Os “365 Monstros” de CeloPax
Ao longo de 2021, CeloPax aproveitou a rotina caseira da pandemia para colocar seus monstros no papel. Conhecido por grafites que colorem ruas e bares de Porto Alegre, no ano passado o artista explorou diariamente a técnica da aquarela para reunir suas criações no livro 365 Monstros, que será lançado neste sábado (18/6), às 19h, no Agulha – entrada gratuita.
A ideia de desenhar todos os dias já vem de algum tempo. Em outros dois momentos na última década, CeloPax se dispôs a esse desafio, mas somente em 2021 atingiu a disciplina necessária para concluir a tarefa. Em 1º de janeiro do segundo ano da pandemia, o artista começou a série de aquarelas em papel 10×15 cm que terminaria em 31 de dezembro para ser digitalizada e transformada em livro.
“Não era uma técnica em que eu tinha me aprofundado até então. É um trabalho muito minucioso. Fui adquirindo conhecimento durante o ano”, conta o autor do projeto, destacando também o processo de adaptação de seus desenhos à escala reduzida do papel, na comparação com os muros e paredes onde habitualmente usa spray. Na visão de CeloPax, o principal aprendizado da empreitada foi descobrir a possibilidade de criar um trabalho “de grão em grão”, a longo prazo, para colher mais tarde o resultado.
As aquarelas que integram o livro 365 Monstros apresentam centenas de variações de criaturas que CeloPax vem pintando há mais de uma década. Ele conta que a inspiração das figuras vem de seu interesse por desenho animado, mas deixa as interpretações sobre os personagens em aberto para a fabulação de leitores e transeuntes.
No texto que acompanha os desenhos, o arquiteto Leonardo Brawl Márquez destaca o modo como os monstros de CeloPax ganham forma no livro: “Há uma busca em loop para achar maneiras de pensar sobre a identidade de uma figura que se repete muito (de diversas maneiras) e que torna constante o exercício de imaginar e exercitar diferenciações”. “Tais características, imersas em um projeto anual, em meio a um contexto de pandemia, demandaram o desenvolvimento e aprimoramento de uma rotina com ares ritualísticos e terapêuticos”, completa Márquez – que será o DJ no lançamento do livro no Agulha.
Na conversa sobre sua trajetória, CeloPax conta que, na pré-adolescência, já apaixonado por desenhos animados, passou a admirar os pixos nas ruas de Porto Alegre. O pequeno Marcelo Saraiva, hoje com 36 anos, se perguntava: por que as pessoas escrevem nas ruas? “Não sei por que isso me pegou, mas me intrigava muito.”
Em outro momento marcante de quando começava a se tornar CeloPax, no início dos anos 2000, foi arrebatado por um grafite numa loja de roupas. Perguntou à equipe da loja quem era o autor. No contato com o grafiteiro, ficou sabendo de uma oficina pública de grafite no Centro Municipal de Cultura, na avenida Erico Veríssimo, em Porto Alegre, onde pôde desenvolver as técnicas que o fascinavam.
As dificuldades financeiras da família acabaram afastando CeloPax da criação artística por vários anos. Ele teve que deixar de lado as latas de spray e trabalhar como office-boy. Por volta de 2010, abandonou o emprego e se juntou a amigos no ateliê Urbanoide. A partir de então, na troca com outros artistas urbanos, foi conquistando seu espaço. Atualmente, tem seu ateliê-casa na rua Fernando Machado. Desenvolve trabalhos nas ruas, para clientes particulares – principalmente grafite em paredes e fachadas de estabelecimentos, além de ilustrações digitais – e é representado por uma galeria em São Paulo que vende suas telas.
Na noite de lançamento do livro, as pinturas originais estarão à venda no Agulha – no mesmo dia, inicia a comercialização das obras como NFT. CeloPax espera que os monstros em aquarela deixem seu ateliê e passem a habitar outros lares a partir de sábado, reduzindo a quantidade de criaturas que vivem em sua casa. “Já tenho dois gatos bagunceiros”, conta o artista, referindo-se aos parceiros felinos Ruivo e Gaudí, que acompanharam de perto todo o processo em torno de 365 Monstros.
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Lançamento de “365 Monstros”, de CeloPax
Quando: 18 de junho de 2022
Horário: 19h
Onde: Agulha (rua Conselheiro Camargo, 300 – São Geraldo – Porto Alegre)
Entrada gratuita