Parêntese | Quadrinhos em revista

Vinícius Rodrigues: Sampaulo para além do Sofrenildo

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Vinícius Rodrigues: Sampaulo para além do Sofrenildo “O segredo do fracasso é começar”. A frase é extraída do Coach de Fracassos, perfil que possui mais de 600 mil seguidores em diferentes redes sociais, um exemplo curioso do que se produz hoje no humor nacional cuja graça também vem de negar (às vezes de maneira veemente) que se trata de um perfil irônico. O estranhamento causado por frases como a que abre este texto não deveria ser tão maior do que o discurso oposto – aquelas falas motivacionais delirantes de certos palestrantes e especialistas autoproclamados, acostumados a vender por aí fórmulas mágicas de sucesso. A busca pela conquista, pela fama ou pela realização, especialmente quando exibida aos quatro ventos, também pode ter um quê de patético e de humor involuntário, afinal. Em outra medida, a repetida demonstração do insucesso possui um caráter desviante dentro da lógica de funcionamento da sociedade e, talvez por isso, ela costume despertar o riso. É esse o principal atributo (por assim dizer) de um dos primeiros personagens realmente duradouros dos quadrinhos feitos no Rio Grande do Sul: o azarado Sofrenildo, criado por uma figura fundamental no desenvolvimento do humor gráfico gaúcho – o cartunista Sampaulo (1931-1999).Surgido em 1966, o personagem foi publicado por cerca de 30 anos – 3 décadas sofrendo os mais diversos azares, fossem eles frutos da mera casualidade ou de sua própria teimosia. Seu repertório de atitudes anti-heroicas está associado a um conceito absolutamente simples e eficaz, que é rir da desgraça alheia – algo tão antigo quanto o próprio humor. Sampaulo dizia, justificando a popularidade em torno de Sofrenildo, que “todos nós temos um pouco de sadismo e no fundo talvez até nos comprazemos” com os revezes do personagem em questão; na opinião do autor, sua criação se identificava com os problemas diários dos seus leitores porque suas experiências traduziam situações prosaicas e recorrentes – logo, capazes de serem identificadas pelos espectadores em algum momento de suas próprias vidas.1 Em 1969, Sampaulo chegou a criar Sortêncio, que se opunha frontalmente à sua contraparte azarada, mas que não teve a mesma repercussão e durabilidade. A simpática figura de Sofrenildo, por outro lado, tornou-se um dos primeiros personagens a realmente unir permanência e popularidade nos quadrinhos sul-rio-grandenses. Suas tiras (eventualmente seriadas – outro aspecto pioneiro em meio aos quadrinhos locais) sempre estiveram presentes em jornais importantes do Estado, como Diário de Notícias,Correio do Povo e Zero Hora, e a própria transição entre veículos chegou a ser motivo de suas tiras, como vemos a seguir: Sofrenildo em dois tempos (tiras publicadas, respectivamente, nos jornais Diário de Notícias, em 1º de Maio de 1966, e Correio do Povo, em 14 de Outubro de 1966). Certamente, os episódios tragicômicos das tiras de Sofrenildo foram responsáveis pelo maior reconhecimento de Sampaulo e um de seus legados mais memoráveis. Contudo, essa não foi a sua única herança. Nascido Paulo Brasil Gomes de Sampaio, o artista, primeiramente, resolveu dissociar seu nome do irmão, Sampaio, cartunista da Revista do Globo desde os anos 1940, igualmente responsável por importantes […]

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“O segredo do fracasso é começar”. A frase é extraída do Coach de Fracassos, perfil que possui mais de 600 mil seguidores em diferentes redes sociais, um exemplo curioso do que se produz hoje no humor nacional cuja graça também vem de negar (às vezes de maneira veemente) que se trata de um perfil irônico. O estranhamento causado por frases como a que abre este texto não deveria ser tão maior do que o discurso oposto – aquelas falas motivacionais delirantes de certos palestrantes e especialistas autoproclamados, acostumados a vender por aí fórmulas mágicas de sucesso. A busca pela conquista, pela fama ou pela realização, especialmente quando exibida aos quatro ventos, também pode ter um quê de patético e de humor involuntário, afinal. Em outra medida, a repetida demonstração do insucesso possui um caráter desviante dentro da lógica de funcionamento da sociedade e, talvez por isso, ela costume despertar o riso. É esse o principal atributo (por assim dizer) de um dos primeiros personagens realmente duradouros dos quadrinhos feitos no Rio Grande do Sul: o azarado Sofrenildo, criado por uma figura fundamental no desenvolvimento do humor gráfico gaúcho – o cartunista Sampaulo (1931-1999).Surgido em 1966, o personagem foi publicado por cerca de 30 anos – 3 décadas sofrendo os mais diversos azares, fossem eles frutos da mera casualidade ou de sua própria teimosia. Seu repertório de atitudes anti-heroicas está associado a um conceito absolutamente simples e eficaz, que é rir da desgraça alheia – algo tão antigo quanto o próprio humor. Sampaulo dizia, justificando a popularidade em torno de Sofrenildo, que “todos nós temos um pouco de sadismo e no fundo talvez até nos comprazemos” com os revezes do personagem em questão; na opinião do autor, sua criação se identificava com os problemas diários dos seus leitores porque suas experiências traduziam situações prosaicas e recorrentes – logo, capazes de serem identificadas pelos espectadores em algum momento de suas próprias vidas.1 Em 1969, Sampaulo chegou a criar Sortêncio, que se opunha frontalmente à sua contraparte azarada, mas que não teve a mesma repercussão e durabilidade. A simpática figura de Sofrenildo, por outro lado, tornou-se um dos primeiros personagens a realmente unir permanência e popularidade nos quadrinhos sul-rio-grandenses. Suas tiras (eventualmente seriadas – outro aspecto pioneiro em meio aos quadrinhos locais) sempre estiveram presentes em jornais importantes do Estado, como Diário de Notícias,Correio do Povo e Zero Hora, e a própria transição entre veículos chegou a ser motivo de suas tiras, como vemos a seguir: Sofrenildo em dois tempos (tiras publicadas, respectivamente, nos jornais Diário de Notícias, em 1º de Maio de 1966, e Correio do Povo, em 14 de Outubro de 1966). Certamente, os episódios tragicômicos das tiras de Sofrenildo foram responsáveis pelo maior reconhecimento de Sampaulo e um de seus legados mais memoráveis. Contudo, essa não foi a sua única herança. Nascido Paulo Brasil Gomes de Sampaio, o artista, primeiramente, resolveu dissociar seu nome do irmão, Sampaio, cartunista da Revista do Globo desde os anos 1940, igualmente responsável por importantes […]

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