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A revelação de Bruce Springsteen

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A revelação de Bruce Springsteen
Se cinebiografias musicais como as recentes Bohemian Rhapsody (2018) e Rocketman (2019) podem tanto já nascer consagradas ou renegadas pelos fãs dos artistas retratados – uma legião geralmente muito ciosa quanto à representação de seus ídolos -, filmes que apenas se inspiram e homenageiam a obra de grandes músicos e bandas costumam contar com uma adesão popular mais incondicional. É o caso, por exemplo, de Mamma Mia! (2008) e, neste ano, de Yesterday (2019) e A Música da Minha Vida (2019) – este último filme, em cartaz no país desde o dia 19 de setembro. Baseado no livro de memórias Greetings from Bury Park: Race, Religion and Rock N’ Roll, do jornalista de origem paquistanesa Sarfraz Manzoor, A Música da Minha Vida conta a história de um adolescente que mora em uma cidadezinha britânica no final dos anos 1980, que inesperadamente encontra tradução para suas ambições de transcender a vida insatisfatória e limitada nas músicas de um roqueiro norte-americano: Bruce Springsteen. A diretora Gurinder Chadha volta no filme a temas recorrentes em sua filmografia, como busca de identidade, dores de amadurecimento e conflitos culturais – presentes em títulos como Driblando o Destino (2002), comédia dramática estrelada por Keira Knightley, sobre uma garota britânica de origem indiana que desafia os pais conservadores com sua paixão por jogar futebol. Em A Música da Minha Vida, o adolescente Javed (Viveik Kalra), filho de paquistaneses, vive os dramas característicos da idade e comuns a levas de garotos do passado e do presente: o sentimento de incompreensão e isolamento, a falta de traquejo com as meninas, o bullying dos colegas de escola babacas, as incertezas quanto ao futuro. Soma-se ao kit usual da sofrência juvenil de Javed agravantes como o fato de crescer na provinciana cidade inglesa de Luton na era Thatcher, em meio a uma crise econômica que abate em especial a classe trabalhadora, e enfrentar diariamente a xenofobia na rua e a rigidez do pai dentro de casa, que conduz a família de forma estrita às tradições paquistanesas. Javed quer ser poeta e escreve letras para a banda tecnopop de um amigo vizinho. Mas em 1987, no ambiente provinciano e proletário em que circula o protagonista, a cultura jovem está dominada por música feita com sintetizadores, cortes de cabelo esquisitos e roupas coloridas com ombreiras – não há espaço para as angústias de um rapaz sonhador de pele escura e ascendência asiática. Um novo mundo, no entanto, literalmente se abre para Javed quando um colega de escola lhe passa um par de fitas cassete – alguém aí se lembra disso? – com discos do começo da carreira de Bruce Springsteen, de meados dos anos 1970. Depois de vencer o descrédito inicial – na época, “The Boss” já não mandava mais da mesma forma nas paradas de sucesso e era considerado ultrapassado pela nova geração -, o personagem decide escutar as fitas. Acontece então a epifania: as canções sobre perdedores em busca de uma segunda chance e apaixonados desesperados para fugir de suas rotinas […]

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