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Relevância das bibliotecas é um dos destaques de pesquisa sobre hábitos culturais

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Relevância das bibliotecas é um dos destaques de pesquisa sobre hábitos culturais Biblioteca Pública do RS. Foto: Bruna Cabrera/Sedac

O interesse pela retomada do funcionamento de bibliotecas é um dos destaques do estudo “Hábitos culturais pós-pandemia e reabertura das atividades culturais” – confira um apanhado dos resultados da investigação. Conversamos com o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, e com o gerente de pesquisa de mercado do Datafolha, Paulo Alves, sobre os principais dados do estudo, que ouviu 1.521 indivíduos, entre 16 e 65 anos, em todas as regiões do Brasil.

A pesquisa indica um cenário de exclusão que precede a pandemia. Um exemplo disso é o dado de que, nos últimos 12 meses, 48% dos entrevistados não realizaram nenhuma das atividades culturais mencionadas no levantamento. Quais outros resultados nesse sentido vocês destacariam?

Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural: Detecta-se na pesquisa que, de fato, as classes D/E são mais afetadas nesse aspecto, o que demonstra ainda mais a desigualdade histórica. Porém, é importante observar o claro desejo de consumo cultural neste segmento, que é o de querer participar mais. Quando perguntado quem praticou atividades culturais nos últimos 12 meses, a classe D/E aparece com 29%, C com 56% e A/B com 76%. Já quando a pergunta é sobre a intenção em praticar atividades culturais após a reabertura, os índices na faixa D/E sobem para 61%, e 68% na A/B e C. São desejos muito próximos e demonstram que precisamos nos atentar na ampliação e democratização do acesso à arte e à cultura.

Qual dado chamou mais atenção? Houve alguma surpresa?

Eduardo Saron: Chamou a atenção a relevância das bibliotecas. O potencial das pessoas voltarem a ir a esses espaços na reabertura foi de 36% entre aqueles que os frequentaram alguma vez na vida, e de 65% para quem foi nos últimos 12 meses. Este último indicador é o maior entre todas as categorias apresentadas na pesquisa. A biblioteca é o lugar de ampliação de conhecimento, é ponto de encontro onde se dialoga com diferentes faixas etárias e classes sociais. Muitas delas promovem ações culturais e estão distribuídas pelas cidades e o interior.

Como vocês avaliam as diferenças regionais no grau de confiança para a retomada (exemplos: Sudeste com 58% e Nordeste com 48%)? 

Paulo Alves, gerente de pesquisa de mercado do Datafolha: Aqui temos as respostas de quem declarou intenção de realizar alguma atividade e, tecnicamente, estão no limite da margem de erro – poderíamos dizer que há uma tendência de mais gente confiante no Sudeste que no Nordeste. No entanto, do ponto de vista de uso da informação, seria mais adequado considerar que ambos os percentuais dividem os interessados em cultura em duas partes quase iguais, mostrando que será importante tratar do tema segurança sanitária ou isso pode distanciar muita gente das atividades.

Ainda sobre a análise de indivíduos que se dizem seguros, no recorte por classe dos entrevistados, a classe C lidera com 61%. Como vocês interpretam esse resultado?

Paulo Alves: Boa pergunta. Neste caso, a diferença entre C e D/E é significativa e coloca uma parcela majoritária da classe C com percepção de segurança (e o contrário na D/E). Não há uma justificativa clara para isso. A provável explicação está relacionada à intersecção entre variáveis de perfil – a classe C (versus D/E) teve concentrações um pouco maiores de homens, jovens, ensino médio, sem filhos, economicamente ativos, grupos que tendem também a uma percepção de maior segurança.

Outros dados que chamam atenção dizem respeito a um interesse por atividades culturais no próprio bairro e à negativa de 56% em relação a atividades em locais fechados. Vocês acreditam que essas informações possam mobilizar os agentes do setor a realizarem mais atividades nessas condições, ou seja, de modo mais descentralizado e em áreas abertas? 

Eduardo Saron: Esses dados possivelmente revelam que o uso de transporte público é um ponto de muita atenção por parte da sociedade em relação à pandemia. Independentemente disso, vemos que a produção cultural realizada nas “periferias” há muito tempo vem ganhando outra dimensão. Diante disso, cada vez mais o conceito de periferias/carências precisa ser reconsiderado para sobrepormos a ele o conceito de centros/potências, segundo o qual esses brasileiros são cada vez mais transformadores de si mesmos e de seu entorno. Dessa forma, a meu ver, bairros, comunidades e regiões terão cada vez mais espaço não apenas para fruir mais cultura como também para produzi-la. 

Como vocês avaliam a posição da atividade Cinema como a mais desejada para a retomada e que mais fez falta durante a pandemia?

Eduardo Saron: O cinema, como vemos na pesquisa, foi o espaço mais frequentado nos últimos 12 meses e o que mais falta fez e ainda faz no período da suspensão social. Parece ser natural que seja proporcionalmente o lugar a ser priorizado pelos entrevistados na reabertura.

Embora a possibilidade futura de vacinação contra à Covid-19 esteja diariamente nas notícias, apenas 17% dos entrevistados da pesquisa espontânea mencionam a vacina como protocolo que poderia gerar segurança, bem abaixo de medidas como distanciamento (58%), uso de máscara (55%) e equipamentos para higienização (53%). Como vocês interpretam esses dados?

Eduardo Saron: Essa pergunta foi feita de duas formas, a primeira foi espontânea sobre o que esperam dos protocolos e segurança, e nós e o Datafolha fizemos os agrupamentos por similaridade na resposta. A outra foi induzida, elencamos alguns itens, como arquitetura remodelada, horário agendado e treinamento das equipes. Em ambas as respostas o que ficou evidente é que as pessoas querem ir para espaços em que se sintam seguras, acolhidas e respeitadas. Ter uma vacina que nos assegure eficácia para a imunidade coletiva parece algo ainda distante na percepção dos brasileiros, ainda mais quando a pesquisa foi realizada, durante a primeira quinzena de setembro.

Há previsão de algum tipo de continuidade para essa pesquisa?

Eduardo Saron: Esta pesquisa também investigou o comportamento artístico cultural digital neste período da quarentena. Vamos divulgar os resultados na semana que vem.

Clique aqui para acessar o arquivo pdf com outros dados da pesquisa “Hábitos culturais pós-pandemia e reabertura das atividades culturais”.

Confira os principais resultados do estudo:

Relembre a nossa série de reportagens sobre a pesquisa “Impactos da Covid-19 na economia criativa”, desenvolvido pelo Observatório da Economia Criativa da Bahia (Obec-BA):

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