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Em busca da música do extremo sul do continente

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Em busca da música do extremo sul do continente Vagner Cunha, Paulinho Fagundes e Bebê Kramer. Foto: Isadora Aquini/Divulgação

O trio formado pelo violinista Vagner Cunha, pelo acordeonista Bebê Kramer e pelo violonista Paulinho Fagundes apresenta no dia 3 de março‬ o resultado de sua primeira gravação em estúdio: o disco YbY, volume inicial de um projeto que busca na ancestralidade a força da música feita no pampa gaúcho. O nome do álbum (“terra”, em tupi-guarani) batiza uma nova coleção que se destina a cultivar formas musicais de fronteira e de aproximação de culturas.

Com influências da música feita no extremo sul do continente latino-americano e de suas próprias trajetórias, os três músicos somam nesse trabalho suas bagagens culturais para criar sonoridades que percorrem diferentes paisagens sonoras – da chacarera à valsa, passando pela música folclórica balcânica e cigana. Gravado em apenas uma tarde, o disco registra a precisão técnica e artística dos músicos, evidenciando seu talento tanto como instrumentistas quanto como compositores e improvisadores.

O repertório de sete faixas reúne músicas autorais extraídas da obra de cada um dos músicos, todas rearranjadas e adaptadas para o trio. O músico Ernesto Fagundes faz participação especial com seu bombo leguero em Laçador, de Alegre Corrêa, e em De Mano, coautoria de Paulinho Fagundes e Bebê Kramer.

O disco inclui ainda registros do trio de virtuoses para Na Beira do Aguapey, de Luiz Carlos Borges, e Oblivion – uma homenagem aos cem anos do genial compositor e bandoneonista argentino Astor Piazzolla (1921 – 1992), comemorados no próximo dia 11 de março. Produzido pelo selo independente Bell’Anima, o álbum foi gravado em Porto Alegre, no Transcendental Audio, de Leo Bracht – produtor musical e engenheiro de som premiado pelo Grammy Latino, que também assina a mixagem e a masterização desse trabalho.

O lançamento contará com uma live de bate-papo no dia 3 de março, às 19h, aberta ao público e veiculada nas redes sociais da gravadora Bell’Anima Produções, com a participação ao vivo do três instrumentistas. Já é possível fazer o pré-save do disco neste site.

Na entrevista a seguir, o violinista e compositor Vagner Cunha, produtor musical de YbY, comenta a respeito do disco, da parceria com Bebê Kramer e Paulinho Fagundes e adianta alguns de seus próximos projetos musicais: “Juntamente com uma tradução primorosa da obra de Dante (Alighieri) que está sendo finalizada por José Clemente Pozenato, em setembro vamos lançar um trabalho de grande porte a partir do Livro I (Inferno) da Divina Comédia“.

Vagner Cunha, Paulinho Fagundes e Bebê Kramer. Foto: Rodrigo Alencastro/Divulgação

Como foi feita a escolha do repertório de YbY?

Originalmente, nossa ideia era fazer uma live com o Bebê. No meio do caminho, resolvemos convidar o Paulinho pra uma participação especial. Paulinho estava ali com a gente e foi impossível deixar ele parado. A presença dele tocando nos dava mobilidade para criar, e foi assim que Paulinho passou a ser uma figura fundamental para todo o repertório. Ele trouxe sugestões para completar o repertório, e assim fomos montando um programa com 20 músicas no setlist.

O disco reúne instrumentistas de grande talento musical e fluência de improviso. Como foi o clima na gravação com Bebê Kramer e Paulinho Fagundes?

Depois do sarau, marcamos uma sessão de gravação no estúdio do Leo. Na véspera, fiz uma setlist de sete músicas para aquela tarde. A gravação foi incrível. Tocamos no máximo duas vezes cada música. Fechamos os olhos e deixamos acontecer. Cada um encontrou o seu espaço e, principalmente, soube deixar espaço para os outros. O disco não tem empilhamento de coisas. Está tudo no seu lugar.

YbY reafirma o vigor da música instrumental feita no sul do continente, que mistura influências cosmopolitas e regionalistas e extrapola as fronteiras geográficas – uma sonoridade presente também em outros projetos seus como Los Orientales, em parceria com Ernesto Fagundes. Comente sobre as características estéticas e culturais dessa musicalidade meridional, por favor.

Meu trabalho com Ernesto é a fonte primária para esse trabalho acontecer. Los Orientales foi um grande laboratório pra muita coisa que faço, muitas delas incluindo o próprio Ernesto. A provocação central é uma grande panela em que colocamos ingredientes da nossa cultura do oriente sul- americano combinados com sabores da Europa do leste.

YbY é apresentado como sendo o primeiro volume de um projeto musical. Quais seriam as próximas produções?

Seguiremos produzindo. O subtítulo Volume I entrega nosso objetivo de seguir esse encontro ainda em 2021. Além disso, em breve vamos fazer a estreia do Concerto para Acordeom e Orquestra escrito para o Bebê, que foi comissionado pelo Velu Gouveia e pela Bell’Anima.

Como ficou o cenário para os músicos com essa pandemia do novo coronavírus, que suspendeu temporariamente os shows presenciais ao vivo?

Eu vivo um cenário de produção intensa. Os shows estão cancelados, mas a produção está em alta. Esse momento sabático forçado está rendendo frutos novos para todos, apesar da perspectiva financeira da grande maioria dos artistas estar numa crise jamais vista no meio cultural.

O que você tem escutado atualmente?

Eu estudo muito. Busco derrubar fronteiras o tempo todo. Mas a obra para teclado de J. S. Bach é algo sempre presente.

Você está envolvido em outros projetos? Quais?

O principal projeto, além de YbY e o concerto para acordeom, está focado na obra de Dante Alighieri. Este é o ano do Dante. Juntamente com uma tradução primorosa da obra de Dante que está sendo finalizada por José Clemente Pozenato, em setembro vamos lançar um trabalho de grande porte a partir do Livro I (Inferno) da Divina Comédia. Esse trabalho representa para a Bell’Anima uma ação para oxigenar os tempos difíceis que a humanidade tem passado.

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