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Economia criativa teve perda de 691,9 mil empregos no primeiro semestre de 2020

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Economia criativa teve perda de 691,9 mil empregos no primeiro semestre de 2020 Artesanato é um dos setores mais impactados pela crise sanitária. Foto: Allan Patrick/Wikimedia Commons

O Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural apresentou recentemente o cenário do mercado de trabalho da indústria criativa brasileira no primeiro semestre de 2020. Segundo o estudo, que utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), 691,9 mil postos de trabalho formais e informais foram perdidos em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em junho de 2019, havia 6.958.484 indivíduos atuando no setor. Em junho de 2020, com retração de 9,94%, o número ficou em 6.266.560 trabalhadores.

Reprodução: Itaú Cultural

Na comparação de junho deste ano com dezembro de 2019, a diminuição é ainda mais expressiva: 871,3 mil empregos formais e informais a menos no mercado, o que representa uma retração de 12,2%. “Sabemos que o primeiro semestre é menos aquecido que o segundo, e é preciso certa cautela para se comparar o saldo de postos de junho deste ano com dezembro do ano passado. Mas o fato é que, em seis meses, 871,3 mil postos de trabalho deixaram de existir para trabalhadores da economia criativa, em decorrência da pandemia”, aponta Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.

Reprodução: Itaú Cultural

Entre os trabalhadores mais diretamente vinculados às atividades culturais, a queda se revela ainda mais expressiva, alcançando 49% (de 659,9 mil para 333,7 mil empregos), no comparativo entre os meses de junho de 2019 e 2020. O estudo aponta que, nesse segmento, o setor “Editorial” foi proporcionalmente o mais impactado, encolhendo 76,85% (-7.994 postos).

Logo a seguir, com perdas maiores em números absolutos, encontram-se as categorias “Atividades Artesanais” – retração de 49,66% (-132,8 mil empregos) – e “Artes Cênicas e Artes Visuais” – queda de 43% (-97.823 postos). A categoria “Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV” encolheu 38,71% (-43.845 empregos).

A pesquisa mostra ainda que a os trabalhadores informais (sem carteira assinada nem cadastro formal de CNPJ) sofreram mais no período: redução de 21,3% dos empregos no comparativo entre junho de 2019 e 2020 – de 2.797.104 para 2.235.114 postos de trabalho, totalizando uma perda de 561.990 empregos.

Entre os formais, a retração foi menor, ao que tudo indica, por conta de medidas como redução de carga horária e suspensão temporária de contratos: queda de 6,24%, indo de 4.161.380 para 4.031.446 empregos.

O estudo analisou ainda os números de trabalhadores criativos que atuam em outros setores. A redução de empregos ficou em 15,34%, na comparação entre junho de 2019 e 2020. Entre os profissionais de apoio à indústria criativa (contadores que atuam em empresas do setor, por exemplo), a redução foi de 9,78%.

Reinvenção e cooperação

“Enormes transformações nos modos de produção, circulação e consumo de produtos e serviços culturais estão em andamento, exigindo adaptações e talvez a reinvenção de políticas públicas e modelos de negócios”, aponta Luciana Modé, coordenadora do Observatório e do Painel de Dados Itaú Cultural.

Entre as possíveis medidas para mitigar os efeitos da crise sanitária no setor, Modé destaca a necessidade de práticas colaborativas entre diferentes agentes e segmentos, de modo que “setores mais robustos e resilientes à crise cooperem e estimulem os que têm tido mais dificuldade”.

“O setor cultural brasileiro, com sua força e diversidade, tem enorme potencial para contribuir, de forma singular, para a concepção e a implementação de estratégias de recuperação socioeconômica no contexto pós-pandêmico, para além do seu próprio campo, podendo atuar conjuntamente com outros setores fundamentais como saúde e educação, trazendo soluções inovadoras e deixando de representar um problema para passar a ser parte fundamental no processo de recuperação”, observa Modé.

Ainda que restrita a uma parcela do setor, a possibilidade de agentes culturais brasileiros explorarem o mercado internacional é uma alternativa apontada pela coordenadora do Painel de Dados do Itaú Cultural: “As exportações dos setores criativos brasileiros têm crescido nos últimos anos, mas ainda estão muito longe de fazer jus à riqueza e à diversidade da produção cultural brasileira e seu enorme potencial para ocupar um protagonismo no mercado de produtos e serviços culturais e criativos em escala global”. 

A pesquisa sobre os postos de trabalho no primeiro semestre de 2020 integra a publicação Dez Anos de Economia da Cultura no Brasil e os Impactos da Covid-19 – Um Relatório a Partir do Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, disponível para download. O estudo de 175 páginas aborda três eixos: financiamento público, trabalhadores e empresas criativas e comércio internacional de produtos e serviços criativos.

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