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“Cravos” revela três gerações de artistas em conflito

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“Cravos” revela três gerações de artistas em conflito Elo Company/Divulgação

Está em cartaz nos cinemas do país o documentário Cravos (2018), de Marco Del Fiol. O filme mostra os conflitos entre três gerações de artistas brasileiros de uma mesma família: Mário Cravo Junior (1923 – 2018), avô e ícone da escultura moderna brasileira; Mário Cravo Neto (1947 – 2009), pai e fotógrafo de renome mundial; e Christian Cravo, neto e fotógrafo em ascensão.

Diretor do documentário Espaço Além: Marina Abramovic e o Brasil (2016), sobre a intensa relação da célebre artista performática sérvia com o país, o diretor Del Fiol apresenta por meio de preciosas imagens de arquivo em Cravos o perfil de três homens unidos pelo sangue e pela arte, mas dilacerados pela natureza selvagem de suas personalidades.

Christian Cravo é o fio condutor do enredo do filme. Após a morte do pai e o início de uma disputa familiar pelo seu acervo, o fotógrafo parte para a África em busca de cura para suas dores.

Christian Cravo. Foto: Elo Company/Divulgação

O filme acompanha Christian em três grandes viagens pelo continente africano: Tanzânia (2012), Uganda (2013) e Namíbia (2014). Durante 20 anos, a carreira do fotógrafo foi pautada pelo ser humano, mas três marcantes acontecimentos em sua vida o fizeram mudar o foco e voltar suas lentes para a natureza selvagem: a morte do pai, Cravo Neto, em 2009, o terremoto no Haiti – país tema de seu livro Jardins do Éden –, em 2010, e a disputa familiar pelo destino do acervo do pai. 

“Se meu pai não tivesse sido fotógrafo, eu dificilmente seria fotógrafo”, afirma Christian. Mas ele procurou um caminho diferente e longe da Bahia, que tanto inspirou o trabalho de Cravo Junior e Cravo Neto: “Não dá para simplesmente fazer algo na esquina de sua casa. Você precisa se aventurar para ir além e tudo o que um artista não quer é se parecer com outro. Muito menos com seus familiares”.

Em busca de cura para suas dores, Christian fotografa na África elefantes, hipopótamos, leões, chimpanzés e o deserto em tempestade, enquanto mergulha em reflexões sobre suas questões familiares e, especialmente, a relação conflituosa com o pai e o avô. “São três homens, pai, filho e neto, mas cada um deles tem sua peculiaridade emocional, e não podia deixar de ser. Mesmo que haja desentendimentos entre os três, isso faz parte da vida”, diz Cravo Junior em entrevista gravada especialmente para o documentário – uma das últimas concedidas pelo escultor.

Christian Cravo em Uganda. Foto: Elo Company/Divulgação

Cravos explora a complexidade desse peculiar núcleo familiar a partir de entrevistas e um vasto e inédito acervo fotográfico e em vídeo da vida privada dos personagens. Enquanto filmava, o realizador Del Fiol encontrou mais de cem horas de gravações feitas por Cravo Neto.

Incapaz de se separar da câmera, Cravo Neto registrou conversas e brigas com os familiares, suas próprias exposições, viagens com os filhos, o casamento de Christian, o ateliê do pai em Salvador e suas experiências de iniciação no candomblé.

O material de arquivo e a trilha sonora original de Benjamin Taubkin costuram as digressões e relatos de Christian e introduzem as outras figuras de seu universo familiar: a mãe Eva, a tia Kadi, a esposa Adriana, as filhas Sophia e Stella, a madrasta Angela e os irmãos por parte de pai Lucas e Akira

Elo Company/Divulgação

Entre a Bahia mítica das tradições religiosas e a África selvagem, o filme apresenta obras emblemáticas dos três premiados artistas, o rigor e radicalidade de seus trabalhos, as relações de poder entre eles e a imensa dificuldade em demonstrar afeto. “Os homens são o que são e não o que desejariam ser”, sentencia Cravo Junior. 

“Mais do que um filme de artista, esse é um filme de família. Me interessava entrar nesse ambiente privado e extremamente complexo, de onde saíram três personagens tão talentosos e intensos”, diz Marco Del Fiol. Para o diretor, o documentário aborda um certo analfabetismo emocional masculino: “É hora de repensarmos o papel do homem, seja pai, filho, avô ou marido, dentro das dinâmicas familiares”.

Foto de Mário Cravo Neto/Divulgação

A chegada de Cravos aos cinemas coincide com a exposição Espíritos sem Nome em cartaz no IMS Rio até abril de 2022. A mostra apresenta a obra do fotógrafo, escultor, desenhista e cineasta Mário Cravo Neto. Nome central da arte brasileira do século 20, o artista criou imagens vibrantes nas quais investigou temas como a religiosidade, a natureza, o gesto e o sagrado.

Concebida em parceria com o Instituto Mário Cravo Neto e com curadoria de Luiz Camillo Osorio, a exposição foca na produção fotográfica do criador – linguagem que consagrou sua carreira. A seleção apresenta as principais séries produzidas ao longo de sua trajetória, entre as décadas de 1960 e 1990. No total, são exibidos cerca de 322 itens, incluindo, além de fotos, vídeos, desenhos, álbuns, documentos e instalações.

Elo Company/Divulgação

Elo Company/Divulgação

Elo Company/Divulgação

Cravos: * * * *  

COTAÇÕES

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Assista ao trailer de Cravos:

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