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“Um Herói” borra os limites entre certo e errado

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“Um Herói” borra os limites entre certo e errado Califórnia Filmes/Divulgação

Realizador de dois filmes ganhadores de Oscar de melhor produção em língua estrangeira, o iraniano Asghar Farhadi voltou à sua terra natal para filmar o drama de suspense Um Herói (2021) – que, no Festival de Cannes deste ano, ganhou o Grande Prêmio do Júri. Como em todos os títulos anteriores do cineasta, os protagonistas de Um Herói deparam com dilemas éticos e dubiedades morais, religiosas e sociais que embaralham constantemente as definições estratificadas de certo e errado – tanto dos personagens quanto dos espectadores.

No longa que entra em cartaz nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28/7), Rahim (Amir Jadidi) está preso por causa de uma dívida que não conseguiu pagar. Durante uma saída condicional da cadeira de dois dias, ele tenta convencer seu credor a retirar a queixa, se conseguir pagar parte do que deve.

Ao mesmo tempo, com a ajuda da namorada, que encontrou uma sacola com moedas de ouro perdida na rua, Rahim tenta vender as peças, mas acaba desistindo e decide procurar o verdadeiro dono espalhando anúncios pela cidade. O protagonista acaba assim ganhando notoriedade pública como homem honesto – mas uma sucessão de episódios vai colocar em xeque o caráter e as motivações de Rahim.

Califórnia Filmes/Divulgação

Ganhador em Cannes também do Prêmio François Chalais, conferido a filmes com valores afirmativos sobre a vida e o jornalismo, Um Herói é baseado na história verídica de um detento que encontrou uma bolsa de dinheiro na rua e resolveu devolvê-la. Da mesma forma que nos oscarizados A Separação (2011) e O Apartamento (2016), Farhadi não propõe respostas simples em Um Herói. “A ambiguidade vem naturalmente durante a escrita, e devo confessar que gosto disso. Esse aspecto faz a relação entre o filme e o público durar mais, ir para além da sessão. Dá a possibilidade de se refletir mais sobre o filme. Combinar ambiguidade com uma história que lida com a vida cotidiana é um desafio interessante”, justifica o diretor e roteirista.

O cineasta explica que resolveu situar a trama em Shiraz, cidade no sudoeste do Irã, porque lá existem “muitas ruínas históricas, traços importantes e gloriosos da identidade iraniana. A principal razão pela escolha dessa cidade é por causa da especificidade da trama e dos personagens. Eu também queria ficar longa da tumultuada Teerã”.

A construção realista das personagens, segundo o diretor, é marcada pela complexidade: “As pessoas são feitas de uma multiplicidade de dimensões, e, em certas circunstâncias, uma destas toma a frente e se torna mais visível. Esses personagens não são estereotipados”. Outro elemento importante nos filmes do diretor iraniano são as famílias e a solidariedade entre seus membros – e em Um Herói elas são centrais para a trama e as personagens. “As relações familiares são mais desenvolvidas nas cidades pequenas e, quando um dos membros enfrenta um problema, todo mundo se envolve. Eu cresci nesse tipo de ambiente sociocultural. Vinte anos atrás, a frase ‘Não é problema meu’ não existia na língua iraniana. Esse comportamento foi importado e materializa um novo modelo de relacionamento na nossa sociedade.”

Por fim, Farhadi define Um Herói como um filme no qual “todos os personagens têm suas razões para agir como agem. Eles são repletos de contradições. Não quero dizer que todos os atos sejam justificados. Não é sobre legitimação, mas compreensão. Ao se saber os motivos que levaram alguém a agir, podemos compreendê-lo sem tomar seu partido”.

Califórnia Filmes/Divulgação

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Um Herói: * * * * * 

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Um Herói:

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