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“Klondike” coloca a guerra dentro dos lares ucranianos

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“Klondike” coloca a guerra dentro dos lares ucranianos Pandora Filmes/Divulgação

Poucos filmes têm tanta atualidade como Klondike: A Guerra na Ucrânia (2022), que estreia nesta quinta-feira (5/5). O longa de Maryna Er Gorbach ganhou o Prêmio de Direção para filmes estrangeiros no Festival de Sundance e também levou o Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Berlim deste ano. O drama de guerra tem como cenário a fronteira entre Ucrânia e Rússia, abordando os conflitos que eclodiram na região em 2014 a partir do ponto de vista dos ucranianos.

Embora a trama seja situada em 2014, seus eventos reverberam até hoje com a guerra na Ucrânia em andamento – da mesma forma que Donbass (2019), excelente longa-metragem de ficção do cineasta Sergei Loznitsa que pinta um retrato de caos, desinformação, corrupção e esgarçamento do tecido social na região no leste do país desde aquela época.

Os desastres da guerra em tempos de pós-verdade

Pandora Filmes/Divulgação

Em Klondike, Irka (Oksana Cherkashyna) e Tolik (Sergey Shadrin) vivem em Donetsk, nas proximidades da fronteira entre o país e a Rússia – um território em disputa no começo da Guerra em Donbas. Ela está grávida e se recusa a abandonar sua casa mesmo quando seu vilarejo é tomado pelas forças armadas. Tudo fica ainda mais complicado quando um avião civil é abatido e cai na região, matando quase 300 pessoas, o que só faz aumentar a tensão e deixando um rastro de tristeza e luto.

Tolik é pressionado por seus amigos separatistas pró-Rússia a se juntar a eles, enquanto o irmão de Irka suspeita que o casal esteja traindo o próprio país. Tentando reaproximar o marido e seu irmão, a protagonista pede que eles unam forças para reconstruir sua casa, que foi destruída em um bombardeio.

Pandora Filmes/Divulgação

Nascida na Ucrânia e radicada em Istambul, a diretora Maryna Er Gorbach disse em entrevista ao jornal alemão Zeit que se lembra muito bem do fatídico 17 de julho de 2014, dia do ataque ao avião, porque é seu aniversário: “Eu fiquei o tempo todo procurando anúncios oficiais sobre a queda da aeronave, e ninguém foi responsabilizado pelo lançamento dos mísseis. Passaram-se anos e praticamente nada aconteceu. Foi quando percebi: se algo dessa magnitude não é punido, quem se interessará pelo sofrimento do povo de Donbas?”.

A realizadora conta que em 2014 ninguém esperava uma guerra, e hoje as pessoas recebem avisos para não sair de casa e ficar com as janelas fechadas: “A guerra hoje é chamada por seu nome. A imprensa internacional não duvida mais disso. Em meados de fevereiro, era diferente. Falava-se num ‘conflito’ entre a Rússia e a Ucrânia”. 

Er Gorbach, que também assina o roteiro e a montagem de Klondike, destaca o papel fundamental das mulheres na resistência ao conflito – e, por isso, o longa é dedicado a elas: “O instinto de sobrevivência de Irka é maior na guerra. E essa mensagem me fez dedicar o filme a elas. Num sentido mais amplo, também quer dizer: não há soldado ou matador sem mãe. Há sempre uma mulher por trás deles. Não creio que nenhum homem lutaria por seus valores, por si mesmo. Os homens que lutam na Ucrânia buscam suas forças no fato de terem mães, esposas, filhas”.

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Klondike: A Guerra na Ucrânia: * * * *  

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Klondike: A Guerra na Ucrânia:

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