Exclusivo: um papo com Sylvie Simmons, biógrafa de Leonard Cohen
Duas revistas surgidas nos anos 90 na Inglaterra redesenharam meu interesse musical, quando eu já não tinha o mesmo entusiasmo com as novidades do pop como na década anterior. Mojo e Uncut eram direcionadas para uma faixa 25-45, com seções parrudas de resenhas, inclusive de DVDs e livros sobre música. Um perfeito equilíbrio entre contemporaneidade e velhos artistas, mas especialmente a Uncut tinha um ousado e profundo recorte editorial da cena folk moderna e suas variantes alt-country, mais urbana, e americana, um country incrementado com elementos do blues, do rock e outros estilos, em que sobretudo se destacavam grandes letristas. Viriam a ampliar o terreno que eu já explorava no nível básico ouvindo Leonard Cohen e Van Morrison (que virou um antivax bobão). Era o auge do Napster, que me ajudou a achar absolutamente tudo que eu li nas revistas: Tift Merritt, Gemma Hayes, Slobberbone, Eileen Rose, alguns destes não mais populares do que um artista gaúcho.
Entre os responsáveis pelos textos, naturalmente me chamou atenção uma das poucas mulheres, e foi assim que o nome de Sylvie Simmons se tornou familiar. Eu quase dava oi para ela quando abria a edição do mês.
No começo do século, saiu uma pequena biografia do Serge Gainsbourg, outro herói do meu Olimpo, assinada pela Sylvie: Por um Punhado de Gitanes, editado no Brasil. Não era muito grande, mas já trazia histórias interessantíssimas, cuja fonte ela revela nesta pequena entrevista que publicamos aqui. Como o primeiro date do Serge com a Jane Birkin por restaurantes, cercados de violinistas russos, depois um giro pelo mercado ao amanhecer, até chegar no hotel, onde o concièrge os recebeu dizendo: “O quarto de sempre, monsieur?”.
Sylvie também tomou coragem e se lançou como cantora e compositora, primeiro em 2014 e depois em agosto de 2020. Álbuns excelentes e totalmente no perfil das duas revistas. O jornal The Guardian, que deu 4 estrelas para seu primeiro trabalho, Sylvie, não foi o único a elogiá-la com entusiasmo. A Lyric Magazine chamou o Blue on Blue de “profundo, poderoso, honesto, corajoso, poético e lírico”.
Mas em 2012 Sylvie brilhou também, lançando a melhor biografia do gênio canadense Leonard Cohen, escritor, cantor e compositor, que estava no auge das derradeiras turnês que deram a volta ao mundo diversas vezes desde 2008, fazendo shows de quase quatro horas, cinco vezes por semana, já com quase 80 anos.
I know you had to lie to me
I know you had to cheat
To pose all hot and high
Behind the veils of shear deceit
Our perfect porn aristocrat
So elegant and cheap
I’m old but I’m still into that
A thousand kisses deep
I’m Your Man – A Vida de Leonard Cohen é um robusto estudo de uma obra que muito provavelmente mereceria um Nobel de literatura, assim como o do amigo Bob Dylan.
Fiz amizade com a Sylvie, que mora na Califórnia, pela internet, e logo que começou a pandemia e a onda de lives, ela foi a primeira que pensei em entrevistar. Me pediu para esperar o lançamento do novo álbum, dali uns meses, o que no fim, por acúmulo de trabalho, acabei deixando de lado. Agora, com essa pequena série de conversas dgdgd+, acho que é a hora certa.
Apresentando a Sylvie, e especialmente sua música, espero replicar no leitor uma sensação de descoberta e encantamento parecida com a minha depois de garimpar as dicas da Uncut. E nem precisa piratear nada, que isso é feio. Tá tudo lá nas plataformas.
É possível encontrar a Uncut em algumas bancas. Em Porto Alegre, costumava ter naquela portinha da Padre Chagas, ou em qualquer banca da Av. Paulista.
Este é o segundo episódio da série dgdgd+ que o Matinal publica. A primeira entrevista, com o cantor e compositor norte-americano Michael Stipe, pode ser lida aqui.
Diego de Godoy (@dgdgd.tv)
Cineasta dedicado, gaúcho e colorado sem exageros. Meu foco é a criação e realização de projetos audiovisuais voltados para arte e cultura, como diretor, produtor, montador ou roteirista. Em 2013, lancei o documentário Sobre Amanhã, que mostra o surgimento e o impacto estético da banda gaúcha DeFalla. Para o canal Arte 1, dirigi a série Arquitetos Brasileiros, de 2015, e criei e dirigi a série Work in Progress, produzida pela Pródigo Filmes e exibida desde 2016. A 3a temporada está em fase de desenvolvimento. Meus trabalhos mais recentes foram o documentário BCSP50, sobre os 50 anos do Balé da Cidade de São Paulo, e durante a pandemia, fiz a direção de imagens do musical Jacksons do Pandeiro e da peça A Hora da Eestrela ou O Canto de Macabéa.
Sou o maior fã de R.E.M. do hemisfério sul. A modéstia me impede de reivindicar o norte. Acesse o site www.dgdgd.tv