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“Pinóquio” está de volta em carne, osso e madeira

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“Pinóquio” está de volta em carne, osso e madeira Foto: Greta De Lazzaris/Divulgação

O clássico conto do boneco de madeira que se transformou em um garoto de verdade chega aos cinemas brasileiros em formato live-action. Dirigido pelo italiano Matteo Garrone – realizador dos ótimos e violentos dramas policiais Gomorra (2008), pelo qual ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, e Dogman (2018) –, Pinóquio (2019) estreia nesta quinta-feira (21/1).

O filme narra a história de Gepeto (Roberto Benigni), um pobre e solitário marceneiro que constrói um boneco de madeira a partir de uma tora que ele não sabia ser mágica. Ao descobrir maravilhado que Pinóquio (Federico Ielapi) ganhou vida, o bom artesão passa a tratar sua criação como filho.

O ingênuo e desobediente Pinóquio, no entanto, mente para seu babbo (papai) e foge da escola para assistir a um espetáculo de marionetes. Aprisionado por Manjafogo (Gigi Proietti), dono do teatro mambembe, o menino de madeira parte do vilarejo natal para um destino desconhecido, obrigando o desesperado Gepeto a sair em seu encalço. Tem início a dura jornada de infortúnios do pequeno protagonista, cujo desconhecimento do mundo e o caráter inconsequente fazem-no cair nas mãos de vilões como a Raposa (Massimo Ceccherini) e o Gato (Rocco Papaleo), apesar dos avisos do Grilo Falante (Davide Marotta) e da Fadinha (Marine Vacth).

O popular personagem fez sua primeira aparição em 1883, no romance As Aventuras de Pinóquio, escrito por Carlo Collodi (1826 – 1890), e desde então ganhou diversas adaptações – a mais conhecida delas é o filme Pinóquio (1940), desenho animado da Disney. Em sua versão cinematográfica, Matteo Garrone faz jus ao tom sombrio do texto original – característica comum, aliás, a grande parte da tradição dos contos de fadas, geralmente criados com o objetivo de alertar as crianças para as vicissitudes da vida e os perigos que a natureza e os adultos podem representar, exemplificando ainda com terríveis consequências e punições o que acontece com aqueles que confrontam essas regras. O clima feérico e noturno do Pinóquio de Garrone remete a O Conto dos Contos (2015), incursão anterior do cineasta no universo da fantasia, inspirada nos contos de Giambattista Basile (1566 – 1632).

Se naquele filme o elenco era internacional, nessa luxuosa coprodução ítalo-francesa da história de Collodi a maioria dos atores e atrizes é italiana. Visualmente, Pinóquio é encantador: os cenários alternam-se entre paisagens pitorescas da Itália rural e interiores criados com riqueza evocativa de detalhes, enquanto os efeitos especiais tornam convincentes criaturas fabulosas como a governanta Lesma (Maria Pia Timo) e, em especial, o protagonista – um meio termo adequado entre boneco e gente.

Foto: Greta De Lazzaris/Divulgação

O diretor afirma que o projeto representou dois sonhos que se tornaram realidade: dirigir uma adaptação de Pinóquio – Garrone diz que escreveu seu primeiro storyboard da história com apenas seis anos – e trabalhar com Roberto Benigni, que dá vida a Gepeto no longa. Celebrizado por A Vida É Bela (1997), filme que dirigiu e protagonizou – e que ganhou três Oscar, incluindo melhor filme estrangeiro e ator –, Benigni volta às telas após um hiato de oito anos desde que atuou em Para Roma, com Amor (2012), comédia de Woody Allen.

Benigni retorna também à história de Collodi: em 2002, ele escreveu, dirigiu e interpretou Pinóquio em uma malograda versão, ignorada pelo público e desprezada pela crítica – sua ideia original era codirigir o filme com o mestre Federico Fellini. No longa de Garrone, o artista encarna mais uma vez sua persona cinematográfica característica: um sujeito gauche e simpático, falastrão e de cabelo desgrenhado, sempre metido em trapalhadas. Seu Gepeto, porém, é mais sóbrio e dramático do que as figuras histriônicas que popularizaram Benigni em títulos como Daunbailó (1986) e O Pequeno Diabo (1988) – uma contenção que combina perfeitamente com o tom desse novo Pinóquio.

Conhecido por expor a brutalidade em seus dramas adultos, Matteo Garrone arrisca replicar em um filme infantil a denúncia dos abusos do homem e da sociedade: em Pinóquio há exploração de trabalho infantil, maus tratos em sala de aula, crianças transformadas magicamente em burros para serem vendidas na feira, corrupção institucional e até infanticídio – por enforcamento! O acerto do roteiro está em alternar os episódios pesados com momentos leves e cômicos, que destacam a beleza das imagens, culminando com o clímax redentor em que o boneco traquinas finalmente vira menino. O ator mirim Federico Ielapi, aliás, é responsável em boa medida pela empatia desse Pinóquio: a irritação que a estupidez, teimosia e ingratidão do boneco despertam no público é atenuada pela cativante atuação do pequeno intérprete.

E o retorno de Pinóquio não deve parar por aí: o cineasta mexicano Guillermo del Toro está preparando uma versão igualmente dark da história em animação stop motion, com as vozes de astros como Cate Blanchett, Ewan McGregor, Tilda Swinton e Christoph Waltz, enquanto Robert Zemeckis vai dirigir uma adaptação em live-action do clássico da Disney com Tom Hanks no elenco.

Foto: Greta De Lazzaris/Divulgação

Pinóquio: * * * * 

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Pinóquio:

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