Revista Parêntese

Parêntese #91: Conquistar a memória

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Parêntese #91: Conquistar a memória

Uma cena do filme “Pelle, o conquistador” (1987, direção de Bille August), nunca me saiu da cabeça. O pai do garoto Pelle, feito por Max von Sidow, um camponês com emprego precário, mas enfim um emprego, está feliz porque seu menino vai frequentar a escola. Procura incentivá-lo como pode, com suas modestas qualificações. Diz algo assim – escrevo aqui o sentido geral: “Vai lá, vai ser bom. Na escola a gente aprende o nome dos profetas. São eles: Isaías… Isaías…”

Esse silêncio é que me doeu na alma, desde sempre. A memória do pai não tinha retido mais que um nome, e esse nome era toda a riqueza letrada que ele conseguiu reunir para acarinhar seu filhote. Um nome. 

O pai não tinha tido talvez mais do que algumas noções da bíblia, não sei se sabia ainda assinar o nome e fazer as operações matemáticas elementares. Era um perfeito perdedor, desses que a história atropela – e a arte de vez em quando consegue reerguer.

Reergue sua figura como memória, que é o nosso ponto. No momento em que batuco essas linhas, choro sem lágrimas a perda de um querido amigo, presente na minha vida há 55 anos. Era o Cajo, Antônio Carlos Rizzo Neis. 

Bem sei que muitos de nós estamos perdendo gente de vários modos, muitos dos quais por morte evitável se tivéssemos um governo federal minimamente decente. Não foi o caso do Cajo, vítima de outros males. Mas a morte iguala tudo e impõe seu bloqueio democraticamente.

Enquanto disfarçamos a tristeza, combatemos o esquecimento. Para começar, um cara que fala pelos cotovelos mas sempre com muito para dizer, Claudinho Pereira. Mais uma parceria da Parêntese com a Cubo Play. No ensaio de fotos, Cristiano Fretta documenta, segurando a lágrima, cenas de decadência de seu bairro. 

Alice Trusz oferece mais um flagrante da história do cinema em Porto Alegre, num texto preciso e com ilustrações surpreendentes. Poti Campos, com imagens de Tânia Meinerz, documenta cinco histórias de gente comum, que viveu bastidores da Legalidade, aquele digno episódio de seis décadas atrás. O Foguinho, por extenso Paulo César Teixeira, oferece trechos de seu novo livro, que recupera a trajetória do charmoso bar Escaler.

Na série de reflexões sobre a tradução, hoje temos o texto de Hugo Lorenzetti. Nosso especialista em história da cidade, Arnoldo Doberstein, conta agora da igreja das Dores, um dos signos referentes da história local. “Entroncamento”, nosso folhetim, alcança seu sexto capítulo. 

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