Artes Visuais | Reportagens

Bruno Gularte Barreto ressignifica memórias em “5 Casas”

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Bruno Gularte Barreto ressignifica memórias em “5 Casas” Foto: Bruno Gularte Barreto

Fruto de uma pesquisa iniciada em 2015, a exposição 5 Casas, de Bruno Gularte Barreto, integra a programação de reabertura do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), que volta a receber visitantes mediante agendamento prévio. A mostra revela a busca do artista por novos significados para experiências da infância em Dom Pedrito (RS), cidade onde Barreto nasceu e que ele abandonou após a morte dos pais – primeiro a mãe, depois o pai, num intervalo de cinco anos.

Quando deixou a casa dos primeiros anos de vida, Barreto e seus dois irmãos armazenaram objetos e fotografias em um galpão, na fazenda do avô. Vinte anos depois, uma ventania arrancou parte do telhado que abrigava o espólio. “Foi então que eu precisei voltar lá. Para abrir essas caixas e lidar com essas coisas. Mas, para minha surpresa, quando voltei, não encontrei só essas caixas. Acabei reencontrando a cidade onde nasci. E as pessoas que eu deixei para trás quando fui embora. Parecia que elas estavam lá, guardadas no escuro todos esses anos. Esperando eu voltar”, conta Barreto no texto que apresenta a exposição.

Foto: Bruno Gularte Barreto

5 Casas reúne vídeos, fotografias, objetos e depoimentos obtidos por Barreto em visitas a Dom Pedrito. Viabilizada pela Lei Aldir Blanc, a exposição faz parte de um projeto iniciado durante o mestrado do artista no Instituto de Artes da UFRGS e inclui uma exposição já realizada no Centro de Fotografia de Montevidéu e um longa-metragem documental ainda inédito no Brasil – o filme 5 Casas já circulou por eventos internacionais e teve sua estreia no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA), em novembro de 2020.

“Foi um processo de redescoberta. As pessoas me contaram coisas sobre minha infância, meus pais, meu passado que eu sequer lembrava”, conta Barreto. Fragmentos dessas falas podem ser lidos na exposição – remetendo a obras da artista francesa Sophie Calle – em relatos de pessoas que eram próximas do artista, moradoras das casas que intitulam o projeto.

Em dois depoimentos, Barreto compila versões distintas sobre o dia em que sua mãe faleceu, um entre tantos elementos da pesquisa que abordam os complexos caminhos da memória. Em outros, lembranças de preconceitos enfrentados na cidade vêm à tona. Os testemunhos dão conta das dores e do rancor, nas palavras do artista, associados à infância em Dom Pedrito. Entretanto, à medida que retornava à cidade e interagia com seus habitantes durante o projeto, Barreto começou a ressignificar parte desses sentimentos.

“As pessoas não são monstros ou vilões como minha mente infantil recordava. Senti a necessidade de desfazer um pouco esses preconceitos, mostrando essas pessoas e construindo uma narrativa menos contaminada pelas minhas memórias”, conta Barreto. Essa busca ganha forma numa série de videorretratos que apresenta habitantes de Dom Pedrito em seus ambientes cotidianos. As imagens, captadas em parceria com o fotógrafo Tiago Coelho, somam-se às colaborações do artista Filipe Camargo – que pintou aquarelas dos entrevistados do projeto – e das equipes que filmaram o vídeo Um Galpão, que integra a mostra, e o longa-metragem 5 Casas.

Foto: Bruno Gularte Barreto

Enquanto a exposição segue em cartaz no MARGS, Barreto trabalha na concepção de um livro sobre o projeto. Quando o longa 5 Casas for lançado no Brasil e a pandemia permitir, o artista pretende exibir o filme em Dom Pedrito para compartilhar suas memórias, debater temas que vieram à tona durante a pesquisa – da LGBTfobia aos elevados índices de câncer entre os habitantes da cidade – e colocar em evidência as narrativas de seus entrevistados – três deles, já falecidos: “Essas pessoas sempre foram ‘os esquisitos’, cada um a seu modo. Dar voz a elas nessa cidade onde foram tão apagadas é muito importante, só não tive a oportunidade de fazer isso ainda”.

Exposição 5 Casas, por Bruno Gularte Barreto

Onde: MARGS (Praça da Alfândega, s/n – Centro Histórico – Porto Alegre)

Visitação: conforme a legislação vigente, neste primeiro momento o MARGS reabre para visitação mediante agendamento prévio nas modalidades “Visita presencial sem mediação” e “Visita presencial com mediação”, que deve ser feito pela plataforma Sympla. De terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso às 18h), sempre com entrada gratuita. No caso da “Visita presencial com mediação”, serão duas faixas de horários, para grupos de até seis pessoas: das 11h às 12h, e das 14h às 15h, de terça-feira a sábado.

A mostra integra o programa expositivo “Poéticas do Agora”, dedicado a artistas cuja produção recente tem se mostrado promissora e relevante no campo artístico contemporâneo.

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