Artes Visuais | Notas

Um pedaço do universo de Clarice Lispector na Fundação Iberê

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Um pedaço do universo de Clarice Lispector na Fundação Iberê Foto: Imprensa Fundação Iberê/Divulgação

A família de Clarice Lispector doou à Fundação Iberê a gravura Figura I (1973), um presente de Iberê Camargo ao filho da escritora, Paulo Gurgel. A obra passa a integrar o acervo da instituição no ano do centenário de nascimento da escritora (10 de dezembro de 1920) e, também, dos seus 43 anos de morte (9 de dezembro de 1977).

“A gravura foi presente de meu casamento que Iberê Camargo, gentilmente, ofereceu em abril de 1976. E com o passar do tempo, tanto Clarice como Iberê pertencem ao Brasil, portanto, não poderia ficar com este documento histórico. Quero muito visitar a Fundação, pois gosto muito de Porto Alegre, do Rio Grande, e, como já mencionei, Érico Veríssimo e Mafalda foram meus avós de fato”, diz Gurgel.

Além de ser um dos nos nomes mais importantes da literatura brasileira, Clarice tinha nas artes uma de suas grandes paixões. “Quem sabe escrevo por não saber pintar?”, dizia. 

Em meados da década de 1970, ela pintou 22 quadros que, atualmente, integram o acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa e do Instituto Moreira Sales (IMS) e estão reproduzidos no livro Clarice Lispector Pinturas, do português Carlos Mendes de Sousa, um dos maiores especialistas do mundo na obra da escritora. O autor apresenta a existência de dois movimentos em relação às pinturas: a fuga e a concentração e as linhas em desordem, mostradas por tensões frequentes em suas telas, como se a escritora-pintora estivesse em jogo de espelhamento, aproximando seus traços de pintura aos traços da escrita. 

As obras geram curiosidade, principalmente para aqueles que conhecem a escrita da autora. Os títulos também são instigantes e precisam da total entrega do espectador, como: Escuridão e luz: centro da vida (1975), Cérebro adormecido (1975), Explosão (1975), Luta sangrenta pela paz (1975), Pássaro da liberdade (1975), Tentativa de ser alegre (1975), Medo (1975) e Caos, metamorfose, sem sentido (1975).

Assim como na escrita, na pintura a autora deixava fluir os sentimentos. Não se preocupava com acabamentos perfeitos, mas sim em extravasar o que sentia. As telas ganharam vida durante uma crise criativa, como ela mesma afirmou em entrevista: “Quanto ao fato de escrever, digo – se interessa a alguém – que estou desiludida. É que escrever não me trouxe o que eu queria, isto é, a paz (…) O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. (…) É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço”. Por outro lado, Clarice fazia questão de afirmar sua incompetência técnica: “Pinto tão mal que dá gosto!”.

Entre seus artistas favoritos, Iberê Camargo. Eles se conheceram no meio artístico do Rio de Janeiro, que contava ainda com nomes, como Carlos Scliar, Burle Marx, Bruno Giorgi e Aluizio Magalhães. “Eram todos vizinhos. Inclusive, Clarice escreveu diversos textos para catálogos de pintores”, recorda o filho da escritora. 

Clarice Lispector, uma das mulheres que marcaram a trajetória de Iberê Camargo, ganhará espaço na timeline da exposição O Fio de Ariadne. Mais informações sobre a mostra, clique aqui

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