Artigos | Cinema

O eterno encanto de “Laura”

Change Size Text
O eterno encanto de “Laura” Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

Clássico do film noir, Laura (1944) é um dos destaques recentes disponibilizados na plataforma Petra Belas Artes à la Carte. Dirigido por Otto Preminger e listado entre os 10 melhores filmes de mistério de todos os tempo pelo American Film Institut (AFI), o longa ganhou o Oscar de melhor fotografia em preto-e-branco, além de ter sido indicado em outras quatro categorias: melhor ator coadjuvante (Clifton Webb), direção de arte em preto-e-branco, diretor e roteiro.

A trama gira em torno da investigação do assassinato da personagem-título. Laura – interpretada pela belíssima atriz Gene Tierney – é uma bem-sucedida diretora de uma agência de publicidade de Nova York morta com um tiro de espingarda no rosto, dentro de seu luxuoso apartamento. Encarregado de investigar o crime, o detetive Mark McPherson (Dana Andrews) interroga pessoas próximas da vítima e eventuais suspeitos, como o sofisticado e cínico escritor Waldo Lydecker (Webb), mentor de Laura desde quando ela era apenas uma anônima publicitária, e o noivo da jovem, o galanteador oportunista Shelby Carpenter (Vincent Price).

À medida em que tenta desvendar o passado de Laura e as reais intenções de seu círculo íntimo, o policial vai se encantando por essa sedutora mulher – figura onipresente graças a um quadro com seu retrato pendurado na sala de casa. Quando Laura reaparece viva, a investigação e os sentimentos de McPherson tomam um rumo diferente.

Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

Apesar de esnobada pelo Oscar, a música tema composta por David Raksin se tornou tão popular que a Twentieth Century Fox logo se viu inundada com cartas perguntando se haveria uma gravação disponível em discos, uma procura que fez com que partituras e gravações da canção fossem lançadas com grande sucesso de vendas. O estúdio acabou encomendando então ao grande compositor Johnny Mercer a letra de Laura’s Theme, que se tornou um sucesso imediato, transformando-se em um standard da canção norte-americana, gravada desde então por incontáveis intérpretes como Frank Sinatra e Ella Fitzgerald.

A estrela Gene Tierney inicialmente não queria encarnar Laura, mas acabou aceitando o papel por conta de obrigações contratuais, após a recusa de Hedy Lamarr para interpretar a personagem – posteriormente, a atriz austríaca justificou o motivo de ter declinado do convite: “Eles me mandaram o roteiro, não a partitura”. De fato, o valor de Laura não está no enredo artificioso e maneirista, que abusa das reviravoltas da trama e segredos escusos dos personagens – recursos narrativos típicos dos romances e filmes policiais da chamada “série negra” das décadas de 1930 a 1950 –, empurrando a história para o pantanoso terreno do implausível e mesmo do caricatural.

O que faz de Laura maior do que sua produção de filme B poderia supor é a excelência das atuações, em particular de Clifton Webb e Vincent Price – celebrizado anos depois por seus papéis em filmes de terror, Price sempre considerou esse o melhor título de sua carreira. Já Webb brilha em todas as suas cenas, emprestando consistência e empatia ao esnobe e espirituoso colunista que maneja suas falas com a precisão cortante de um esgrimista. O papel do intelectual Waldo Lydecker rendeu-lhe uma indicação ao Oscar e marcou sua volta ao cinema, do qual estava afastado desde 1925 – o todo-poderoso produtor Darryl F. Zanuck opôs-se a Webb no filme porque o ator era homossexual, mas o diretor Otto Preminger insistiu na sua presença no elenco. 

Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

Laura: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Laura:

RELACIONADAS
PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?