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“O Beco do Pesadelo” acusa a fera dentro do homem

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“O Beco do Pesadelo” acusa a fera dentro do homem Disney/Divulgação

Um dos realizadores mais prestigiados da atualidade, Guillermo del Toro volta a brincar com o cinema de gênero em O Beco do Pesadelo (2021). Mistura de film noir, terror e drama, a requintada produção de época entra em cartaz nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27/1).

Ambientado na virada dos anos 1930 para os 1940 e ecoando os primórdios da II Guerra no cotidiano dos Estados Unidos, O Beco do Pesadelo acompanha a trajetória errática de um sujeito de passado misterioso – que começa o filme incendiando uma casa com um corpo dentro e vagando até topar com uma trupe de artistas de parque diversões. O silencioso Stanton Carlisle (Bradley Cooper) acaba integrando-se ao grupo itinerante, que inclui o sádico tratador Clem (Willem Dafoe), que apresenta um cruel show com um homem selvagem enjaulado, e a bela Molly (Rooney Mara), estrela de um número com eletricidade por quem o protagonista se apaixona.

Stan também aproxima-se da vidente Zeena (Toni Collette) e de seu marido Pete (David Strathairn), parceiros de uma performance em que um engenhoso sistema de sinais codificados que engana o público, fazendo parecer que a mulher possui poderes mentais extraordinários. Aos poucos, os truques de Pete vão sendo assimilados por Stan, que descobre seu extraordinário dom de iludir – o que o leva a fugir com Molly para tentar a sorte como mentalista.

Disney/Divulgação

Anos depois, o casal tornou-se um sucesso apresentando um show de adivinhação em um clube da moda para a elite de Nova York. Confrontado pela psiquiatra Lilith Ritter (Cate Blanchett), que tenta desmascará-lo, Stan acaba se juntando à enigmática mulher em um plano para aplicar golpes em milionários crédulos nos poderes sobrenaturais do charlatão.

Como em A Forma da Água (2017) – ganhador de quatro Oscar, incluindo os prêmios de melhor filme e direção –, o mexicano Guillermo del Toro cria em O Beco do Pesadelo uma requintada e noturna fábula sobre os limites precários entre pureza e perversidade, humanidade e bestialidade. O diretor, roteirista e produtor volta a questionar a raiz da maldade, mostrando como o homem pode ser uma força destrutiva mais temível que qualquer criatura – mesmo as sobrenaturais e demoníacas, no caso de títulos anteriores do cineasta como A Espinha do Diabo (2001) e O Labirinto do Fauno (2006).

O Beco do Pesadelo é inspirado no livro O Beco das Ilusões Perdidas, romance do escritor norte-americano William Lindsay Gresham (1909 – 1962) lançado agora no Brasil pela Editora Planeta – e já levado às telas em 1947 pelo diretor Edmund Goulding no excelente filme homônimo estrelado por Tyrone Power. Nessa nova versão, imagens e conteúdos freudianos e ocultistas são ao mesmo tempo evocados para ilustrar a descida do personagem central até os recantos mais sórdidos da alma – uma queda acompanhada pelas notícias sobre mais um violento conflito a engolfar o planeta.

Disney/Divulgação

Del Toro novamente exercita o prazer cinéfilo das citações, emulando na tela os clássicos da chamada “série negra” das décadas de 1930 e 1940, com seus códigos e clichês: um protagonista à beira do abismo moral, uma sedutora e perigosa loira mortal, uma iludida mocinha de bom coração, um punhado de poderosos corruptos e depravados, cenários e figurinos estilizados, fotografia contrastada e expressionista, diálogos afiados com a lâmina do cinismo.

Em meio a um elenco de astros e estrelas do cinema de hoje, Bradley Cooper e Cate Blanchett destacam-se por suas figuras decalcadas em ídolos da época de ouro de Hollywood: longe de significar algum descuido na direção dos atores, a atuação por vezes afetadamente dramática do casal em O Beco de Pesadelo – em especial quando ambos dividem a cena – deve ser creditada como uma irônica e nostálgica homenagem ao encanto trágico daqueles policiais do passado em que o herói estava fadado a sucumbir diante de uma femme fatale.

Disney/Divulgação

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O Beco do Pesadelo: * * * *   

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de O Beco do Pesadelo:

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