Artigos | Marcelo Carneiro da Cunha | Série

As mulheres mandando no mundo

Change Size Text
As mulheres mandando no mundo Netflix/Divulgação

Parece que, finalmente, metade do mundo resolveu que está mais do que na hora de ele deixar de ser ser o clube exclusivamente masculino que ele sempre foi e virar uma outra coisa, que a gente ainda não sabe diretamente como vai ser, mas vai ser definida cada vez mais pelas mulheres. Bem vindo ao maravilhoso mundo novo.

Uma das demonstrações de como o mundo está mudando vem da enorme quantidade de séries e filmes escritos por mulheres, dirigidos por mulheres, tendo mulheres como protagonistas. Um dos exemplos é a série Ginny & Georgia, que está bombando na Netflix.

Ginny é a filha adolescente, a Georgia é a mãe, um pouco mais velha do que Ginny, mas não muito. Existe ainda um Austin nessa família mas, na melhor tradição dos novos filmes de mulheres, ele fica de fora do título.

Ginny tenta acompanhar Georgia enquanto ela se move por boa parte do território americano, normalmente fugindo de alguma coisa que fizeram com ela, ou que ela fez com alguém. Georgia não tem limite algum, e faz o que for preciso para que os filhos, especialmente a filha, não seja como ela. Georgia é uma alma torturada pelo que o passado em geral, e os homens em particular, fizeram, ou tentaram fazer, com ela.

Pela primeira vez em suas vidas elas chegam a um lugar no qual Georgia pretende permanecer. Todos os lugares anteriores foram passagens, não chegadas, e tudo que Ginny mais quer é poder decorar o seu quarto, sinal de poder criar algumas raízes em algum lugar, finalmente. O lugar, dessa vez, é uma cidadezinha perfeitamente perfeita, chamada Wellsbury.

Georgia, a mãe, diz que esse mundo é todo ele criado por homens, para homens. As mulheres não precisam se sentir comprometidas com as regras do mundo, todas elas desfavoráveis às mulheres. As mulheres têm o direito, segundo Georgia, de jogar o jogo que melhor lhes convier. Elas não têm que aceitar nada, e podem tudo.

Por via das dúvidas, Georgia faz mesmo tudo, e por isso mesmo elas se mudaram tantas vezes de cidade, enquanto Ginny crescia. Agora, Georgia decide que está na hora de parar, criar raízes, e terem uma vida, bancada pela bela herança do ex-marido, tragicamente morto por um desses acasos que viúvas se dedicam a construir, de vez em quando.

A primeira coisa que me veio à mente, vendo Ginny & Georgia, foi o deliciosamente bom filme Mermaids, ou Minha Mãe É uma Sereia, acho. Cher faz Rachel Flax, uma Georgia dos anos 1960, e a filha adolescente é Charlotte, maravilhosamente e histericamente criada por Winona Ryder. Como Georgia, Rachel se mantém em movimento, na tentativa de evitar que a vida, consequência de um mundo tão masculino, as atinja e destrua.

Mais atual é o filme Moxie, que acaba de estrear na Netflix, dirigido pela Amy Poehler, em que ela faz a mãe de Vivian, uma garota de 16 anos que acaba criando um movimento de inspiração punk-feminista na escola bem comportada de sua cidade no Oregon.

O que eles têm em comum? O inimigo, ou os homens, em todo o seu solene patriarcado opressivo, que não será superado senão pela transformação das mulheres, especialmente as mais jovens, em generais e guerrilheiras.

Ginny & Georgia se faz ver muito bem, com atuações no ponto, talento de sobra e os diálogos inteligentes que se tornaram mais ou menos default em toda a produção contemporânea americana e inglesa.

Um detalhe nada feminista é que Ginny comete uma piada usando o santo nome de Taylor Swift, que não gostou e colocou a boca no trombone. Na minha opinião, Taylor Swift tem toda a razão. Por uma piada ruim, as escritoras de Ginny & Georgia se aliaram com a prática masculina de obter alguns risos à custa da vida amorosa de uma mulher que nada tinha a ver com a história. O patriarcado, ladies and gentlemen, ele nos cerca por todos os lados, e quando menos se espera, nhoque.

Eu sou homem, pai de um menino, que eu espero sinceramente cresça menos patriarcal do que eu posso ter sido. A gente senta juntos pra ver Clube das Babás, que é muito bom, e ele curte muito séries com garotas mandando ver. Eu acho que as mulheres estão ocupando o mundo pra valer, e eu acredito que essa é a única maneira de a gente se livrar de boa parte da masculinidade tóxica que tanto atrapalha a todos.

Ver Ginny & Georgia, Moxie, Mermaids é uma boa forma de se ir adiante. Se eu fosse vocês via.

Fica a dica.

RELACIONADAS
PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?