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Kino Beat explora poéticas das relações entre humanos e outros seres

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Kino Beat explora poéticas das relações entre humanos e outros seres Foto: Tuane Eggers

O Festival Kino Beat chega à sétima edição, em formato híbrido, com mais de 30 atividades em torno do tema “Histórias de Outros Reinos”. O projeto curatorial do evento – que começou no dia 14 e segue até 30 de novembro – tem como ponto de partida um conto da norte-americana Ursula K. Le Guin (1929 – 2018), no qual a escritora descreve uma ciência dedicada às linguagens e poéticas dos animais: a therolinguística.

Para explorar o conceito, o festival traz em sua programação o Congresso Therolinguista: A(na)rqueologias da Terra, que inicia nesta quinta-feira (18/11), realizado pelo coletivo A(na)rqueologias das Mídias – Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação, fundado há seis anos na UFRGS e hoje atuando de forma independente da universidade.

Arte do Congresso: Librae

“O conto de Ursula é ficcional, mas tem uma estrutura de textos científicos e relatos acadêmicos. Pensamos que seria interessante levar a sério essa provocação teórico-ficcional e organizar um evento nos moldes acadêmicos que tratasse de diferentes formas de comunicação entre humanos e não humanos, seja do ponto de vista científico, estético, teórico ou ficcional”, explica o professor André Araujo, um dos organizadores do congresso e doutor em Comunicação pela UFRGS.

Doutoranda em Artes Visuais pela UFRJ e coorganizadora do encontro, Camila Proto destaca que “diante da troca entre arte, ciência e filosofia é possível imaginar e mesmo criar novos mundos, recheados de provocações multidirecionais e interdisciplinares”. Essas reflexões serão apresentadas em quatro mesas, transmitidas sempre às 19h, pelo canal de YouTube do Kino Beat, nos dias 18, 19, 24 e 25 de novembroconfira a programação completa no site do festival.

Lennon Macedo é um dos participantes da primeira mesa, intitulada “A voz e os grãos”. Em sua pesquisa, ele investiga o uso da voz no cinema como elemento de animalidade dos seres humanos. Cita como exemplo uma cena de O Anjo Azul (1930), do diretor austríaco Josef von Sternberg, em que o protagonista da trama, objeto de humilhação, é obrigado a subir num palco e cacarejar.

“Vários filmes tentam tratar politicamente do lado animal do humano a partir da voz, mas como negatividade”, observa o pesquisador, que é doutorando em Comunicação na UFRGS. “A ideia é discutir outra animalidade possível, especialmente a partir do texto O que os Animais nos Ensinam sobre Política, de Brian Massumi, onde o autor aborda a noção de brincadeira – no caso da fala, uma brincadeira com a voz e a linguagem”, completa.

Foto: Tuane Eggers

No dia 19 de novembro, a mesa “Sedimentações do tempo e superfícies de inscrição” tem a artista visual Tuane Eggers como uma das conferencistas. Ela apresenta as experimentações fotográficas do estudo A Poética dos Fungos, que entende os fungos como agentes criadores e busca refletir sobre as relações entre arte e vida a partir de uma perspectiva menos antropocêntrica. “Meu interesse começou pela curiosidade e contemplação desses seres com formas e cores, por vezes, tão exuberantes. Há um mistério na incerteza e efemeridade das suas aparições que sempre me encantou muito”, observa a artista.

“Ao longo desses anos, fui percebendo que os fungos são essenciais aos fluxos da matéria no planeta, com sua capacidade de decompor e recompô-la. De alguma forma, a vontade de conhecer mais sobre a existência desses seres e de, inclusive, experimentar cocriar com eles, é a vontade de tocar também no mistério da nossa existência”, reflete Eggers, que é mestra em Poéticas Visuais pela UFRGS.

Foto: Tuane Eggers

A cocriação entre humanos e seres de outros reinos também ganha espaço na terceira mesa do congresso: “Traduções e transduções aberrantes”. Nela, Lígia Lazevi e Marcelo B. Conter apresentam uma análise sobre música ambiente desenvolvida com plantas, como nas produções do compositor Shane Mandonsa.

“Ele conecta plantas a sintetizadores, que traduzem as variações de resistência elétrica da planta em sons. Por sua vez, as variações musicais (intensidade, ritmo) mudam de acordo com o tipo e estado da planta (se foi regada, se está fazendo fotossíntese, se está murcha…)”, explicam os pesquisadores.

“Diante disso, fabulamos sobre a ideia de que tais sintetizadores poderiam servir como um tradutor universal entre seres humanos e plantas. Mas que ordem de comunicação seria essa? E que forma de arte é essa para as plantas? Se elas não ‘ouvem’, podem ao menos ‘escutar’ a música que sua força vital comanda?”, indaga a dupla formada por Lazevi, graduanda em Música Popular na UFRGS, e Conter, professor no Instituto Federal do Rio Grande do Sul e doutor em Comunicação pela UFRGS.

Na última mesa (25/11), “A aliança necessária e os acasos do mundo”, partindo do livro A Queda do Céu, de Bruce Albert e Davi Kopenawa, os pesquisadores Demétrio Pereira e Guilherme da Luz trazem à tona o pensamento yanomami. “Kopenawa descreve um pensamento simultaneamente em festa e em guerra na relação com os xapiri”, explica Pereira, citando os guardiões das florestas evocados pelo povo Yanonami.

“Os xapiri se enfeitam e se enfileiram para brincar, dançar e negociar com catastróficos acontecimentos visitantes, como os seres do tempo seco, do tempo úmido, do vendaval e do trovão, cujo alastramento indefinido ameaça devolver a floresta ao caos”, completa Pereira, que é doutor em Comunicação pela UFRGS.

[Continua...]

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Foto: Guilherme Lund
 
Foto: Cau Guebo
 
Foto: Pedro Mendes
 
Foto: Nilton Santolin
 
Foto: Guilherme Lund
 
Foto: Joel Vargas
 
Foto: Cau Guebo

 

Foto: Nilton Santolin
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