Artes Visuais | Reportagens

“Coleção Sartori”: MARGS exibe panorama da arte contemporânea brasileira

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“Coleção Sartori”: MARGS exibe panorama da arte contemporânea brasileira Reprodução: "Ginástica da Pele", de Berna Reale

A exposição Coleção Sartori – A Arte Contemporânea Habita Antônio Prado, inaugurada no último sábado (22/1), apresenta um amplo panorama da arte contemporânea brasileira, ocupando todo o primeiro andar do MARGS. Com curadoria de Paulo Herkenhoff, a mostra reúne mais de 250 obras de 114 artistas – confira a lista completa aqui –, pertencentes ao acervo do empresário e colecionador Paulo Sartori, com sede em Antônio Prado (RS).

“Paulo Sartori reuniu conjuntos de obras que permitem discutir e levantar uma agenda sobre as formas de violência na Amazônia, as relações entre identidade e subjetividade, a arte conceitual, uma pintura indisciplinada, o estatuto do objeto, arte e física, entre outros”, analisa o curador da exposição. “O olhar do colecionador estabelece modos de discutir a arte em resposta aos desafios da atualidade”, completa Herkenhoff.

Na mesma linha, o diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol, aponta o papel do colecionismo privado como parte fundamental do sistema de arte: “É nessa compreensão que dar visibilidade às coleções particulares, incentivando sua prática e estimulando seu debate e apresentação pública, é um dos papéis que cabe a instituições culturais e artísticas como o MARGS”.

Pintura de Xadalu na galeria central das Pinacotecas do MARGS. Foto: Ricardo Romanoff

Ao acessar a galeria central das Pinacotecas do MARGS, o visitante depara com a inscrição “Atenção Área indígena”, que toma conta de uma das paredes do museu. A obra faz parte de um projeto homônimo de Xadalu Tupã Jekupé, desenvolvido desde 2005, no qual o artista demarca territórios com esse aviso impresso em cartazes.

A mensagem sinaliza um dos principais eixos da exposição: as reflexões sobre a história do país em processos que vão da violência colonizadora contra os povos indígenas e negros escravizados até o autoritarismo do regime militar. Nesse percurso, obras de Xadalu como os retratos de guaranis mbyá de Seres Invisíveis (2016) estabelecem diálogos com as fotos de ianomamis da icônica série Marcados (1983-2018), de Claudia Andujar, e as criações da parteira Maspã e do pajé Dua Buse, ambos do povo Huni Kuin, que vivem às margens do rio Jordão, no Acre.

Artistas como Leandro Machado, com obras como De Quem É o Corpo de Quem Pode Ser Torturado (2017), e Elian Almeida, com Tia Porcilliana – Vogue Brasil (2021), colocam a população negra como protagonista, apropriando-se de símbolos do capitalismo e do Ocidente. Outra apropriação em destaque é uma obra sem título, de 2021, do artista Camille Kachani, que faz brotar uma planta do quadro Mulher Africana (1641), do pintor holandês Abert Eckhout, que esteve no Brasil no século 17 a serviço de Maurício de Nassau.

Em Da Cabeça às Costas, Helô Sanvoy trança couro de boi e mechas de seu cabelo para produzir um chicote. Aludindo ao trabalho escravo de ontem e de hoje, o vídeo e o resultado desse processo são apresentados lado a lado na galeria central do primeiro andar do MARGS. Junto ao trabalho de Sanvoy, o babalorixá e artista Moisés Patrício celebra sua ancestralidade e vínculo com a religiosidade de matriz africana em Álbum de Família (2020).

“Bola” (2018) e “De Quem É o Corpo que Pode Ser Torturado?” (2017), de Leandro Machado. Foto: Ricardo Romanoff

“Tia Porcilliana – Vogue Brasil” (2021), de Elian Almeida. Foto: Ricardo Romanoff

Abordando o encarceramento massivo motivado por preconceito racial – entre outras formas de discriminação –, o vídeo Ginástica da Pele (2019), de Berna Reale, reúne dezenas de jovens com idade entre 18 e 29 anos – média da população carcerária brasileira – em uma performance na qual o grupo é submetido a exercícios físicos comandados por uma policial interpretada pela artista. Outra obra de Reale presente na mostra é Palomo (2012), em que a artista novamente se veste de policial – dessa vez, montada em um cavalo pintado de vermelho.

Reprodução: “Ginástica da pele”, de Berna Reale

Em Retrato Oficial (2017), Rafael Pagatini apresenta fragmentos de fotos dos presidentes militares (1964-1985) impressas sobre pregos de aço, propondo reflexões sobre a construção das imagens de mandatários do Estado. As abordagens em torno de diferentes dimensões da história e da política incluem ainda, entre outras obras, litografias de Glauco Rodrigues, de 1979, Resistência I (2017), de Camila Soato, e Mapa Mole (2019), de Marina Camargo.

“Mapa Mole” (2019), de Marina Camargo. Foto: Divulgação MARGS

Geração 80, Pop Art gaúcha e quebra-cabeças de imagens

A exposição apresenta a atualidade da produção de artistas da Geração 80 de diversos estados do país, como Adriana Varejão, Angelo Venosa, Iran do Espírito Santo e Luiz Zerbini, e com atuação a partir do Rio Grande do Sul, incluindo Carlos Pasquetti, Elida Tessler, Fernando Lindote, Frantz, Karin Lambrecht, Lia Menna Barreto, Maria Lúcia Cattani, Mário Röhnelt, Milton Kurtz e Mauro Fuke.

“Tintas Polvo” (2013), de Adriana Varejão. Foto: Vicente de Mello

“Sem Título” (1982), de Mário Rohnelt. Foto: Divulgação MARGS

Na Sala Aldo Locatelli, os ecos da Pop Art no Rio Grande do Sul são exibidos em obras de artistas como Carlos Vergara, Glauco Rodrigues, Leo Fuhro e Zoravia Bettiol, que a partir dos anos 1960 apresentaram suas leituras de procedimentos em evidência desde a década anterior no hemisfério Norte.

Vídeo da série “Espelho / El Mensajero” (2019), de André Severo, nas Salas Negras do MARGS. Foto: Ricardo Romanoff

[Continua...]

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Foto: Guilherme Lund
 
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