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O duelo entre o samurai e o pistoleiro

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O duelo entre o samurai e o pistoleiro Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

Um dos clássicos do cineasta Akira Kurosawa (1910 – 1998) está entrando nesta quinta-feira (17/6) no catálogo da plataforma de streaming Petra Belas Artes à la Carte: Yojimbo, o Guarda-Costas (1961). O filme é um curioso exemplo de como o cinema pode ser uma fonte inesgotável e circular de referências internacionais: para criar sua história de samurai, o diretor japonês inspirou-se no western clássico norte-americano; por sua vez, o filme de ação oriental acabou sendo adaptado para o spaghetti western italiano.

Em Yojimbo – que quer dizer justamente “guarda-costas” em japonês –, Sanjuro (Toshiro Mifune) é um samurai errante que chega a uma cidade rural no Japão do século 19. Depois de saber com o estalajadeiro que a cidade é dividida entre dois gângsteres, ele resolve jogar um lado contra o outro a fim de descobrir quem vai pagar mais por seus serviços. Seus esforços são complicados pela chegada do astuto Unosuke (Tatsuya Nakadai), filho de um dos chefões, que possui um revólver e não se intimida pela habilidade com a espada do audacioso ronin (samurai sem patrão).

Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

Akira Kurosawa foi fortemente influenciado pelo faroeste para criar Yojimbo, particularmente por Matar ou Morrer (1952) e Os Brutos Também Amam (1953). O filme inscreve-se no gênero jidaigeki, de dramas de época que costumam ser ambientados durante o período Edo da história japonesa – entre 1603 e 1868.

O sucesso de Yojimbo no Japão foi tão grande que o projeto seguinte de Kurosawa, Sanjuro (1962), que já estava então em pré-produção, teve de ser revisado para acomodar o personagem-título, interpretado novamente por Toshiro Mifune. Como era típico em sua parceria com o realizador, o compositor Masaru Sato teve apenas uma semana para compor a partitura inteira do filme.

A trilha sonora, aliás, é um dos destaques da produção: Sato foi instruído por Kurosawa a escrever que quisesse, desde que não fosse a música de filme de samurai usual, tão comumente usada por todos os grandes estúdios da época. O japonês acabou criando uma partitura modernista e expressionista, inspirada na obra do grande compositor norte-americano de trilhas cinematográficas Henry Mancini.

Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

Esse espelhamento entre influências artísticas ocidentais e orientais é determinante tanto na origem de Yojimbo quanto em suas posteriores reverberações. Para além da inspiração estilística nos bangue-bangues do cinema, Kurosawa adaptou sem creditar em seu filme as tramas de dois romances policiais noir do escritor Dashiell Hammett: Seara Vermelha e A Chave de Vidro.

Por sua vez, também sem dar o devido crédito, o diretor Sergio Leone inspirou-se em Yojimbo para criar a história de Por um Punhado de Dólares (1964), western antológico estrelado por Clint Eastwood. O japonês acabou processando o italiano e atrasando por três anos a estreia do filme de Leone – que acabou tendo ainda de pagar a Kurosawa 15% dos lucros de seu longa. Já o norte-americano Walter Hill admitiu a inspiração em Yojimbo e creditou Kurosawa em seu thriller mafioso O Último Matador (1996), estrelado por Bruce Willis.

Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

Yojimbo, o Guarda-Costas: * * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Yojimbo, o Guarda-Costas:

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