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Duas perdidas na noite de Fortaleza

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Duas perdidas na noite de Fortaleza Foto: Jorge Silvestre, Vitrine Filmes/Divulgação

Acolhimento, compreensão e ajuda mútua entre mulheres de duas culturas distintas estão no centro de Fortaleza Hotel (2021), que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27/1). O novo filme de Armando Praça – diretor do igualmente sensível Greta (2019) – foi exibido e premiado no 31º Cine Ceará.

Na história, Pilar Clébia Sousa, premiada como Melhor Atriz no Cine Ceará – é camareira num hotel em Fortaleza, mas em breve espera imigrar para Dublin. Mãe muito jovem, a personagem enfrenta problemas com a filha adolescente Jamile (Larissa Góes).

J´á Shin (Lee Young-Lan) vem ao Brasil para buscar o corpo do marido que morreu em Fortaleza, a fim de sepultá-lo na Coreia do Sul. Os trâmites, no entanto, se revelam mais complexos e mais caros do que o esperado. O acaso faz com que as trajetórias de Pilar e Shin se cruzem, despertando uma inusitada identificação entre essas duas mulheres tão diferentes entre si, mas unidas por sentimentos, dores e solidões similares.

Foto: Jorge Silvestre, Vitrine Filmes/Divulgação

O realizador Armando Praça vê nas protagonistas de seu filme duas faces da globalização que explodem em uma Fortaleza repleta de esperança: “A gente tem cada vez mais que se juntar. Porque essas diferenças que foram criadas por diversas ordens, na verdade, estão levando a gente a um colapso ambiental, psicológico, financeiro, a um colapso de saúde pública, todas as naturezas de colapso possível. A gente está degringolando porque estamos nos distanciando uns dos outros por questões ideológicas, políticas, religiosas, econômicas”.

Comunicando-se em um inglês rudimentar, Pilar e Shin encontram uma maneira de se ajudar no momento em que as duas enfrentam dificuldades. “Eu me exercitei vendo filmes falados em inglês com legendas em inglês antes de filmar. Um pouco para me familiarizar com o inglês, para observar a entonação das atrizes, pois eu precisaria entender se aquilo estava dentro da chave correta da emoção”, explica o cineasta.

Fortaleza Hotel conta com o apuro visual da fotografia assinada por Heloísa Passos – que, como o diretor de fotografia Ivo Lopes Araújo já fizera em Greta, aposta nos efeitos das cores contrastantes das luzes noturnas em ambientes fechados, diferentemente da imagem de amplidão solar com que em geral a capital cearense é associada.

Foto: Jorge Silvestre, Vitrine Filmes/Divulgação

“Todas as cenas de rua, noturnas, eu queria filmar como se viesse uma luz por trás do corpo da atriz, ao invés de eu jogar a luz para frente para ver o rosto. Eu via como se ela fosse uma silhueta. Quando a gente filmava na rua, ao invés de acender a gente mais apagou luzes, mas claro que a gente acendeu algumas muito pontuais”, relembra Praça, acrescentando que, antes de rodar seus filmes, coleciona um grande acervo de referências de fotografias e constrói a partir disso um universo visual que lhe servirá de base.

Com roteiro de Isadora Rodrigues e Pedro Cândido, Fortaleza Hotel destaca com delicadeza a improvável empatia surgida entre essas personagens desiguais, que no entanto identificam uma na outra a mesma determinação em seguir em frente, apesar cansaço – ecoando a fortaleza do título para muito além de uma mera referência comercial.

Foto: Jorge Silvestre, Vitrine Filmes/Divulgação

Fortaleza Hotel: * * * *  

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Fortaleza Hotel:

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