Artigos | Marcelo Carneiro da Cunha

Sexo e educação

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Sexo e educação
Uma das combinações mais complicadas da história das combinações é a que decide tornar algo tão pouco pedagógico quando o sexo em algo que se ensine a fazer. Pra início de conversa, não deve dar certo. A escola moderna teve que evoluir na mesma proporção em que a família moderna involuiu, de família a um agrupamento de pessoas coabitando espaços cada vez mais reduzidos. Essa familia formada por pai, mãe, ambos profissionais de alguma coisa, com filhos que vêem os pais quando o trabalho permite, se torna bastante limitada na sua capacidade de se comunicar, ou de se ver o suficiente para se comunicar. Essa família adora transferir para a escola o que ela, família, deveria estar fazendo, mas não tem tempo ou vocação pra realizar. Nada mais esquisito do que uma aula de educação sexual, se a gente pensa no assunto. Uma aula dessas é mais ou menos como uma aula de natação, onde não há piscina, água, trampolim ou sequer motivo para se tentar atravessar o que quer que seja. E, no entanto, a pobre da escola precisa encontrar formas de dar conta, de alguma maneira, o que nada, mas nada mais mesmo, faz. Bem-vindos aos nossos tempos. Pois em uma escola de uma cidadezinha no interior da Inglaterra, um adolescente carrega a carga duplamente pesada de ter uma mãe, e ela ser uma especialista em sexo – no sentido acadêmico, ou psicológico, que fique claro. A carga é brutal, e a mãe idem. A naturalidade com que ela encara o sexo é mais ou menos igual à naturalidade com que ela espera que um filho adolescente lide com sexo, o que qualquer um que não seja especialista em sexo sabe que é absolutamente impossível. Como precisamos de um bom argumento acima de qualquer coisa, a série Sex Education, inglesa e da Netflix, encontrou um: o jovem atormentado é cooptado por uma bad girl talentosa e socialmente azarada para uma missão mais possível do que a dos adultos que querem ensinar sexo: ser um adolescente que ensina sexo a adolescentes, e não na prática, mas na teoria. O nosso herói, virgem, passa a oferecer aconselhamento sexual para os colegas, sendo pago para isso, com o dinheiro dividido entre ele e a sua agente. O fato de ele e agente se apaixonarem de forma discreta e inviável é um detalhe do argumento, que vem funcionando lindamente há duas temporadas, e deve ter gás para mais algumas. As sessões de terapia sexual são ao mesmo tempo divertidas, ternas e realistas o bastante para lembrar a todos o que foi começar a ser um ator nessa tragicomédia também conhecida como nossa vida sexual. Nada mais confuso, divertido, triste, assustador, real. Se você quiser ser honesto, e lembrar, vai sentir um carinho especial por esses personagens de Sex Education. Eles são ingleses, e nós tupi. A nossa vantagem é enorme, mas eles são mais cultos e podem elaborar seus traumas de uma forma muito, muito mais educada do que a nossa. As […]

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