Os três museus mais populares do Rio Grande do Sul planejam reabertura
Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS, MARGS e Museu Militar são as únicas instituições gaúchas listadas no top 100 de visitações no Brasil em 2019, dado mais recente do Ibram. Todos devem voltar a atender público até maio.
A boa notícia é que os três museus mais populares do Rio Grande do Sul devem reabrir as portas em breve. O Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) e o Museu Militar planejam voltar a receber público nos próximos meses: o da PUC e o MARGS em março; o Militar em maio.
Estas são as três instituições que lideram o ranking local de visitação elaborado todos os anos pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), por meio do Formulário de Visitação Anual (FVA). A lista mais atualizada é de 2019, quando a pandemia ainda não tinha obrigado todos a encerrarem as atividades presenciais e apostarem no ambiente online para manter o vínculo com o público. A coleta de dados referente a 2020 já começou, mas o resultado só será conhecido no segundo semestre.
A má notícia é que apenas esses três aparecem entre os cem museus mais visitados do Brasil – o que quer dizer que não estamos em pé de igualdade com nossos vizinhos mais próximos. Santa Catarina colocou oito instituições no top 100 brasileiro, e o Paraná, sete – embora o Rio Grande do Sul tenha mais candidatos, já que é o estado da região com maior número de instituições.
É verdade que por aqui apenas 90 dos 461 estabelecimentos cadastrados responderam ao questionário – menos de 20%. A Fundação Iberê, por exemplo, contabilizou 61.907 visitantes em 2019, mas não consta no levantamento do Ibram – o instituto garante que mandou o formulário, mas a Fundação diz que não o recebeu. O número torna este o terceiro museu mais visitado do Estado, atrás do Museu da PUCRS e do MARGS – e à frente do Museu Militar.
De qualquer forma, as 90 instituições gaúchas que preencheram a ficha somaram público de 963.765 pessoas em 2019. O Paraná, com uma população praticamente igual à do Rio Grande do Sul, teve presença 60% maior, de 1,6 milhão de visitantes.
“Tem pessoas que nasceram e cresceram em Porto Alegre e não sabem da existência do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, por exemplo. Tem uma questão cultural de as pessoas não olharem com atenção para a sua história”, lamenta Eduardo Hahn, assessor especial de Memória e Patrimônio da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac).
Financiamento é desafio para campeões de público
Segundo os dados do Ibram, o Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS abocanhou quase um quarto de todas as visitações do Estado em 2019. A estrutura, que conta com três andares mais um mezanino, está localizada ao lado do campus da universidade, em Porto Alegre, e abriga mais de 700 experimentos. Para Simone Flores Monteiro, museóloga da instituição, o sucesso se deve à capacidade do museu de dialogar com a vida real. “As pessoas compreendem a Ciência através das nossas exposições e conseguem transpor isso para o seu dia-a dia, para as suas relações. Acho que o público cada vez mais busca isso, e o museu acaba sendo um mediador nesta compreensão”.
Manter esta estrutura funcionando não é moleza. O museu da PUCRS é financiado pela universidade e cobra ingressos que variam de R$ 10 a R$ 40. Mesmo assim, está sempre atrás de outras fontes de renda. “Nenhum museu do mundo se mantém só com ingresso, nem o Louvre, de Paris, que é o mais visitado do mundo. A gente tem uma associação de amigos, participa de editais, busca patrocínios”, explica Monteiro.
No setor público, onde as verbas para a cultura são cada vez mais escassas, o malabarismo financeiro também faz parte do dia-a-dia dos gestores. Foi graças a R$ 4,7 milhões do Fundo de Direitos Difusos do Ministério da Justiça, por exemplo, que o segundo museu mais visitado do Estado pôde dar início a uma obra de restauração. O MARGS, que recebeu 105.830 visitantes em 2019, está passando por uma obra que inclui a substituição do sistema de climatização e a restauração do terraço, da claraboia e dos quatro torreões (as torres que ficam nas pontas do prédio), além da adequação ao Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI).
“Com as ações de requalificação da estrutura física, a gente espera que os museus se tornem mais atrativos. Ninguém gosta de entrar em um lugar com problemas de infiltração, sem pintura”, diz Hahn, que garante que a Sedac tem feito o possível para recuperar os nove museus sob sua administração – cinco em Porto Alegre e quatro no interior do Estado.
Atendendo por agendamento, Iberê recebe capacidade máxima
Alguns espaços culturais têm tido resultados promissores na retomada das atividades. É o caso da Fundação Iberê, que voltou a funcionar em setembro com visitas agendadas, de sexta a domingo. “No início foi difícil. Tinha dez pessoas por dia, e olha lá. Mas hoje tem dias totalmente lotados”, comemora o superintendente Emilio Kalil.
Kalil assumiu o posto em maio de 2018, com a missão de tirar a entidade de uma crise financeira que fez com que o museu abrisse somente aos finais de semana. A maré começou a virar no final daquele ano, com um leilão que angariou cerca de R$ 2,5 milhões. “A Fundação saiu da iminência de uma crise financeira graças ao envolvimento da comunidade e do empresariado gaúchos”, diz Kalil, que explica que a Fundação Iberê é uma entidade privada mantida por um grupo de empresários gaúchos.
Para aumentar ainda mais a visitação, a Fundação vem apostando na diversificação das exposições. No momento, a principal atração é a mostra do pintor carioca Maxwell Alexandre, um jovem de 30 anos que retrata em seus quadros a sua vida na Rocinha. Em parceria com a Sedac, foram feitos convites a lideranças comunitárias para que visitassem a mostra, o que ampliou o alcance das obras expostas – e o perfil de visitantes do museu, incrustrado às margens do Guaíba. “Hoje temos um novo público, que às vezes atravessa a capital de ônibus para vir até o Iberê ver a obra do Maxwell”, orgulha-se Kalil.
O sucesso foi tanto que a exposição foi prorrogada até 14 de fevereiro – e as próximas mostras apostam mais uma vez na intersecção de públicos e temáticas. Em março, o espaço vai receber a primeira exposição de moda da sua história. Em maio, o artista gaúcho Eduardo Haesbaert apresentará seus trabalhos, e em agosto será a vez do grafiteiro Daniel Melim. “Vamos diversificar para trazer para cá a maior quantidade de público possível, sempre mantendo a qualidade e a excelência”, assegura o superintendente.
Por causa das regras de distanciamento, o Iberê só está recebendo visitas agendadas, de sexta a domingo. O ingresso custa R$ 20 para uma visita mediada individual e R$ 30 em dupla. A cobrança começou como uma forma de compensar o aumento de gastos gerado pelas normas sanitárias, mas deve se manter mesmo depois da pandemia. “O ingresso é uma vontade antiga nossa. Eu tenho uma desconfiança muito grande das coisas que são dadas com muita facilmente, de presente”, diz Kalil.
Em breve, portas abertas para a ciência e a arte
No MARGS, as atividades presenciais devem retornar de forma gradual a partir de março, quando as reformas estiverem concluídas. No horizonte, estão três grandes projetos: uma mostra individual da gaúcha Lia Menna Barreto, uma remontagem da primeira exposição do MARGS, de 1955, com o melhor da arte moderna brasileira, e uma coletiva com obras da coleção particular do gaúcho Paulo Sartori. Ao mesmo tempo, o museu seguirá o contato com o público pelas redes sociais. “A verdade é que ninguém estava preparado para o que tem ocorrido desde 2020. Também não estamos totalmente preparados para lidar com o prolongamento disso tudo. Certamente nos exigirá flexibilidade, mudanças e reflexão permanentes sobre como contornar desafios e dificuldades”, reconhece Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS.
Outros museus, como o da PUCRS, sequer reabriram ainda. “Como o nosso museu é totalmente interativo, precisamos fazer algumas adaptações para que não haja risco. Estamos seguindo as orientações da universidade e esperamos em breve poder reabrir”, explica Monteiro. A reabertura está prevista para março, com um circuito especial cheio de novidades. No segundo semestre, haverá o lançamento de uma exposição sobre sequestro de carbono, o principal gás causador do efeito estufa.
Museu Militar terá espaço kids
“Quem não gosta de tirar uma foto com um blindado?”, pergunta o coronel Ílio Araujo de Oliveira Junior, referindo-se à principal atração do Museu Militar do Comando Militar do Sul, na Rua dos Andradas, no Centro Histórico de Porto Alegre. Uma localização privilegiada, que segundo o diretor do espaço ajuda a tornar este o terceiro museu mais visitado do Estado segundo o ranking do Ibram – e o quarto, se considerarmos o número de visitantes do Iberê.
No ano passado, enquanto a maioria dos espaços culturais sofria com a pandemia, o Comando Militar do Sul dava início a uma obra de revitalização que incluiu a pintura interna e externa, a troca do telhado e a compra de novos equipamentos. As portas devem reabrir em maio, com novas atrações, que incluem uma exposição de armamentos e até uma área infantil. “O espaço kids vai ter miniaturas de blindados e de peças históricas do acervo, além de vídeos institucionais e Recrutinhas”, conta o coronel, referindo-se à revistinha em quadrinhos do Exército Brasileiro.