Música | Reportagens

Jazz catártico às margens da Lagoa dos Patos

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Jazz catártico às margens da Lagoa dos Patos Lucas Fê (esquerda), Dionísio Souza (centro) e Marcelo Vaz (direita), integrantes da KIAI. Foto: Vitória Proença

Depois de gravar em parceria com a cantora Paola Kirst e o rapper Zudizilla, o grupo KIAI, de Rio Grande, lança seu segundo álbum “solo”. O disco KIAI II, produzido pelo selo Pedra Redonda, apresenta o jazz catártico e envolvente do trio formado por Dionísio Souza (violão e baixo elétrico), Lucas Fê (bateria) e Marcelo Vaz (piano e teclado).

Capa de “KIAI II”. Foto: Vitória Proença

A capa do novo trabalho, assinada pela fotógrafa Vitória Proença, é uma síntese visual que dá pistas sobre o que esperar das cinco faixas do álbum. Como sugerem os dois riscos em evidência na imagem, KIAI II resulta de uma história que parte das margens – de uma lagoa, de uma cidade – e que ganha contornos a partir de encontros, revelando um caminho sonoro que começa a se desenhar.

KIAI II convida a um percurso que começa com a faixa Zamba (dê play no vídeo da acima). Nos três primeiros minutos da música, o baixo parece evocar as paisagens solitárias do litoral sul do estado, região de origem dos integrantes da banda – Lucas Fê criou-se no bairro Navegantes, na periferia de Rio Grande; Dionísio Souza, na Vila Maria José, situada nos limites da cidade; e Marcelo Vaz, em São José do Norte, na outra margem da Lagoa dos Patos.

Após a introdução mais introspectiva, o piano ganha protagonismo em Zamba, preparando o terreno para a segunda faixa, TAO, que começa com um solo de bateria de dois minutos para revelar, aos poucos, a presença vocal em gritos e cantos. “O fato de cantar a ideia que está sendo tocada – ou de ouvir algo, cantar e depois passar para o instrumento – nos faz usar a voz dessa maneira mais instrumental, sem muitas amarras dialéticas”, descreve Fê.

“Em TAO existe um fio que conecta os quatro temas que estão ali contidos, contando uma história do nosso caminhar pessoal e musical”, conta o baterista, fazendo menção ao sentido de “caminho” do Tao na filosofia chinesa. “Os conceitos orientais fazem parte do nosso modo de ver a vida. Houve uma época em que Dio e Marcelo foram iniciados no Tai Chi, e lá acessaram o termo kiai, que significa concentração de energia. A exteriorização dessa energia concentrada é expressa em um grito: KIAI.”

As energias que se concentram ao longo dos mais de 14 minutos de TAO levam às diferentes paisagens de Reflexos Harmônicos – outra faixa que se aproxima dos 15 minutos de duração – e Ardep Adnoder, indo desaguar em Impro Flow, última música do álbum, que evidencia o clima experimental da gravação, liderada pelo produtor Wagner Lagemann.

“Fizemos uma imersão de uma semana na casa dele [Lagemann, na zona sul de Porto Alegre], onde funciona o estúdio, e concebemos esse disco durante aqueles dias. Compartilhamos ideias musicais que foram sendo lapidadas e tocamos muito livremente, improvisando, como nos shows, mas tudo sendo gravado. Foram dias muito especiais, ainda mais considerando o fator pandemia, que veio logo depois”, relembra Fê. A gravação das faixas do álbum foi registrada em vídeo:

Uma jornada de encontros musicais

As trocas com a equipe do Pedra Redonda para a gravação de KIAI II são a etapa mais recente da trajetória de encontros da banda. Em 2018, após ter lançado o álbum de estreia, Além, o trio acompanhou a cantora Paola Kirst – também natural de Rio Grande – no disco Costuras que me Bordam Marcas na Pele, produzido pelo selo Escápula Records.

Outro encontro que resultou em disco foi a parceria com o rapper pelotense Zudizilla. “Teve um dia que eu escutei o CD dele no fim de tarde e, à noite, nos trombamos numa jam. A gente não se conhecia, mas cheguei e falei tudo que tinha sentido com o disco, falei do KIAI e que tínhamos que fazer algo juntos um dia. O tempo passou e logo surgiu a oportunidade de gravar o Concertos Íntimos del Sur”, relembra Fê, destacando a iniciativa da Campos Neutrais Produções e da A Vapor Estúdio, com financiamento do Procultura da Prefeitura de Pelotas, que reuniu, em 2018, artistas com atuação na cidade vizinha de Rio Grande.

As participações no minifestival aproximaram a banda e o rapper, que se uniram para lançar, em 2019, o álbum JazzKilla, pela Escápula Records.

Além dos parceiros Kirst e Zudizilla, Fê destaca outros nomes que compõem a cena recente da música instrumental no Rio Grande do Sul. “Bandas como Kula Jazz, Marmota, Quarto Sensorial, Sopro Cósmico, Karmã (só para citar algumas) dão a sensação de que essa cena realmente existe, por maior que seja a dificuldade de disseminação desse tipo de som e a falta de espaços para tocar. Além disso, Porto Alegre tem uma baita história de outras gerações de músicos da cena instrumental que a gente conhece, admira e toca junto”, ressalta o músico. “Essas histórias de amizade e encontros como outros artistas nos impulsiona e nos mostra que ainda é o começo da caminhada”, completa.

Mais KIAI:
> O grupo prepara-se para apresentar um minidocumentário realizado pela 229 Visuais, formada por Vitória Proença e Vinícius Angeli. O lançamento do vídeo vai marcar o início de uma campanha de financiamento coletivo para a prensagem em vinil de KIAI II. O grupo também está desenvolvendo um songbook e planeja disponibilizar videoaulas e gravações de shows inéditos no ambiente online.

Escute KIAI II nas plataformas digitais.

E não deixe de ouvir Além, disco de estreia da KIAI:

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