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Os sóis do mineiro Luiz Gabriel Lopes

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Os sóis do mineiro Luiz Gabriel Lopes Luiz Gabriel Lopes. Foto: Sara Baga

Ex-integrante dos grupos Graveola e Rosa Neon, o cantor e compositor mineiro Luiz Gabriel Lopes lançou recentemente seu quinto trabalho solo, Sóis, que será apresentado neste sábado (15/5), às 19h, pela plataforma Zoom – confira os detalhes ao final da matéria. Com cinco faixas inéditas, o EP traz participações de Lola Membrillo (Perotá Chingó) e Vitor Ramil.

Capa de “Sóis”. Foto: Pequeno Imprevisto/Divulgação

“É hora de acordar da distopia do presente, enunciar a palavra que dure e supere a agonia do agora; ser planta, sair bem na foto, fazer a síntese, fotossíntese, crescer, dar flor e fruta. Em Sóis, encontramos a fonte da energia em cada canção”, comenta Ramil. “De repente, estamos na utopia do futuro. Não um futuro com interface de videogame, mas com a face mais luminosa de nós mesmos feito flecha de luz no céu das cavernas, no meio do mato, na dança do vento, no imenso horizonte. Súnthesis, synthĕsis: composição, mistura, combinação”, completa o compositor pelotense, que divide os vocais de Costura.

As sonoridades solares do disco vêm sendo apresentadas desde o início do ano em lyric videos publicados no canal de Lopes no YouTube. As faixas trazem mais uma vez a conexão do compositor com o cancioneiro brasileiro – evidente em álbuns anteriores, que incluem parcerias com Chico César e Maurício Pereira – e a música pop. Em Vênus, última faixa de Sóis, o cantautor mineiro expande suas fronteiras remetendo aos Beatles e explorando sintetizadores.

“Eu tinha vontade de fazer um álbum que mesclasse elementos de música acústica – meu território de origem, de onde geralmente nascem as canções, com a voz e o violão no centro –, trazendo também timbres elétricos analógicos e pitadas de eletrônica lo-fi”, descreve Lopes, que atualmente vive entre Belo Horizonte e Lisboa.

Leia a entrevista com o músico.

Como foi o processo de gravação de Sóis?

As canções que apresento nesse novo trabalho foram escritas, se bem me lembro, entre 2015 e 2020, e produzidas a fogo lento também durante esse período. Algumas pré-produções se iniciaram em 2016, numa residência artística que realizei no Musiberia, um centro cultural no Alentejo, em Portugal. De lá pra cá fui amadurecendo o material, desenhando os arranjos e compreendendo melhor as conexões entre as músicas. No final de 2019, me juntei ao Leonardo Marques [produtor de Sóis] pra finalizar tudo no Ilha do Corvo, um estúdio cheio de equipamentos vintage mágicos, que deram um tempero muito especial pro repertório.

Qual sonoridade você buscou?

Eu tinha vontade de fazer um álbum que mesclasse elementos de música acústica – meu território de origem, de onde geralmente nascem as canções, com a voz e o violão no centro –, trazendo também timbres elétricos analógicos e pitadas de eletrônica lo-fi. Uma mistureba orgânica, uma tentativa de síntese dos vários ambientes que andei pesquisando nos últimos anos, no trabalho com as minhas bandas, principalmente Graveola e Rosa Neon. Então era apontar pra um lance híbrido mesmo, inventar esse crossover, sem muitas referências objetivas. Um trabalho bastante empírico, de ir testando os sons, entendendo a alquimia entre eles, até chegar no resultado.  

Como você enxerga esse trabalho na sua trajetória?  

Sinto que representa um crescimento significativo na busca de uma identidade particular da minha obra como artista solo. Não só no campo composicional, mas também nessa seara da investigação sonora. Olhando em perspectiva, cada trabalho tem um valor histórico importante, é a fotografia das condições e visões de um momento, mas no fim das contas, acabo tendo a tendência de gostar mais do último… Ainda bem, rsrs.

Como se deu a parceria com o Vitor Ramil?

Tenho uma admiração imensa pela obra do Vitor, que ouço com muita atenção já há uns bons anos. Conheci ele em Porto Alegre, na casa do Ian, filho dele, compositor inspiradíssimo e meu parceiro. Daí foi aquilo de tomar um mate, conversar sobre música… A gente foi desenvolvendo uma troca massa, e quando o convidei para cantar em Costura, ele foi muito generoso em aceitar e trouxe uma força incrível pra canção. É uma honra imensa tê-lo nessa cartografia. 

Outra participação no disco é da cantora e compositora Lola Membrillo. Nos conta um pouco a respeito.

Conheci a Lola em São Paulo, acho que em 2015, quando Graveola e Perotá Chingó estavam tocando no mesmo final de semana no Sesc Pompeia. Estávamos todos no mesmo hotel, nos aproximamos, tínhamos uma amiga em comum. Foi um lance bem orgânico. Um tempo depois a gente fez um show junto em Buenos Aires. Foram conexões naturais, costuradas pela música. Tenho um grande apreço pelo trabalho dela, tanto solo como na banda. Perotá pra mim é das coisas mais avançadas que tão rolando na nova música latino-americana, e o disco solo dela é uma pérola. Daí eu sentia que a voz dela ia dar um astral especial pra Criança Boa, e não deu outra. 

Por fim, em 2020 você lançou o EP Presente, em um momento particularmente complicado, bem no começo da pandemia e de uma temporada sua na Europa. Um ano depois, ao comentar Sóis, Vitor Ramil fala em “É hora de acordar da distopia do presente, enunciar a palavra que dure e supere a agonia do agora”. Como você enxerga o novo trabalho nesse contexto?

Acredito que a arte é mesmo um portal mágico que consegue lançar luz sobre a escuridão, reacender nossa sensibilidade, renovar a esperança nas coisas. Tento sempre buscar essa energia na música que eu faço, como agradecimento a tudo que a música já me trouxe, e também como princípio. Cultivar a utopia de que a gente possa sempre reaprender a ver as coisas, e que essa força de intenção nos tire desse abismo para onde a civilização se deixou levar.    

* O evento online Costura – Conversas e Canções reúne, além de Luiz Gabriel Lopes, artistas e profissionais que fizeram parte da gravação de Sóis, às 19h, em transmissão por Zoom. Lopes vai conversar com o público sobre as músicas do EP e apresentá-las em formato voz e violão. Para participar, é necessário adquirir o álbum digital na plataforma Bandcamp, com direito a extras do disco.

* Lançamento do selo brasileiro Pequeno Imprevisto e do selo inglês Dalata Music Label, Sóis é o quinto trabalho solo de Luiz Gabriel Lopes, que já lançou Passando Portas (2010), O Fazedor de Rios (2013), Mana (2017) e Presente (2020).

* Ouça também os grupos mineiros Graveola (que recentemente lançaram o single ) e Rosa Neon (que encerrou suas atividades em 2021).

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sábado, 15 a 15 de maio de 2021 | 19h00 - 20h00

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