Crônica | Parêntese

Taison é maior do que Messi

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Taison é maior do que Messi Roberto Jardim Recentemente o atacante Taison, ex-Inter e atualmente no Shakhtar, da Ucrânia, enfim respondeu a uma provocação feita pelo jornalista Wianey Carlet há dez anos. Em 28 maio de 2009, após atuações brilhantes do guri de Pelotas, em partida do Colorado, e do argentino Lionel Messi, em jogo do Barcelona, o cronista brincava: “Taison ou Messi, o futuro dirá quem foi melhor”. Pois o garoto nascido no bairro Navegantes precisou de pouco mais de uma década para mostra ser, talvez não melhor, mas maior do que o craque argentino, que recentemente ganhou seu sexto prêmio de melhor do mundo. Certamente o camisa 7 não é tão bom com a bola nos pés quanto o 10 do Barcelona. Fora das quatro linhas, porém, tem dado de goleada.  Afinal, não é todo boleiro que cita Angela Davis, Martin Luther King, Malcom X, Ghandi e outros. Para quem não acompanha o futebol, ainda mais o campeonato ucraniano, vale contar que, recentemente, Taison foi vítima de ataques racistas durante uma partida. Ele reagiu, jogando a bola contra a torcida adversária e fazendo gestos obscenos.  Acabou expulso de jogo e punido pela federação local. Nas redes sociais, desabafou usando a famosa fala de Davis: “Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas”. Postagens como essa têm se repetido em seus espaços na internet. Sua postura talvez espante aqueles que acham que futebol é alienante e os que querem que o jogo de bola e política não se misturem. A atitude do camisa 7, porém, mostra que existe uma grande diferença entre fazer política (o que fazemos todos os dias) e fazer politicagem (usar alguma questão com fins eleitoreiros). A luta contra o racismo, homofobia, misoginia e outros preconceitos, e contra as injustiças etc. são atos politicamente legítimos. E cabem em qualquer campo, inclusive no futebol e nos esportes em geral. Por sorte, Taison não está sozinho. Atletas em diversos países têm se posicionado. No Chile, integrantes de La Roja, a seleção nacional, e de diversos clubes locais apoiaram a população nos protestos, indo às ruas também e se recusando, inclusive, a entrar em campo. Na Escócia, torcedores e jogadores do Celtic reagiram a manifestações fascistas da torcida da Lazio – clube ligado à ultradireita desde sempre – em recentes partidas pela Liga Europa.  Esses posicionamentos resistentes são uma reposta legítima a quem usa o racismo e outros preconceitos como forma de se aproveitar da insatisfação das pessoas, como vem ocorrendo mundo afora. Ao reagir dessa forma ao que ganha força nas arquibancadas e nos arredores dos estádios, Taison respondeu à dúvida levantada por Wianey lá em 2009.  E mais. O guri de Pelotas mostra que é assim que o futebol se torna muito mais do que apenas futebol, como muitos gostam de falar. É o ludopédio indo além das quatro linhas, mostrando que um outro jogo é possível. Que um outro mundo é possível. ___ Jornalista desde 1996, Roberto Jardim pesquisa e produz reportagens independentes misturando futebol, política e história […]

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Roberto Jardim Recentemente o atacante Taison, ex-Inter e atualmente no Shakhtar, da Ucrânia, enfim respondeu a uma provocação feita pelo jornalista Wianey Carlet há dez anos. Em 28 maio de 2009, após atuações brilhantes do guri de Pelotas, em partida do Colorado, e do argentino Lionel Messi, em jogo do Barcelona, o cronista brincava: “Taison ou Messi, o futuro dirá quem foi melhor”. Pois o garoto nascido no bairro Navegantes precisou de pouco mais de uma década para mostra ser, talvez não melhor, mas maior do que o craque argentino, que recentemente ganhou seu sexto prêmio de melhor do mundo. Certamente o camisa 7 não é tão bom com a bola nos pés quanto o 10 do Barcelona. Fora das quatro linhas, porém, tem dado de goleada.  Afinal, não é todo boleiro que cita Angela Davis, Martin Luther King, Malcom X, Ghandi e outros. Para quem não acompanha o futebol, ainda mais o campeonato ucraniano, vale contar que, recentemente, Taison foi vítima de ataques racistas durante uma partida. Ele reagiu, jogando a bola contra a torcida adversária e fazendo gestos obscenos.  Acabou expulso de jogo e punido pela federação local. Nas redes sociais, desabafou usando a famosa fala de Davis: “Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas”. Postagens como essa têm se repetido em seus espaços na internet. Sua postura talvez espante aqueles que acham que futebol é alienante e os que querem que o jogo de bola e política não se misturem. A atitude do camisa 7, porém, mostra que existe uma grande diferença entre fazer política (o que fazemos todos os dias) e fazer politicagem (usar alguma questão com fins eleitoreiros). A luta contra o racismo, homofobia, misoginia e outros preconceitos, e contra as injustiças etc. são atos politicamente legítimos. E cabem em qualquer campo, inclusive no futebol e nos esportes em geral. Por sorte, Taison não está sozinho. Atletas em diversos países têm se posicionado. No Chile, integrantes de La Roja, a seleção nacional, e de diversos clubes locais apoiaram a população nos protestos, indo às ruas também e se recusando, inclusive, a entrar em campo. Na Escócia, torcedores e jogadores do Celtic reagiram a manifestações fascistas da torcida da Lazio – clube ligado à ultradireita desde sempre – em recentes partidas pela Liga Europa.  Esses posicionamentos resistentes são uma reposta legítima a quem usa o racismo e outros preconceitos como forma de se aproveitar da insatisfação das pessoas, como vem ocorrendo mundo afora. Ao reagir dessa forma ao que ganha força nas arquibancadas e nos arredores dos estádios, Taison respondeu à dúvida levantada por Wianey lá em 2009.  E mais. O guri de Pelotas mostra que é assim que o futebol se torna muito mais do que apenas futebol, como muitos gostam de falar. É o ludopédio indo além das quatro linhas, mostrando que um outro jogo é possível. Que um outro mundo é possível. ___ Jornalista desde 1996, Roberto Jardim pesquisa e produz reportagens independentes misturando futebol, política e história […]

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