Artigos | Marcelo Carneiro da Cunha | Série

A Terra é redonda. A série “Sem Limites”, nem tanto

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A Terra é redonda. A série “Sem Limites”, nem tanto Amazon Prime/Divulgação

Fernão de Magalhães foi um sujeito que foi até ali ver se achava um caminho novo para as especiarias, saindo por um lado e voltando pelo outro, comprovando definitivamente a curvatura da Terra.

Se estivéssemos no distante ano de 1519, vamos admitir que ainda fosse possível a gente não ter uma ideia muito clara de como a nossa querida Terra se comportava. Os nossos horizontes eram estreitos e curtíssimos. Viajávamos a cavalo ou a pé. Não tínhamos inventado balões de hélio, aeroplanos ou foguetes que nos levassem até cem quilômetros de altura, para então Yuri Gagarin poder dizer que a Terra era redonda, e ainda por cima azul.

Havia muito pouco tempo que tínhamos inventado os navios capazes de navegar pelos oceanos e expandido o nosso universo para o outro lado do Atlântico. Os portugueses tinham chegado até o Oceano Índico, no caminho pelo sul da África de Vasco da Gama, mas não tinham adentrado o Pacífico pra valer.

Pois em 1519, um navegador português a serviço da Espanha se meteu a procurar uma passagem pelo sul das Américas, para chegar às ilhas das especiarias e colocar a Espanha na disputa pela dinheirama toda que elas produziam. Nesse processo, a sua expedição terminou chegando de volta à Espanha vindo pelo lado oposto ao da partida, e então, oficialmente, a Terra virou redonda.

Essa saga inacreditável, com todos os elementos possíveis de um épico, virou uma coisa pra lá de esquisita na sua, na nossa Amazon Prime, na série espanhola Sem Limites, com nosso Rodrigo Santoro no papel de Fernão de Magalhães.

A série não tem a megaprodução que mereceria, mas essa é uma parte do problema. A impressão que se tem é que (spoiler alert pra quem não sabe nada de História), se Fernão de Magalhães teve o seu triste destino lá adiante, o roteirista da série parece ter naufragado antes mesmo de sair da Espanha. A arte da narrativa, caros leitores, pode ser mais implacável do que os oceanos, ou os nativos nada amistosos que os habitavam.

Eu li sobre Fernão de Magalhães nos meus tenros 11 anos. Tudo me parecia tão incrível. A descoberta da Patagônia, da Terra do Fogo. A descoberta da dificílima passagem entre os oceanos Atlântico e Pacífico. A rebelião dos outros comandantes, e a duríssima supressão conduzida por Magalhães. A descoberta das ilhas das especiarias. Tudo parecia mágico.

Eu acho que personagens como Fernão de Magalhães merecem tudo que se possa dar a eles, para que as novas gerações possam compreender a enormidade do que eles realizaram, e o quanto isso transformou o mundo, para sempre. Dos cinco navios que zarparam, apenas um voltou. Dos 242 homens que partiram, apenas 18 retornaram, entre eles o escritor da aventura, para sorte nossa.

Essa saga merece uma série melhor, e ela vai vir, é uma questão de tempo. Eu vou esperar.

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