Entra em cartaz nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (3/2) o aguardado filme mais recente de Pedro Almodóvar. O belo drama Mães Paralelas (2021) rendeu a Penélope Cruz a merecida Coppa Volpi de atuação feminina no Festival de Veneza do ano passado e estará disponível também na plataforma Netflix a partir de 18 de fevereiro.
Em Mães Paralelas, Janis (Penélope), mulher com cerca de 40 anos, e a adolescente Ana (Milena Smit) dividem o quarto de hospital em Madri onde em breve vão dar à luz. Ambas são solteiras e engravidaram por acidente – mas Janis não se arrepende e está exultante, enquanto Ana está assustada, arrependida e traumatizada.
Janis tenta encorajar a jovem, que recebe a visita da mãe, Teresa (Aitana Sánchez-Gijón), uma vaidosa atriz que mantém com a filha uma relação distante. As poucas palavras que Janis e Ana trocam nessas horas vão criar um vínculo forte entre as “mães paralelas”, cujos destinos irão se cruzar novamente por conta dos filhos de ambas.
A trama envolvendo as personagens tem como pano de fundo a história mais ampla da Espanha, colocando em cena a luta nos dias de hoje de descendentes de combatentes e civis mortos pelas forças franquistas durante a Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939), que exigem a exumação dos corpos enterrados anonimamente em valas comuns.
“Eu queria falar dessas duas Espanhas. De um lado, a Espanha republicana, progressista, moderna, que Janis representa. De outro, a Espanha da direita, para quem a reabertura das covas rasas é a reabertura de velhas feridas”, disse Almodóvar depois da exibição de Mães Paralelas no Festival do Instituto de Cinema Americano, em Los Angeles, nos Estados Unidos, em novembro passado.
Pouco antes da pandemia, em março de 2020, o cineasta estava ensaiando na Espanha com a atriz inglesa Tilda Swinton sua versão livre de A Voz Humana, peça de Jean Cocteau, que virou um ótimo curta-metragem exibido no Festival de Veneza daquele ano. Em seguida, começou a pré-produção de Mães Paralelas. “Então, nesse ano e meio de muita dor e tragédia que vivemos no mundo, minha maneira de seguir em frente foi fazer filmes”, disse o diretor espanhol. Como costuma fazer em seus filmes, Almodóvar já tinha dado antes uma pista de Mães Paralelas: um pôster do longa aparecia ao fundo em uma cena de Abraços Partidos (2009) – na época, o roteiro da história de Janis e Ana estava apenas esboçado.
Depois de mergulhar nas lembranças de um cineasta a fim de recapitular as mudanças na cultura e no comportamento da Espanha nos estertores do franquismo e após o fim do regime fascista no ótimo Dor e Glória (2019), Almodóvar volta a abordar com sensibilidade o universo feminino, central em sua obra, em Mães Paralelas. No filme, a relação entre os dramas pessoais e o contexto histórico – que pode parecer às vezes um tanto gratuita no enredo – encontra um ponto de conexão coerente e forte no dilema de Janis, cuja angústia sofrida por conta do segredo que guarda consigo, da mesma forma que a traumática fratura política e social espanhola de mais de 85 anos, só pode encontrar superação por meio da verdade.
Mães Paralelas: * * * *
COTAÇÕES
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