferença à discriminação ativa. E chegaram à universidade!

Nesta edição, dois preciosos textos dão conta de um movimento objetivo de estudantes indígenas da UFRGS: eles precisam de uma Casa para viver, enquanto estudam entre nós. O que fazer? Invadir? Ocupar? 

Quer saber das razões? Olha lá o que dizem a Cláudia Tajes (texto) e o Theo Tajes (fotos), o que pensam e argumentam Raquel da Silva Silveira, Lara Werner, Ângela Cristina Bastos Lummertz e Anilton Junior de Lara Nunes. Hora boa para rever conceitos e pensar até sobre o impensado.

No mais, a edição tem a sutil lindeza do passeio fotográfico que o Dudu Sperb faz pelos céus de Porto Alegre. Cristiano Bastos e Oly Jr. fazem o merecido elogio à obra e à figura do Julio Reny, um bardo necessário.

Carlos Scomazzon, no sofrido relato de sua experiência com a epilepsia, volta para a infância, onde tudo começa. Arnoldo Doberstein repassa os registros imagéticos da fundação e da importância do antigo Correio do Povo, em 1895. Ana Marson traz mais uma crônica de sua viagem, dessa vez o relato vem de Paris. E a Taiasmin Ohnmacht nos leva até uma ruína no Morro Santana, onde tudo começa a se explicar em seu folhetim. 

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