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Santiago Pooter e Erick Peres exibem “Revoage” na Fundação Força e Luz

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Santiago Pooter e Erick Peres exibem “Revoage” na Fundação Força e Luz Foto: Erick Peres/Divulgação

Depois do sucesso da Exposição Linhas Cruzadas de Lilian Maus, que teve mais de 300 visitantes mesmo em período de pandemia, Revoage é a segunda mostra do ano na Fundação Força e Luz, antigo Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. A abertura da primeira exposição do duo formado pelos artistas visuais Santiago Pooter e Erick Peres está marcada para terça-feira (22/6).

Criado do encontro entre a vila e o centro, o duo – de mesmo nome Revoage, traz em seu trabalho o cotidiano periférico como objeto de uma pesquisa antropológica dos artistas sobre suas percepções, origens e influências estéticas. Nascidos em bairros pobres de Porto Alegre (RS), Santiago na Restinga e Erick no Ipê 1, unem elementos formativos como o rap, o funk, o samba, o pixo, com o desejo de estar bem trajado, portando Nike, Lacoste e cabelo na régua. A autoestima da periferia e a afirmação da necessidade de acessar os centros das capitais, sem hierarquias, percorre todo o trabalho e está representada nas mais diversas linguagens como instalação, desenho, projeções e pinturas expandidas, que representam essa mixagem de elementos presentes em suas realidades.

O conceito trabalhado pelo duo Revoage conversa diretamente com uma das tendências mais populares da atualidade, a chamada “Estética Brasileira”. Ou seja, aquilo que era visto como perfil criminoso e marginalizado (cabelo loiro pivete, camiseta de time, boteco da esquina, cigarro avulso, tatuagem tribal, etc) virou moda. Isso em paralelo a outra tendência de mercado, o NFT, calcada nas camadas mais elitizadas, como colecionadores e apreciadores de tecnologia. 

O que poderia ser um choque cultural, caminha aqui para uma convergência entre classes. Já que não é apenas um apelo estético, mas um paradoxo entre crítica e celebração. Esse é justamente o objetivo de Santiago e Erick, mostrar símbolos que fazem parte do cotidiano de todos, delírios de consumo e status, que evidenciam o caráter dual da linha entre classes, marcado pela globalização do mercado. 

Essa profusão de símbolos é o que o duo escracha como forma de expressão individual que se funde ao contexto coletivo. É possível notar esse jogo entre o que é intelectual e marginal, entre rico e pobre, na instalação principal da mostra, um painel de 5m de comprimento que remonta o conceito de Aby Warburg no Atlas Mnemosyne. Porém, numa cartografia de símbolos pop, como adesivos de desenhos animados. Existe um desejo de unir todos os elementos dessa cultura. Desde a expografia pensada como uma playlist musical, onde cada obra é uma track, até a vitrine do Edifício Força e Luz como uma loja de roupas de marca que transmite a vibe do todo.

Seguindo, também, as linhas da inovação no ecos(sistema) da arte, os artistas criaram uma instalação com monitores reproduzindo gifs em NFT “Non-Fungible Token” – chave eletrônica criptográfica usada de forma única – onde “token” significa o nome do registro de um ativo em formato digital, e “não fungível” é algo não perecível e original. A obra precisa ser um objeto digital, como um print da tela do celular, uma imagem ou um gif. E isso diz muito sobre a criação dessa criptografia, que surge para diferenciar as réplicas da peça original.

Algumas das obras que estarão expostas na mostra, as telas em tinta acrílica simulam camisetas de time. Foto: Erick Peres/Divulgação

Portanto, o dono de um NFT é dono de uma espécie de certificado de propriedade intelectual, que garante a autenticidade e unicidade da obra. Artistas de todo o mundo estão criptografando os certificados de propriedade de suas obras e comercializando-os ao invés da própria obra. Já que tudo isso concede ao comprador a garantia de originalidade e ao autor a possibilidade de faturar valores indefinidos. 

O que levantou uma discussão muito interessante sobre o aprofundamento da imaterialidade da arte como um reflexo do que a tecnologia tem feito com a vida. Está sendo vendida uma ideia que ultrapassa o campo da cultura visual. A unicidade não está na peça em si, mas em seu valor agregado. Como por exemplo na venda do print do primeiro tweet do CEO do Twitter, não foi a técnica artística mas sim sua singularidade que determinou o valor da peça. Podemos identificar claramente essa ideia, também na arte do Revoage, que se utiliza de materiais simples e extremamente simbólicos. A obra Maçã Verde é uma colagem de latas de cerveja Heineken, uma caixa de sapatos da Lacoste, MDF e gesso.

Visitação

A exposição fica aberta para visitação geral de 22 de junho a 24 de julho, de terças a sábados, das 10h às 19h, na Fundação Força de Luz, Rua dos Andradas, 1223. Já para uma visita mediada com os próprios artistas é só se inscrever através de formulário com link na bio do Instagram da instituição @cccev_cultura. A entrada é franca.

terça-feira, 22 a 22 de junho de 2021

Fundação Força de Luz (Rua dos Andradas, 1223)

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