Entrevista | Parêntese

Luís Artur Nunes: O inventor de um jeito de fazer teatro no Brasil

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Luís Artur Nunes: O inventor de um jeito de fazer teatro no Brasil
Eu já tinha visto montagens do Luís Artur Nunes algumas vezes, era amigo de amigos dele, mas não tinha tido contato direto com ele. Foi quando, uns quatro anos atrás, almoçamos juntos, por mediação da amiga comum Sandra La Porta. Foi uma beleza de conversa (posso acrescentar, para aumentar a aura em torno do caso, que a conversa ocorreu num pequeno restaurante autoral em Paris, no Marais) – e a certa altura eu perguntei pela montagem da lenda da Salamanca do Jarau, de autoria de Simões Lopes Neto. Foi uma experiência radical e inventiva, de que eu tinha notícia segura, e não apenas por ser também um estudioso do autor. Pedi detalhes ao Luís Artur, que é gaúcho, dirigiu teatro em Porto Alegre por anos e depois migrou para o Rio de Janeiro, onde manteve sua carreira de professor universitário na área do Teatro, ao lado do trabalho de encenador.  A horas tantas, ele contou que a peça tinha sido elogiada pelo mitológico encenador paulista Antunes Filho, tido como um dos mais importantes diretores de teatro de vanguarda no Brasil depois dos anos 1970. O Luís Artur, com seu característico olho estalado, ponderou que, bem, era difícil ele dizer aquilo que ia dizer, porque poderia parecer cabotino, mas enfim dizia: sua Salamanca, que se compôs com elementos de variadas matrizes teatrais e marcada pela presença de um narrador em cena, estabelecendo um elo direto entre a tradição popular oral e o teatro culto, sua Salamanca havia sido montada antes do Macunaíma do Antunes, montagem esta que é tida como um divisor de tudo, águas, ares, fogos e terras. O Macunaíma de Antunes foi inventado em 1978, e a Salamanca do Luís Artur nasceu em 1976. O Antunes viu essa montagem em 1977, numa temporada na cidade de São Paulo, e elogiou muito as soluções cênicas, a concepção. “Você inventou um jeito de fazer teatro no Brasil”, disse Antunes ao Luís Artur e a outros presentes. Luís Artur foi megacauteloso nesse relato. Não reivindicou primazia ou coisa assim. Ele sabe bem que as coisas boas são sempre complexas e que é muito difícil fazer essas comparações, essas mensurações. Na província, então, isso é motivo de confusão inútil quase sempre. A tese de “Qorpo-Santo como precursor do Teatro do Absurdo” é o exemplo maior dessa confusão entre precedência temporal e influência estética. Mas o que importa é contar essa história – essa e outras, que o Luís Artur protagonizou com muito talento.  Mas que o Antunes viu a Salamanca do Luís Artur antes de fazer seu magnífico Macunaíma, disso não há dúvida. Nem se pode negar que Antunes Filho viu, na montagem gaúcha, soluções narrativas e cênicas que depois ele mesmo explorou, na transposição de um relato narrativo canônico (ainda mais para os paulistas) para o palco. A entrevista que segue não se cinge ao caso da Salamanca – mas ele tem importância grande, tanta que é o primeiro assunto, tanto que fomos atrás de duas outras figuras daquela montagem, Nara Keiserman […]

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