Artes Visuais | Reportagens

“80’s”: Fundação Vera Chaves Barcellos lança olhar para artes visuais dos anos 1980

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“80’s”: Fundação Vera Chaves Barcellos lança olhar para artes visuais dos anos 1980 Foto: Leopoldo Plentz

Inaugurada no último sábado (19/3) na Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB), em Viamão, a exposição 80’s exibe obras de 38 artistas produzidas nos anos 1980. Com ênfase na pintura, a mostra inclui também trabalhos em colagem, desenho, escultura, gravura, serigaria e vídeo.

Foto: Leopoldo Plentz

Com curadoria de Vera Chaves Barcellos, fundadora da instituição, a exposição reúne, logo na entrada da Sala dos Pomares, duas pinturas em telas elípticas da série Macios, de Anna Bella Geiger, uma pintura sobre papel de Iberê Camargo e a serigrafia Símbolos, do baiano Rubem Valentim, com figurações geométricas inspiradas em iconografias da cultura afro-brasileiras.

Ainda no térreo do espaço expositivo, destaque para a intensidade das cores e traços de Elida Tessler, Karin Lambrecht e Frantz e os tons ocres e monocromáticos de dois trabalhos em técnica mista de Elaine Tedesco. A sala reúne ainda, entre outras obras, pinturas de Alfredo Nicolaiewsky e Maria Tomaselli e duas esculturas de Patricio Farías.

Foto: Leopoldo Plentz

No mezanino, uma colagem de Mario Röhnelt dialoga com as cores em tinta acrílica de Milton Kurtz e o ritmo das variações cromáticas de Ione Saldanha. Também são apresentados dois trabalhos de Maria Lídia Magliani – que tem exposição atualmente em cartaz na Fundação Iberê –, uma litogravura de Antonio Dias e duas gravuras em metal Maria Lucia Cattani, além de obras do espanhol Rufino Mesa, do inglês Michael Chapman e de outros artistas, incluindo Vera Chaves Barcellos, com Capitel em Vermelho, que aborda a destruição das missões jesuíticas no RS.

Foto: Leopoldo Plentz

De volta ao térreo, uma das salas abre espaço para obras em vídeo de Lenora de Barros, Romanita Disconzi e de uma colaboração entre Elaine Tedesco, Lucia Koch e Marion Velascorelembre a matéria sobre o Estúdio 88, do qual as três artistas fizeram parte.

Foto: Leopoldo Plentz

As experimentações audiovisuais dão pistas da continuidade das mostras da FVCB, que pretende seguir investigando os anos 1980 no segundo semestre. “Pensamos em colocar na exposição 80’s, além de pintura, escultura e obras gráficas, também arte postal, arte-xerox, livros de artista, documentação de performances, e muito de videoarte, mas não foi possível já que esse material é tão vasto em nossa coleção que obrigatoriamente ficou para uma próxima mostra”, explica Vera Chaves Barcellos – leia a entrevista a seguir.

A pluralidade das artes visuais no Brasil dos anos 1980 reflete um contexto de transformações, como destaca o historiador da arte José Francisco Alves no texto de apresentação de 80’s: “O artista experimental, pop e sob censura dos anos 70 se transformou, nos 80, em um novo artista, mais profissional. Isso foi resultado de alguns fatores: o incremento da arte universitária (e mais aberta), o mercado e suas inúmeras galerias, a efervescência cultural, a criação do Ministério da Cultura e o posterior surgimento de inúmeras instituições”.

“A pintura, antes ‘com os dias contados’, se apresenta renovada, visceral, focada no mundo material das superfícies, com pinceladas vigoras e cores intensas. A escultura, com nova visibilidade, múltiplas formas e materiais não tradicionais. A década de 80 começou analógica e terminou com os primeiros experimentos digitais – o pixel como arte e a imagem em movimento acessível à ampla gama de artistas”, completa Alves, descrevendo o papel ocupado nos anos 1980 pelas linguagens em destaque na exposição.

Atividades do Projeto Educativo da FVCB serão retomadas em 2022

Fundada em 2005, a FVCB possui acervo com mais de 4 mil obras – mil delas integrando a Coleção Vera Chaves Barcellos e 3 mil da Coleção Artistas Contemporâneos – e um Programa Educativo, que será retomado em 2022, após dois anos de paralisação por conta da pandemia de covid-19.

Para este ano, também estão previstos dois encontros de formação, ainda no primeiro semestre, sobre a exposição 80’s, e uma visita guiada à mostra, no dia 21 de maio, integrando a programação da 20ª Semana Nacional dos Museus, promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).

Em Porto Alegre (6º andar da avenida Julio de Castilhos, 159), a FVCB mantém o Centro de Documentação e Pesquisa (CDP). Inaugurada em 2008, a iniciativa recebeu o Prêmio Açorianos de Artes Plásticas de 2019 como destaque em acervos. Os arquivos do CDP reúnem mais de 7 mil documentos relacionados à atuação de Vera Chaves Barcellos, do grupo Nervo Óptico (1976-1978), do Espaço N.O (1979-1999) e da galeria Obra Aberta (1999-2002), além de materiais doados pela comunidade artística. A visitação deve ser agendada pelo e-mail a [email protected].

Leia a entrevista com Vera Chaves Barcellos.

Como a FVCB lidou com a pandemia nos últimos dois anos?

A pandemia limitou bastante nossas atividades. Em 2020, tínhamos já totalmente montada a exposição Muntadas/Silveira, em meados de março, quando houve o primeiro lockdown. A coisa se prolongou de tal maneira que só fomos abrir a exposição em outubro. Foi uma das exposições mais caras para a Fundação que fizemos, com uma excelente qualidade, mas vieram finalmente apenas 80 pessoas. O nosso programa educativo se resumiu a postagens didáticas na rede, mas nada de visitação de professores e de escolares em 2020, tampouco em 2021. Tivemos um pouco mais de público em 2021, e mostrei uma individual minha: Inéditos e Reciclados.

Grande parte das obras presentes em 80’s pertence ao acervo da FVCB. Como se dá atualmente o trabalho em torno desse acervo e qual o foco das coleções?

O nosso acervo começou há longo tempo, isto é, primeiro com trocas com outras e outros artistas, desde os anos 1960 e, pouco mais tarde, com aquisições. Isso é, muito antes de qualquer ideia de formação de uma coleção. A instituição da Fundação, até chegar como ela é hoje, foi evoluindo a partir da oportunidade que tivemos de adquirir um Bicho, de Ligia Clark, obra da década de 1960. Foi como um marco para a tomada de consciência de que estávamos começando realmente a colecionar obras de arte. O foco de nossa coleção seria difícil de definir, já que abrange um amplo espectro do que chamamos de arte contemporânea.

Como foi o processo de concepção e curadoria da exposição 80’s? Quais aspectos da produção artística dos anos 1980 a mostra busca destacar?

A ideia de focar a década de 1980 – que fique claro, não é só a chamada Geração 80, mas sim obras produzidas nessa época, por artistas de diversas gerações, também anteriores – foi amadurecendo aos poucos. Antes, pensamos em colocar na exposição 80’s, além de pintura, escultura e obras gráficas, também arte postal, arte-xerox, livros de artista, documentação de performances, e muito de videoarte, mas não foi possível já que esse material é tão vasto em nossa coleção que obrigatoriamente ficou para uma próxima mostra.

Então decidimos focar mais em pintura e escultura, que tiveram um desenvolvimento extraordinário nesse período. Tivemos a ocasião, no ano passado, de adquirir cinco obras de pintoras e pintores brasileiros, produzidas nessa década, o que fortaleceu a ideia de abordar essa produção. Colocamos algo de vídeo experimental como um pequeno toque do que também foi produzido na época.

Numa perspectiva mais pessoal, quais as principais impressões que você tem, como artista, daquela década?

[Continua...]

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