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“The Smoke Master” combina artes marciais, maconha e maldição da máfia chinesa

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“The Smoke Master” combina artes marciais, maconha e maldição da máfia chinesa Reprodução: The Smoke Master

Numa segunda-feira qualquer de 2017, os realizadores Andre Sigwalt e Augusto Soares foram a um parque de São Paulo, como de costume, para praticar kung fu. Após o treino, assistiram a um filme estrelado por Jackie Chan, O Mestre Invencível (1979) – no título em inglês, The Drunken Master –, que conta a história de um discípulo que aprende a lutar o tradicional “estilo bêbado”.

Durante a sessão, a dupla começou a imaginar como seria a combinação de maconha com artes marciais nas telas. A ideia virou fumaça, mas não no sentido figurado de desaparecer. Sigwalt e Soares deixaram de lado os treinos de kung fu e começaram a colocar no papel o que, anos mais tarde, resultaria em The Smoke Master. A première internacional do longa será realizada neste domingo (1º/5), às 20h, na Cinemateca Capitólio, encerrando a programação do 18º Fantaspoainformações sobre ingressos aqui.

O filme conta a história de dois irmãos (Daniel e Gabriel) amaldiçoados pela “Vingança das Três Gerações” da Tríade, máfia chinesa que tirou a vida do avô e do pai de ambos. Para que consigam sobreviver, um dos irmãos terá que aprender os segredos do “estilo da fumaça”, uma arte marcial canábica pouco conhecida ensinada por um mestre muito peculiar.

Ao contrário da luta bêbada de O Mestre Invencível, que de fato existia há séculos, o estilo da fumaça foi desenvolvido por Sigwalt a partir de três modalidades de origem taoísta – Bagua Zhang, Xing Yi Quan e Baji Quan – que deram origem a oito conjuntos de movimentos. Sigwalt é praticante de artes marciais chinesas e, ao longo de mais de uma década, passou temporadas entre China, Hong Kong e Taiwan pesquisando estilos de luta, enquanto Soares pratica Bagua Zhang há 5 anos.

Reprodução: The Smoke Master

Os diretores de The Smoke Master também buscaram inspiração nos stoner movies, como são conhecidos os filmes que abordam com bom humor o uso da cannabis. “Era uma imagética que estávamos buscando, mas tentamos não representar o maconheiro bobão, viajandão”, explica Soares, citando como exemplos desse gênero longas como O Grande Lebowski (1998), Segurando as Pontas (2008) e Queimando Tudo (1978) – com atuação e roteiro da dupla Cheech and Chong.

“A gente vive uma hipocrisia que torna ilegal uma coisa que não tem nada de mais. Uma das saídas que a arte encontra para isso é fazer comédia”, diz Sigwalt. Segundo a pesquisa dos diretores para o filme, The Smoke Master é o primeiro stoner movie brasileiro de longa-metragem.

Foto: The Smoke Master / Divulgação

Outra inspiração dos realizadores são filmes produzidos em Hong Kong entre as décadas de 1960 e 1980. “Essa cinematografia tinha muita liberdade. Faziam filmes de kung fu misturados com terror, erótico, comédia pastelão, épicos…”, descreve Sigwalt, que ao longo de 2018, ao lado de Soares, promoveu sessões caseiras semanais de filmes asiáticos, voltadas a ampliar o repertório para a concepção de The Smoke Master.

Sobre a mescla de gêneros cinematográficos – e a exibição em um festival de cinema fantástico –, Sigwalt reflete: “Já ouvi várias pessoas que não são do audiovisual dizendo que cinema brasileiro é só ´´’filme cabeça’ ou da Globo Filmes, e que não gostam muito de nenhum dos dois. Mas há um gradiente muito maior. Então é ótimo que o Brasil produza cada vez mais cinema de gênero. Tem que ter de tudo: o terror mais sanguinolento, a comédia mais ácida, a ação mais maluca e, por que não, stoner movies e filmes de kung fu”.

Temos que ter menos medo [de explorar e misturar gêneros], ainda mais com esse governo castrador e com as limitações que estamos vivendo do ponto de vista artístico. É o melhor momento para criar livremente e tentar falar com o maior público possível”, completa Sigwalt.

Por conta da temática espinhosa, evitando complicações futuras, os diretores preferiram não buscar apoio financeiro de mecanismos públicos de fomento. “Colocamos todas as nossas economias e investimentos no filme”, explica Soares. Atualmente, após anos de envolvimento incansável dos realizadores em todos os processos, o longa conta com uma empresa canadense de distribuição que começa a oferecer The Smoke Master a festivais internacionais.

Foto: The Smoke Master / Divulgação

The Smoke Master tem atuações de Daniel Rocha – que já participou de novelas como Avenida Brasil (2012) e Império (2015) – e do chinês Tony Lee – ator de Made In China (2014). Aos 66 anos, Lee vive no Brasil há mais de uma década. Apaixonado por danças brasileiras, excursionou o mundo como integrante de grupos de samba e outros estilos, além de tocar instrumentos asiáticos tradicionais em eventos da comunidade chinesa de São Paulo. Também integram o elenco Cleber Colombo, Luana Frez, Thiago Stechinni, Tristan Aronovich e Yasmin Thin Qi.

O filme é falado em três idiomas – inglês, português e mandarim – e conta com trilha sonora original assinada pelos compositores André Abujamra e Eron Guarnieri. Ao todo, são 15 sequências de lutas – a penúltima com 21 pessoas ao mesmo tempo. Outro número expressivo diz respeito aos 82 baseados cenográficos e cachimbos fumados durante as cenas do longa.

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