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Ricardo Lísias: Diários da catástrofe brasileira

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Ricardo Lísias: Diários da catástrofe brasileira O texto a seguir é um excerto do volume inédito dos Diários da catástrofe brasileira que venho publicando desde o segundo turno das eleições presidenciais de 2018. É uma tentativa caleidoscópica de compreender a nossa situação, sem exatamente buscar uma resposta e sim ensaiando inúmeras perguntas e discutindo questões que me parecem relevantes. Para essa publicação, sigo a orientação dos Diários: não uso nenhuma conjunção adversativa e não cito o nome do pior presidente da história brasileira. Ricardo Lísias   6 de maio Hoje eu soube que a versão impressa dos Diários da catástrofe brasileira – Ano 1 deve ser publicada, ao menos a princípio, no início de julho. É um atraso grande, que talvez prejudique um pouco a circulação. A editora fez um excelente trabalho. Faltavam 15 dias para o lançamento quando decretaram a quarentena. Dali em diante a produção ficou parada. Ainda assim a notícia me animou.  É estranho, parece que meu trabalho resolveu “circular” com o confinamento, não entendi bem as razões. Tive uma proposta para fazer um audiolivro do romance Divórcio. Há uma questão de direito autoral que eu espero ser resolvida. A tradução para o espanhol está andando. Também fui convidado para escrever um ensaio a partir das aulas online que fiz falando de literatura francesa contemporânea. Comecei hoje. Além disso, daqui a alguns dias um crítico literário irá me pedir para desenvolver uma pequena reflexão que coloquei nas redes sociais. É o que passo a fazer a partir de agora, com o perdão pela inversão temporal. A quarentena se iniciou para mim com o desânimo de não ter achado aulas em nenhum lugar e agora fica bastante movimentada. O projeto do presidente da república está dando certo: hoje, morreram oficialmente 615 pessoas devido à COVID–19. Devemos ter perdido portanto no mínimo 3 mil vidas em 24 horas, já que a subnotificação é enorme. As mortes estão aumentando muito, enquanto ele continua promovendo aglomerações e não toma nenhuma atitude mais concreta.  O falecimento do ator Flavio Migliaccio repercutiu bastante. Continuo perplexo de ver muita gente defendendo a divulgação maciça de sua carta de despedida, apesar de os protocolos recomendarem o contrário. A justificativa é exclusivamente o fato de ela ser um ato político. Vi uma jornalista, por sinal bastante grosseira, defender isso em um site de esquerda. Há algumas semanas ela teve uma discussão com o ator José de Abreu pois julgou que ele havia sido machista com a forma que escolhera para criticar Regina Duarte por sua adesão ao governo terraplanista. Ou seja: desrespeitar uma mulher não pode; já a Organização Mundial de Saúde, tudo bem. Vale notar que a tal jornalista (apenas uma entre as tantas pessoas que defenderam o ato político acima de tudo) não tem nenhum tipo de formação na área da psicologia. O ator Lima Duarte gravou um belo depoimento, dirigindo-se a Migliaccio. Ele afirma compreender a atitude do amigo e que não faz o mesmo apenas por não ter coragem. Depois diz que chegar aos 90 anos sentindo o ar […]

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O texto a seguir é um excerto do volume inédito dos Diários da catástrofe brasileira que venho publicando desde o segundo turno das eleições presidenciais de 2018. É uma tentativa caleidoscópica de compreender a nossa situação, sem exatamente buscar uma resposta e sim ensaiando inúmeras perguntas e discutindo questões que me parecem relevantes. Para essa publicação, sigo a orientação dos Diários: não uso nenhuma conjunção adversativa e não cito o nome do pior presidente da história brasileira. Ricardo Lísias   6 de maio Hoje eu soube que a versão impressa dos Diários da catástrofe brasileira – Ano 1 deve ser publicada, ao menos a princípio, no início de julho. É um atraso grande, que talvez prejudique um pouco a circulação. A editora fez um excelente trabalho. Faltavam 15 dias para o lançamento quando decretaram a quarentena. Dali em diante a produção ficou parada. Ainda assim a notícia me animou.  É estranho, parece que meu trabalho resolveu “circular” com o confinamento, não entendi bem as razões. Tive uma proposta para fazer um audiolivro do romance Divórcio. Há uma questão de direito autoral que eu espero ser resolvida. A tradução para o espanhol está andando. Também fui convidado para escrever um ensaio a partir das aulas online que fiz falando de literatura francesa contemporânea. Comecei hoje. Além disso, daqui a alguns dias um crítico literário irá me pedir para desenvolver uma pequena reflexão que coloquei nas redes sociais. É o que passo a fazer a partir de agora, com o perdão pela inversão temporal. A quarentena se iniciou para mim com o desânimo de não ter achado aulas em nenhum lugar e agora fica bastante movimentada. O projeto do presidente da república está dando certo: hoje, morreram oficialmente 615 pessoas devido à COVID–19. Devemos ter perdido portanto no mínimo 3 mil vidas em 24 horas, já que a subnotificação é enorme. As mortes estão aumentando muito, enquanto ele continua promovendo aglomerações e não toma nenhuma atitude mais concreta.  O falecimento do ator Flavio Migliaccio repercutiu bastante. Continuo perplexo de ver muita gente defendendo a divulgação maciça de sua carta de despedida, apesar de os protocolos recomendarem o contrário. A justificativa é exclusivamente o fato de ela ser um ato político. Vi uma jornalista, por sinal bastante grosseira, defender isso em um site de esquerda. Há algumas semanas ela teve uma discussão com o ator José de Abreu pois julgou que ele havia sido machista com a forma que escolhera para criticar Regina Duarte por sua adesão ao governo terraplanista. Ou seja: desrespeitar uma mulher não pode; já a Organização Mundial de Saúde, tudo bem. Vale notar que a tal jornalista (apenas uma entre as tantas pessoas que defenderam o ato político acima de tudo) não tem nenhum tipo de formação na área da psicologia. O ator Lima Duarte gravou um belo depoimento, dirigindo-se a Migliaccio. Ele afirma compreender a atitude do amigo e que não faz o mesmo apenas por não ter coragem. Depois diz que chegar aos 90 anos sentindo o ar […]

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