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Zudizilla: “É importante construir um imaginário coletivo preto a partir do agora”

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Zudizilla: “É importante construir um imaginário coletivo preto a partir do agora” Foto: Alile Onayale

Depois de apresentar Zulu: De César a Cristo (Vol. 2) no Circo Voador (Rio de Janeiro) e no Theatro Guarany (Pelotas), Zudizilla faz show nesta quinta-feira (7/4), às 23h, no Opinião. O álbum dá sequência à trilogia iniciada no volume intitulado De Onde Eu Possa Alcançar o Céu sem Deixar o Chão.

“Pensando na linha do tempo da saga, o volume 1 tratava de uma dúvida, a partir de um não lugar, e o 2 fala de quem chegou em algum lugar que é insuficiente para sanar toda a problemática no seu entorno. Isso se reflete em todas as minhas relações, e cada uma delas está descrita no decorrer do álbum”, comenta o rapper pelotense.

O novo trabalho de Zudizilla tem diversas participações, incluindo nomes como B.art, Coruja BC1, Cronista do Morro, Emicida e Serginho Moah. O volume 2 abre com Afortunado, que inicia com um áudio da mãe do artista e uma levada jazzística que remete ao álbum JazzKila (2019), parceria de Zudizilla com o grupo KIAI.

Foto: Alile Onayale

Vivendo em São Paulo desde 2018, Zudizilla segue com um olhar atento às suas origens. Na segunda faixa, Salve, o rapper aborda a invisibilização da população negra no RS como consequência do racismo estrutural: “Me promete que vai contar pro meu filho que virei lenda na esquina de uma cidade onde ninguém nos vê”.

“Pelotas fez de tudo para eu não ter perspectiva de futuro, mas é o único lugar que eu reconheço como meu. Conheço as ruas, as pessoas, os sorrisos e inclusive os olhares de maldade. Tenho um olhar pro Sul de ódio e de muito carinho, porque é onde a minha família ainda vive”, reflete Zudizilla, que além de rapper é designer, grafiteiro e artista visual.

“Faz mais sentido pra mim buscar uma identidade sulista de som do que fazer o mesmo som do Brasil inteiro. O RS tem que ter uma voz específica porque a gente passa por situações que não acontecem no resto do país. Nos tornar uníssonos é uma arma do racismo pra nos pautar, como se todo preto fosse igual, e não é. Sou um preto do Sul, que gosta de frio, vinho, fogueira e não gosta de praia”, completa.

Na faixa Rumos, Zudizilla reúne as vozes de Emicida e Serginho Moah. “Um dia acordei e pensei: o Serginho tem que fazer esse refrão. Liguei, ele chegou em casa, pegou o violão e fez o refrão. A gente decupou junto, três dias depois ele mandou a gravação, e o Emicida amou”, recorda o rapper.

O lançamento do álbum, viabilizado pela Natura Musical através do edital Pró-Cultura RS, é acompanhado do curta-metragem Vozes do Silêncio, com direção de Kaya Rodrigues e Luis Ferreirah. O título é uma citação ao livro homônimo do escritor Agostinho Dalla Vecchia, que colheu depoimentos de descendentes de pessoas escravizadas.

Zudizilla explica que o curta está vinculado à trilogia Zulu como um todo. O roteiro do filme, assinado pelo músico, parte de um texto da escritora e ativista Winnie Bueno que norteou o volume 1 da saga. “Transformei o texto em roteiro e moodboard. Entreguei bem decupadinho, e o Luis e a Kaya conseguiram traduzir isso na linguagem do cinema. Dei liberdade para essas pessoas pretas trazerem suas cargas acadêmicas e de vivência para que o filme se tornasse mais plural”, conta o rapper, que destaca o papel da construção de narrativas em seu trabalho.

“É importante a gente pautar a escravidão, mas é importante construir um imaginário coletivo preto a partir do agora”, destaca Zudizilla, que cria seus versos a partir de referências que vão de Jack Kerouac e Kendrick Lamar a Lima Barreto e Racionais MCs.



Ouça o novo álbum de Zudizilla em sua plataforma preferida.

Lançamento do álbum “Zulu: De César a Cristo (Vol. 2)”

Onde: Opinião (Rua José do Patrocínio, 834)
Quando: 7 de abril de 2022, às 23h
Ingressos online à venda no Sympla

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