Entrevista | Parêntese

Rodrigo Mohr Picon: Literatura ensina empatia

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Rodrigo Mohr Picon: Literatura ensina empatia Comandante-geral da Brigada Militar fala da formação em Letras e de como a carreira de policial pode ganhar um novo olhar a partir da leitura de obras literárias. Literatura de um lado, vida policial de outro: esta é uma equação que a maioria das pessoas faz, sem pensar. Difícil imaginar um policial, talvez mais ainda um policial militar, que seja leitor com formação superior em Letras. Mas existe ao menos um caso, e calha de ele ser, neste momento, nada menos que o Comandante geral da Brigada Militar. Senhoras e senhores, com vocês o coronel Rodrigo Mohr Picon. Eu o conheci na condição de aluno, eu professor. Sabia que era já brigadiano, e essa dimensão de sua vida era um elemento interessante na sala de aula de sua turma, ao menos para mim. Lembro de um dia, nós lendo Rubem Fonseca, e o debate ficou mais rico e matizado pelas observações que ele fazia.  Uma coisa é pensar a brutalidade cotidiana a partir da condição de civil, que pode ser a vítima dela a qualquer momento; outra é olhar para ela pelo filtro de quem é pago pela sociedade para coibir o crime. E as duas maneiras de olhar, não esqueçamos, acontecem numa sociedade concreta, a brasileira, não apenas desigual, como outras, mas uma sociedade que reitera a desigualdade há séculos.  Por outro lado, é preciso reconhecer que há uma tradição de truculência do trato das polícias brasileiras, genericamente, para com o povo pobre e negro – as estatísticas históricas não mentem sobre isso –; mas há também uma tradição de esquerda que ainda imagina, equivocadamente, que qualquer violência tem potencial revolucionário e por isso não pode ser reprimida. Bem no meio desse imenso e complexo nó está o policial. O que ele deve ser? Como deve se portar? Como deve ser formado antes de ir para a rua, para a investigação, para a ação prática? Não há resposta linear.  Essa conversa, que transcorreu por escrito, ajuda a furar uma das incontáveis bolhas em que costumamos acomodar nossa vida.  Luís Augusto Fischer Parêntese – Como andam as leituras? Dá tempo de aproveitar um bom romance no comando de uma megaestrutura como a Brigada Militar? Tens feito leituras recentemente? De que tipo de livros?  Rodrigo Mohr Picon – Tenho o hábito de ler diariamente antes de dormir, e leio dois ou três livros ao mesmo tempo. A escolha é conforme o humor: em dias mais pesados, opto sempre pela ficção, ajuda a relaxar. Recentemente, reli O Tempo e o Vento, do Erico, incrível como permanece atual e, a cada leitura, mantém o vigor. A cena da morte do capitão Rodrigo sempre me comove. Reli também Cães da Província, do Luiz Antônio Assis Brasil, que eu havia lido durante o curso de Letras. Hoje estou lendo Vinte Mil Léguas Submarinas, do Júlio Verne, e, aguardando na cabeceira, Memórias Póstumas de Brás Cubas, do Machado, que li pela primeira vez também na universidade. P – Dá uma ideia, por favor, em números, do que significa a estrutura da BM. RMP – […]

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Comandante-geral da Brigada Militar fala da formação em Letras e de como a carreira de policial pode ganhar um novo olhar a partir da leitura de obras literárias. Literatura de um lado, vida policial de outro: esta é uma equação que a maioria das pessoas faz, sem pensar. Difícil imaginar um policial, talvez mais ainda um policial militar, que seja leitor com formação superior em Letras. Mas existe ao menos um caso, e calha de ele ser, neste momento, nada menos que o Comandante geral da Brigada Militar. Senhoras e senhores, com vocês o coronel Rodrigo Mohr Picon. Eu o conheci na condição de aluno, eu professor. Sabia que era já brigadiano, e essa dimensão de sua vida era um elemento interessante na sala de aula de sua turma, ao menos para mim. Lembro de um dia, nós lendo Rubem Fonseca, e o debate ficou mais rico e matizado pelas observações que ele fazia.  Uma coisa é pensar a brutalidade cotidiana a partir da condição de civil, que pode ser a vítima dela a qualquer momento; outra é olhar para ela pelo filtro de quem é pago pela sociedade para coibir o crime. E as duas maneiras de olhar, não esqueçamos, acontecem numa sociedade concreta, a brasileira, não apenas desigual, como outras, mas uma sociedade que reitera a desigualdade há séculos.  Por outro lado, é preciso reconhecer que há uma tradição de truculência do trato das polícias brasileiras, genericamente, para com o povo pobre e negro – as estatísticas históricas não mentem sobre isso –; mas há também uma tradição de esquerda que ainda imagina, equivocadamente, que qualquer violência tem potencial revolucionário e por isso não pode ser reprimida. Bem no meio desse imenso e complexo nó está o policial. O que ele deve ser? Como deve se portar? Como deve ser formado antes de ir para a rua, para a investigação, para a ação prática? Não há resposta linear.  Essa conversa, que transcorreu por escrito, ajuda a furar uma das incontáveis bolhas em que costumamos acomodar nossa vida.  Luís Augusto Fischer Parêntese – Como andam as leituras? Dá tempo de aproveitar um bom romance no comando de uma megaestrutura como a Brigada Militar? Tens feito leituras recentemente? De que tipo de livros?  Rodrigo Mohr Picon – Tenho o hábito de ler diariamente antes de dormir, e leio dois ou três livros ao mesmo tempo. A escolha é conforme o humor: em dias mais pesados, opto sempre pela ficção, ajuda a relaxar. Recentemente, reli O Tempo e o Vento, do Erico, incrível como permanece atual e, a cada leitura, mantém o vigor. A cena da morte do capitão Rodrigo sempre me comove. Reli também Cães da Província, do Luiz Antônio Assis Brasil, que eu havia lido durante o curso de Letras. Hoje estou lendo Vinte Mil Léguas Submarinas, do Júlio Verne, e, aguardando na cabeceira, Memórias Póstumas de Brás Cubas, do Machado, que li pela primeira vez também na universidade. P – Dá uma ideia, por favor, em números, do que significa a estrutura da BM. RMP – […]

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