Música | Notas

“SIM” é o novo álbum do NoPorn

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“SIM” é o novo álbum do NoPorn Foto: Aruan Viola/Divulgação

Como tudo hoje, não era pra ser mas acabou sendo. SIM, terceiro disco do NoPorn, chega como um libelo pela liberdade e pelo anseio por dias melhores. Acabou ficando mais introspectivo, acabou mais melódico, às vezes mais melancólico, na inauguração de uma nova sonoridade para o duo de Liana Padilha agora com Lucas Freire (Luca Lauri, sempre bom lembrar, era a formação anterior).

Porém, o NoPorn continua deixando na gente que é fã o gosto pela contravenção, pela subversão, pela celebração de outros devires e outras formas de existir. Traz um romantismo não-açucarado, urbano e debochado – e muito sensual. E traz o risco. Mais maduro, o NoPorn – que é do rolê – descobriu que ninguém morre de ficar em casa: A pista é a exceção.

Analogia para a vida, o álbum SIM materializa esse período de transição entre a vacina e o vírus por que passamos. Esses dias e noites estranhas em que (de novo), o risco existe já ao sair de casa. Qualquer outra similaridade com outras epidemias não é coincidência. Liana e seu NoPorn sabem disso. 

E os dois artistas começam chamando para uma Festa no Meu Quarto, que abre o disco com sua levadinha funkeada e dançante. Vou te chamar pra uma festa, você vem? A faixa foi criada antes de tudo, antes da pandemia. Mas agora, uma festa no quarto, só eu e você mais ninguém, faz todo o sentido, nesse mundo do isolamento social em que aglomerar é (e é mesmo) criminoso. 

Enfeite de cabelo é mais “late night”, mais pistinha, mas gostosa pra ouvir em casa, com timbres e batidas contemporâneas de qualquer mundo. Já em Leis da Física, Liana canta que tudo pode acontecer, daquele jeito falado dela, em 117 BPMs, low tempo, aquele reverb tão familiar, tão confortável pra alma.

Praia de Artista é 100% NoPorn raiz, com letra de Liana Padilha e o estilista André Lima. Conheço desde o começo. Foi criada no Arpoador, e critica/comenta um episódio real de um povo das artes dando close em plena praia, e para isso se faz emblemática e fundamental a participação do artista e performer Bruno Mendonça.

Pérola Suja, que ganhou videoclipe em parceria com o coletivo Azagatcha, vem com letra de Jackson Araújo e Liana Padilha, e essa é para os órfãos do clubinho Xingu. Visualize uma pista esfumaçada (onde não dá pra enxergar nada). Loura morena careca ou cachorro.

Capa. Foto: Divulgação

Chegamos a Slow Sex 124 BPMS, mais noisy, bem potente, rica, que vai virando e surpreendendo. Mais crua, é um electro-funk-no-capotão-do-carro cuja letra é sobre sexo virtual – oficializado, legalizado e incentivado na pandemia. “Poderia ser só sobre sexo mas é muito sobre computador”, eles dizem.

Eu tô bolada. Né? Aham. É Baba Bombom. Um rap cheio de aliterações, sexy e pegajoso como a linha de teclados que desenha a faixa, renovação do estilo de produção musical de Lucas Freire que chega com sucesso para levar Liana nessa nova década que se descortina. Tudo é amor.

A atmosfera viajante e melodiosa de Butterfly nos transporta em seus teclados esperançosos para dias melhores, na nostalgia da comunidade fandom do NoPorn, que tem saudades do que nunca viveu. Eu adoro dizer sim, celebra Liana, batizando o álbum. É o verdadeiro (e clássico) otimismo hedonista. Aquela hora em que a gente se abraça na pista e chora. Nunca fomos tão felizes. Nunca seremos tão felizes. Seremos sim.

Geléia de Morango vem contar a história de uma noite quente, num país quente desgraçado. E voltam os anos 90, essa energia, estávamos lá. Liana e Lucas são da noite, acordam meio estranhos mas vão melhorando à medida que a noite chega. Luz da noite.

O futuro que o NoPorn aponta nas faixas finais de cada disco aparece em Noites Longe do Mar, que traz algo do Rio, uma bossa onde o Largo do Machado encontra (de novo) Arpoador. O corpo sempre quer mais

Escute SIM aqui.

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