Parêntese | Reportagem

Um outro mundo ainda é possível?

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Um outro mundo ainda é possível? Quase 20 anos depois da primeira edição do Fórum Social Mundial, encontros que nasceram do debate de contraponto a Davos seguem ocorrendo em Porto Alegre. Mas as grandes multidões não estão mais lá. Adriana Lampert e Thiago Copetti  Em janeiro de 2001, Porto Alegre era a capital mundial da esquerda. Já em sua primeira edição, o Fórum Social Mundial (FSM) atraiu cinco vezes mais pessoas que o previsto: 25 mil participantes de 50 países vieram à cidade, transformada em uma congregação de ativistas, pensadores, políticos, sindicalistas e milhares de jovens idealistas que questionavam os efeitos da globalização. Era uma ponta de esperança para muitos, simbolizada pelo lema que arrebatou corações e mentes: “um outro mundo é possível”. Se tivesse ainda hoje o peso de seu início, não seria difícil imaginar Greta Thunberg voando suas tranças à beira do Guaíba. No decorrer de duas décadas desde então, porém, o evento perdeu fôlego e desidratou. Aos poucos, foi perdendo a fama e o espaço que teve nos noticiários e no rol das personalidades que recebe. Até Porto Alegre saiu de cena: após o evento central ocorrer pela última vez na Capital, em 2005, a direção do FSM decidiu fazê-lo circular por outros países emergentes, provocando uma dispersão de ongs, movimentos sociais e militantes. Mesmo parte da memória se perdeu, quando a secretaria executiva do Fórum mudou para o Marrocos e o registro de edições mais antigas deixou de aparecer na internet. Em 2020, longe do destaque do início do século, Porto Alegre voltou a receber um evento inspirado no FSM: o Fórum Social das Resistências (FSResistências), iniciado no último dia 21 e que chega ao fim neste sábado, é parte de um processo de pequenos encontros internacionais semelhantes que desembocarão no próximo Fórum Social Mundial, previsto para 2021, na Cidade do México. Mudaram o nome, o local e os tempos, e Porto Alegre nunca mais viveu a efervescência que marcou uma geração. Davos ao Sul: contraponto ao neoliberalismo Começou em 2000, com uma reunião entre Raul Pont (PT), prefeito da cidade na época, e o então vice-governador do Estado, Miguel Rossetto (PT). Junto com Pont, o diretor do jornal Le Monde Diplomatique no Brasil, Bernard Cassen, e o ex-empresário Oded Grajew, um dos maiores ativistas em prol da responsabilidade social e empresarial no país, presidente emérito do Instituto Ethos de Responsabilidade Empresarial e da Oxfam (ong inglesa com ação global no combate às desigualdades) no Brasil. Eles tinham uma proposta que, poucos meses mais tarde, iria se consolidar e colocar a Capital no centro da mídia internacional: “a ideia era apoiar o Fórum Social Mundial”, comenta Rossetto sobre a conversa fundadora. A missão, por sua vez, era ambiciosa: ser um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado desde 1971 em Davos, na Suíça. Os dois eventos deveriam acontecer ao mesmo tempo, no mês de janeiro.  Nos salões acarpetados entre os Alpes, os entusiastas do neoliberalismo que vinha ganhando espaço rapidamente nos anos 1990. No Anfiteatro Pôr-do-Sol e nos auditórios universitários de Porto Alegre, […]

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Quase 20 anos depois da primeira edição do Fórum Social Mundial, encontros que nasceram do debate de contraponto a Davos seguem ocorrendo em Porto Alegre. Mas as grandes multidões não estão mais lá. Adriana Lampert e Thiago Copetti  Em janeiro de 2001, Porto Alegre era a capital mundial da esquerda. Já em sua primeira edição, o Fórum Social Mundial (FSM) atraiu cinco vezes mais pessoas que o previsto: 25 mil participantes de 50 países vieram à cidade, transformada em uma congregação de ativistas, pensadores, políticos, sindicalistas e milhares de jovens idealistas que questionavam os efeitos da globalização. Era uma ponta de esperança para muitos, simbolizada pelo lema que arrebatou corações e mentes: “um outro mundo é possível”. Se tivesse ainda hoje o peso de seu início, não seria difícil imaginar Greta Thunberg voando suas tranças à beira do Guaíba. No decorrer de duas décadas desde então, porém, o evento perdeu fôlego e desidratou. Aos poucos, foi perdendo a fama e o espaço que teve nos noticiários e no rol das personalidades que recebe. Até Porto Alegre saiu de cena: após o evento central ocorrer pela última vez na Capital, em 2005, a direção do FSM decidiu fazê-lo circular por outros países emergentes, provocando uma dispersão de ongs, movimentos sociais e militantes. Mesmo parte da memória se perdeu, quando a secretaria executiva do Fórum mudou para o Marrocos e o registro de edições mais antigas deixou de aparecer na internet. Em 2020, longe do destaque do início do século, Porto Alegre voltou a receber um evento inspirado no FSM: o Fórum Social das Resistências (FSResistências), iniciado no último dia 21 e que chega ao fim neste sábado, é parte de um processo de pequenos encontros internacionais semelhantes que desembocarão no próximo Fórum Social Mundial, previsto para 2021, na Cidade do México. Mudaram o nome, o local e os tempos, e Porto Alegre nunca mais viveu a efervescência que marcou uma geração. Davos ao Sul: contraponto ao neoliberalismo Começou em 2000, com uma reunião entre Raul Pont (PT), prefeito da cidade na época, e o então vice-governador do Estado, Miguel Rossetto (PT). Junto com Pont, o diretor do jornal Le Monde Diplomatique no Brasil, Bernard Cassen, e o ex-empresário Oded Grajew, um dos maiores ativistas em prol da responsabilidade social e empresarial no país, presidente emérito do Instituto Ethos de Responsabilidade Empresarial e da Oxfam (ong inglesa com ação global no combate às desigualdades) no Brasil. Eles tinham uma proposta que, poucos meses mais tarde, iria se consolidar e colocar a Capital no centro da mídia internacional: “a ideia era apoiar o Fórum Social Mundial”, comenta Rossetto sobre a conversa fundadora. A missão, por sua vez, era ambiciosa: ser um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado desde 1971 em Davos, na Suíça. Os dois eventos deveriam acontecer ao mesmo tempo, no mês de janeiro.  Nos salões acarpetados entre os Alpes, os entusiastas do neoliberalismo que vinha ganhando espaço rapidamente nos anos 1990. No Anfiteatro Pôr-do-Sol e nos auditórios universitários de Porto Alegre, […]

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