Artigos | Marcelo Carneiro da Cunha | Série

Alien x Predador

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Alien x Predador Foto: Netflix/Divulgação

Bárbaros é um sucesso na Netflix e vale a pena ver, não sem antes improvisar algum sistema de proteção pra todo o sangue que rola na tela de tempos em tempos. Mas, estamos falando de barbárie e, portanto, é natural que as coisas não sejam exatamente uma Brastemp, em termos de higiene corporal e visual. Barbárie não é um produto Boticário, perfumado e em belas embalagens. Barbárie é, ora vejam, bárbara.

Pelo menos isso é o que os romanos achavam. Como no caso de praticamente todos os impérios, civilizados são eles, e o resto é o dilúvio. Particularmente, os romanos eram mesmo pra lá de civilizados, e espalhavam instituições e estradas para onde iam, normalmente melhorando, e muito, o que havia no lugar antes de eles chegarem. Uma das melhores cenas do maravilhoso A Vida de Brian é aquela em que os muitos grupos judaicos de resistência aos romanos começam a listar tudo que não havia até os romanos chegarem – basicamente, tudo.

O problema é que os impérios até se fazem de bonzinhos, mas o que eles querem mesmo é a butique dela. Eles querem dindim, tributos, pagamento em espécie por todos os benefícios que eles trazem, além de alguma admiração por serem tão bacanas. E, lá pelas tantas, alguns dos povos dominados resolvem que não querem mais ser os felizes beneficiários das bondades imperiais, e é nessa hora que nossa série começa.

Os povos germânicos, ocupados por Roma, não estão felizes. Eles não deviam ser muito felizes antes, mas agora, na fase romana, estão bem infelizes. O problema é que eles são muito divididos em tribos que não se entendem muito bem para oferecerem alguma resistência decente. Além disso, o exército romano é, longe, o melhor do mundo e está ali mesmo, pronto pra esmagar qualquer desordem. A infelicidade germânica tenderia a continuar assim mesmo se não fosse a entrada em cena do triângulo amoroso e heroico da nossa história, formado por três amigos de infância: a bela Thusnelda, seu beau, Folkwin, e Ari, filho do rei da tribo.

Ari é levado para ser criado em Roma, o seu pai cede o filho em troca da paz com os romanos, uma escolha daquelas, de Sofia. Os outros dois crescem e se tornam amantes, um tanto ilegais porque Thusnelda foi trocada pelo pai por cinco cavalos, uma fortuna na época. Enquanto o futuro noivo não chega com os cavalos, Thusnelda resolve desbancar praticamente sozinha o império romano. As coisas estão nesse pé quando nosso Ari, agora transformado em Arminius, um oficial romano, volta para ajudar o governador Varus a melhor comandar a Germânia.

Se plotwist chegasse para derrubar império, esse aí estaria condenado, e é disso que a série fala, das idas e vindas dos bárbaros para produzirem uma batalha que machucou, e muito, o Império Romano, que nunca mais controlou para valer a região alemã à leste do rio Reno. A história é real e a batalha de Teutoburg aconteceu mesmo, e mais ou menos da forma que a série mostra.

Uma ironia é que esses bárbaros foram os que terminaram por acabar com Roma, 400 anos mais tarde. Outra ironia é – e se você visitar Colônia, na atual Alemanha, a ironia é a marca mais bela da cidade – a de que esses bárbaros destruidores de impérios se tornaram os construtores de catedrais que nos trouxeram Notre Dame, Chartres, Reims, Colônia, porque civilização é, acima de tudo, circunstância.

Aproveite para ver enquanto os nossos bárbaros locais não destroem a Amazônia e a Netflix. Sabe-se lá,  não é mesmo?

Fica a dica.

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