Pesquisa revela expectativas para retomada de atividades culturais e cenário de exclusão
O Itaú Cultural e o Datafolha divulgaram os resultados da pesquisa “Hábitos culturais pós-pandemia e reabertura das atividades culturais”, realizada em setembro. Os dados apontam que a maioria dos brasileiros deseja realizar pelo menos uma atividade cultural nos próximos meses. No entanto, o estudo também revela um cenário de exclusão que antecede a pandemia: nos últimos 12 meses, 48% dos entrevistados não realizaram nenhuma das atividades mencionadas no levantamento: assistir a espetáculos de música, circo, dança e teatro, ou saraus de poesia, literatura e música; participar de atividades infantis; e visitar bibliotecas, centros culturais e museus.
Foram ouvidos 1.521 indivíduos, entre 16 e 65 anos, em todas as regiões do país. A margem de erro dos percentuais é de 3 pontos para mais ou para menos.
Segundo a pesquisa, 66% dos entrevistados querem voltar fazer atividades culturais à medida que sejam permitidas. O índice é maior que os 52% que dizem ter participado de pelo menos uma atividade cultural nos 12 meses anteriores à pesquisa. O interesse pela retomada da agenda cultural é maior entre os indivíduos na faixa de 25 a 34 anos (74%) e de 16 a 24 anos (71%). Entre adultos de 35 a 44 anos, o índice fica em 61%, já a porcentagem do público interessado de 45 a 65 anos é de 60%.
Cinemas e bibliotecas em destaque
Em questionamento de múltipla escolha, 44% dos respondentes afirmaram que desejam voltar a frequentar salas de cinema, atividade que lidera os índices da questão à frente de: shows musicais (40%); atividades infantis (38%); bibliotecas e centros culturais (36%); teatro (30%); museus, dança e circo (29%); e saraus (25%). Os números corroboram os dados sobre as atividades das quais os brasileiros mais sentem falta desde o início da pandemia: 30% dos entrevistaram disseram que a impossibilidade de ir ao cinema foi a principal perda relacionada às atividades culturais nos últimos meses, enquanto 24% apontaram shows de música.
Entre aqueles que realizaram atividades culturais nos últimos 12 meses, as bibliotecas ganham destaque. “Chamou a atenção a relevância das bibliotecas. O potencial das pessoas voltarem a ir a esses espaços na reabertura foi de 36% entre aqueles que os frequentaram alguma vez na vida, e de 65% para quem foi nos últimos 12 meses. Este último indicador é o maior entre todas as categorias apresentadas na pesquisa. A biblioteca é o lugar de ampliação de conhecimento, é ponto de encontro onde se dialoga com diferentes faixas etárias e classes sociais. Muitas delas promovem ações culturais e estão distribuídas pelas cidades e o interior”, analisa o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron – confira a entrevista com ele e o gerente de pesquisa de mercado do Datafolha, Paulo Alves.
54% se sentem seguros para retomar atividades culturais
A pesquisa Itaú Cultural/Datafolha também avaliou a confiança dos entrevistados para voltar a frequentar atividades culturais: 54% disseram que se sentem seguros, enquanto 46% declaram que não sentem segurança para fazê-lo. Considerada a margem de erro de 3% para mais ou para menos, observa-se que os mais confiantes compõem uma ligeira maioria.
A diferença amplia-se no recorte por gênero: os homens manifestam se sentirem mais seguros (63%) do que as mulheres (47%). Entre as faixas etárias, o estrato de jovens de 16 a 25 anos é o que declara ter maior segurança para o retorno às atividades (61%), enquanto os mais velhos (45 a 65 anos) são os que se sentem menos seguros (50%).
Na avaliação por classe social, os indivíduos que se dizem mais seguros são os da classe C (61%). O índice cai para 54% entre os indivíduos da classe A/B, e o menor percentual é o da amostra da classe D/E (43%).
Retornar, sim, mas com algumas condições e protocolos
Atividades em locais fechados provocam receio: 56% dos respondentes disseram que não participariam de atividades em espaços nessa condição. No caso de atividades em locais abertos, 84% dos entrevistados se mostram dispostos. Segundo a pesquisa, outro fator importante para a retomada é a proximidade de casa. O percentual dos que disseram optar por atividades culturais no próprio bairro (sem necessidade de transporte) antes da pandemia era de 28%. Com a retomada das atividades culturais, 47% dos entrevistados afirmam que vão adotar esse hábito.
Em pesquisa espontânea, “manter distanciamento, ter espaço e evitar aglomerações” é o procedimento mais mencionado pelos entrevistados (58%), ao lado de obrigatoriedade do uso de máscaras e adoção correta de equipamentos de proteção (55%) e da oferta de equipamentos de higiene aos visitantes (53%). Embora a possibilidade de vacinação contra a Covid-19 seja um assunto constante no noticiário, apenas 17% mencionam espontaneamente uma vacina para o coronavírus como fator de segurança para a retomada.
Exclusão de atividades culturais precede a pandemia
Nos próximos meses, o setor cultural terá que lidar não apenas com os comportamentos derivados do isolamento social e a preocupação quanto ao contágio do coronavírus. A pesquisa Itaú Cultural/Datafolha revelou um cenário de exclusão, anterior à pandemia, no que diz respeito às atividades culturais.
Embora 92% dos entrevistados tenham informado que realizaram pelo menos uma atividade cultural ao longo da vida, apenas 52% o fizeram nos últimos 12 meses. Ou seja, no mesmo intervalo, 48% não realizaram nenhuma das atividades listadas no levantamento. A situação é mais acentuada entre moradores de cidades do interior: ao longo do período analisado, 54% não participaram de qualquer atividade cultural da listagem apresentada. Nas regiões metropolitanas o índice fica em 41%.
No recorte etário, indivíduos de 45 a 65 anos são os que estão mais afastados da agenda cultural: nos últimos 12 meses, 63% dos entrevistados dessa faixa não participaram de nenhuma atividade listada pela pesquisa. Entre as classes sociais, a D/E é a mais excluída: 71% não participaram de atividades culturais nesse período.
A escolaridade também pesa na exclusão: 73% dos entrevistados que estudaram até o ensino fundamental não participaram de atividades culturais nos 12 meses anteriores à pesquisa. Esse fator mostra-se ainda mais evidente quando se observa o índice daqueles que cursaram o ensino superior, dos quais apenas 18% não frequentaram nenhuma atividade cultural no período analisado pelo estudo.
Relembre a nossa série de reportagens sobre a pesquisa “Impactos da Covid-19 na economia criativa”, desenvolvido pelo Observatório da Economia Criativa da Bahia (Obec-BA):