Entrevista | Parêntese

Sergio Faraco: Um escritor sempre pensa que vai salvar alguém de alguma coisa

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Sergio Faraco: Um escritor sempre pensa que vai salvar alguém de alguma coisa
Aos oitenta anos, Sergio Faraco reconta episódios que fazem visitar seu passado na vida e na literatura, desde o Alegrete até a União Soviética Por Luís Augusto Fischer e Cláudia Laitano Talvez todo grande artista seja necessariamente um singular, alguém irrepetível no rigor do termo. Sergio Faraco é um deles, sem margem a dúvidas. Completando 80 anos neste julho da pandemia, Faraco é reconhecido como um dos grandes há tempos. No Rio Grande do Sul, desde a virada dos anos 1970 para os 80. Isso quer dizer que há 40 anos ele é um clássico, quer dizer, um artista reconhecido pela sua aldeia como autor de livros imprescindíveis e, talvez não menos, como uma figura de referência.  No Brasil, sua fama é relativamente escassa – mas quem são os grandes artistas que vivem fora do centro a gozar de fama merecida? E gaúchos, quem são esses? Faraco, talvez como Iberê Camargo ou Vitor Ramil, para usar comparações enviesadas mas precisas, são cultuados por público fiel mas não óbvio, nem hegemônico. Melhor assim, talvez.  Como Simões Lopes Neto, Faraco tem nos contos seu ponto magno, mas é autor de obra vasta – como tradutor, antologista, memorialista, cronista, biógrafo e historiador digamos amador. Como o ilustre pelotense contista – e o pintor da Restinga Seca e o cancionista pelotense, por igual – é rigoroso com as formas que pratica, não tolerando frouxidão, improviso, trivialidade, esses alimentos para o circo de amenidades que ronda a vida cultural. Faraco não é de nenhuma turma. Há em seus contos e em sua vida de intelectual, para além disso, um ethos cada vez mais raro, que combina irresignação, forte autoconsciência, solidariedade, voluntarismo e algo mais. O resultado é uma voz narrativa – que parece estar em todos os seus textos, ficção ou não – firme, nítida, tão cortante quanto discreta, longe de toda arrogância e de qualquer estardalhaço. Síntese admirável, de que sua literatura dá testemunho certo. Cláudia Laitano e eu, que o conhecemos e admiramos há décadas, propusemos por email uma série de perguntas, que vão aqui por ele respondidas. Uma leitura que vai ajudar a entender mais sua visão das coisas e dos homens.   Parêntese – Faraco, a primeira pergunta é: o que aconteceu depois que o homem Sergio Faraco entrou pelo portão de casa, ao retornar daquele impressionante périplo pela União Soviética? Quer dizer: cadê o segundo volume das tuas memórias? A pergunta é tanto mais forte quando se sabe que a grande qualidade de Lágrimas na chuva foi reconhecida imediatamente pelos leitores. Sérgio Faraco – Para responder, preciso voltar ao Lágrimas na chuva. Levei quase 40 anos para aprontá-lo. Minhas versões não ultrapassavam o desafogo, a expressão sentimental. As tentativas se repetiam ano a ano, assim como os fracassos. Então passei a contar o possível livro a escritores amigos, Moacyr Scliar, Luís Augusto Fischer, Luiz Antônio de Assis Brasil, na esperança de poder organizar aqueles episódios que, em meus pensamentos, eram caóticos. “Falando, as imagens são distintas, no pensamento estão amontoadas”, teria […]

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