Literatura | Reportagens

Slam Peleia volta às ruas para celebrar 5 anos de poesia falada

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Slam Peleia volta às ruas para celebrar 5 anos de poesia falada Edição do Slam Peleia em 2017. Foto: Filipe Conde

Um dos principais encontros de poesia falada do RS, o Slam Peleia volta a ser realizado neste domingo (3/4). Após a suspensão de eventos presenciais durante a pandemia, a batalha poética aproveita o momento de retomada de eventos culturais para comemorar cinco anos de atividades.

A edição deste fim de semana começa com a exibição do documentário Slam: Voz de Levante (Tatiana Lohmann, Roberta Estrela D’Alva, 2018), no Centro Cultural Cidade Baixa (CCCB), às 15h. O filme conta a história do slam desde sua origem nos EUA até a chegada do movimento em São Paulo.

“Precisamos resgatar como tudo começou e como era essa energia de novidade”, explica a produtora cultural Marina Minhote, que integra o coletivo responsável pelo Slam Peleia – formando por seis mulheres – com a cantora Ariel, a poeta Bia Machado, a cantora Dadi, a professora Nati Gaspa e a publicitária Pam Machado.

Após a sessão, às 17h, o Slam Peleia realiza a batalha de poesia no Largo Zumbi dos Palmares, espaço onde foram realizadas as maiores edições do encontro. A competição tem a seguinte mecânica: as inscrições serão feitas durante a exibição do documentário. Qualquer pessoa com três poesias autorais pode participar. Um sorteio define quem ocupa as 12 vagas da disputa.

Após a batalha, a partir das 19h, o Slam Peleia volta ao CCCB para as apresentações de Dadi, Cristal relembre a entrevista da artista – e DJ Gau Beats.

Dadi. Foto: Slam Peleia/Divulgação

Aos 25 anos, natural de São Lourenço do Sul, Dadi (Ariádne Soares) é cantora, compositora e poeta. “O espaço do slam me ensinou muito sobre mim e meus sentimentos, e sobre como expressá-los, além de me dar amigos que eu vou levar pra sempre na minha trajetória”, conta a artista.

“O slam proporciona relações além da arte, e levar essas relações pra fora da roda, estar e conversar com pessoas que entendem tua forma de se expressar e de entender a arte é maravilhoso”, completa Dadi, que cursa Publicidade e Propaganda na UFRGS.

Nati Gaspa. Foto: Slam Peleia/Divulgação

Nascida em Porto Alegre, Nati Gaspa, nome artístico de Nathália Gasparini, tem 31 anos. Iniciou suas experiências no slam assistindo ao Slam das Minas, em Porto Alegre. Estimulada pelas hoje colegas de Slam Peleia, começou a competir e acabou ingressando no coletivo. “O slam é trabalho, muito trabalho! Seja escrevendo, ensaiando, organizando evento, convidando pessoas, alimentando as redes sociais, fazendo contatos…”, explica Nati, descrevendo o ativismo cultural slammer.

“O papel de slammaster é uma experiência indescritível, porque tu vê as pessoas ali ocupando um espaço que elas talvez pensassem que não era pra elas, como também já pensei. Um espaço de compor, escrever, ter voz, botar o corpo na roda, se expor a receber notas por essa expressão, falando do que importa pra essas pessoas, sendo aplaudida, recebendo agradecimento por ter colocado em palavras coisas que outras pessoas da roda também sentem”, segue Nati.

“Mesmo estudando Letras, infelizmente tive uma educação literária muito elitista. O slam mudou meu jeito de ver a literatura, que agora vejo mais parecida comigo e com meus alunos. Isso me deu confiança e vontade de conhecer um outro mundo da arte da palavra que não me ensinaram”, reflete Nati, que é professora de linguagens no Campus Restinga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e doutoranda em Linguística Aplicada na Unisinos.

Bia Machado. Foto: Slam Peleia/Divulgação


Também integrante do Slam Peleia, a porto-alegrense Bia Machado, 27 anos, cresceu na Lomba do Pinheiro e passou a frequentar slams em 2017. “Desde então não larguei mais. Pude conhecer outros poetas e fazer parte do coletivo artístico (uni)verso”, explica a poeta, que trabalha como redatora, é formada em Produção Multimídia pela FADERGS, já publicou dois contos e atua em produções cênicas e audiovisuais.

“Conhecer e fazer parte do movimento de slam foi, sem dúvidas, um divisor de águas na minha vida, tanto na parte pessoal quanto profissional. Me reconhecer dentro de um espaço junto dos meus iguais foi fundamental pra minha construção artística. Hoje o slam é essencial na minha vida. A construção de amizades verdadeiras, o amadurecimento artístico e a sensação de pertencimento são algumas das coisas que me fazem amar tanto esse movimento”, ressalta Bia.

Leia a entrevista com Marina Minhote.

Poderia nos falar um pouco sobre a história do Slam Peleia?

A história do Slam Peleia inicia no segundo semestre de 2016. Dois grupos de pessoas que não se conheciam buscaram a Roberta Estrela D’Alva, precursora do slam no Brasil, para pedir informações sobre como fazer um slam – devido à necessidade de criar um espaço seguro, público, de livre expressão, resistência, fala, escuta ativa e poesia. 

A Roberta pôs esses grupos em contato e sugeriu que se unissem para formar a primeira comunidade de slam de Porto Alegre. Disponibilizou alguns documentos informativos, regras básicas, diretrizes para a criação do coletivo e se colocou à disposição para demais auxílios que fariam o coletivo se consolidar e ter condições de participar do Circuito Slam BR – Campeonato Brasileiro de Poesia Falada.

Esses grupos eram compostos por mim, Maitê Cidade, Shaiana Souza, Jeane Camargo, Igor Lamed, Douglas Reginato e Men, que se reuniram em dezembro de 2016 na Casa de Cultura Mario Quintana para formar o Slam Peleia. 

Um dos documentos encaminhados pela Roberta sugeria que o nome do slam representasse a regionalidade da comunidade onde ele estava inserido. Por isso, inspirados pela música da banda Ultramen, o nome escolhido foi Peleia. Em seguida, o Men, grafiteiro e multiartista, criou a logo que utilizamos até hoje e que se tornou a nossa marca.

A edição de estreia foi em março de 2017, na praça do MM Lanches [Marquesa de Sevignè, na esquina das ruas Lima e Silva e Fernando Machado], em Porto Alegre. A partir dessa edição, já foram produzidos e coproduzidos mais de 40 eventos, entre campeonatos de poesia regionais e nacionais, rodas de conversa, pocket slams e apresentações poéticas.

Além das edições mensais que eram realizadas nas últimas sextas-feiras do mês, ocupando espaços públicos do centro da cidade, o Slam Peleia também produziu eventos presenciais como a Final Gaúcha de Slam (2017, 2018 e 2019), o Slam Nacional em Duplas – Etapa Sul (2018), o Slam Conexões – 63ª Feira do Livro de POA (2018), edições especiais na FestiPOA Literária (2018) e na Virada Sustentável (2019) e um pocket slam no MARGS, compondo a programação da Noite nos Museus (2019).

A partir de 2020, com o início da pandemia, realizou suas edições online e coproduziu outros eventos nestas plataformas como a Final Gaúcha de Slam (2020 e 2021) e o Slam Peleia das Gurias, integrando a Agenda Cultural Arte SESC – Em Casa com Você (2020).

Como tudo, durante este período turbulento que estamos enfrentando, o Slam Peleia também mudou bastante. A atual organização é composta somente por mulheres: Ariel (cantora e dançarina), Bia Machado (poeta, atriz, escritora e sapatão), Dadi (cantora, compositora, poeta, estudante de publicidade e metida a comediante), Mari Minhote (pedagoga e produtora cultural), Nati Gaspa (sora) e Pam Machado (digital influencer, publicitária e lésbica).

Marina Minhote. Foto: Slam Peleia/Divulgação

Como foi o período da pandemia para vocês?
Para o slam, que é um movimento de rua, de junção de pessoas e, como a gente fala, em que não existe “plateia”, mas sim participantes, foi totalmente desarticulador do movimento como um todo. Algumas pessoas confundem vídeos de poetas slammers com o slam em si. São coisas diferentes. Slam mesmo é batalha em roda, em público, é o meio da roda aberto para quem quiser participar. A internet ajudou muito a impulsionar o movimento, mas o que acontece em cada batalha é único e tem que estar de corpo e alma na roda para sentir.

Assim como outros coletivos de slam aqui do estado e do Brasil, para manter o movimento vivo, o Peleia fez algumas edições online. Articulamos também “junções” de coletivos para fazer esses eventos, e buscamos apoio no Sesc, uma organização que sempre nos apoiou muito. Conseguimos fazer algumas edições, não é a mesma coisa, claro, mas sobrevivemos!

Tínhamos dúvidas de como seria a nossa volta, se o movimento sobreviveria, mas indo nos slams que estão voltando aos poucos na cidade, a gente percebe que realmente todo mundo estava esperando para ver os eventos na rua de novo. Fora que tem muita gente que gosta dos poetas ou das batalhas porque descobriu pela escola ou pela internet. Por exemplo, teve gente que participou pela primeira vez de um slam pelo meio online. E agora chegou a oportunidade de conhecer o slam de verdade, que é na rua, pra todos que quiserem participar.

Edição do Slam Peleia em 2018. Foto: Josemar Afrovulto

Como vocês veem a movimentação dos slams em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul?

Nós tivemos um grande boom entre 2017 e 2019 no estado, começando por Porto Alegre. Muitos slams acontecendo, diversos coletivos se formando, inclusive poetas se descobrindo, se profissionalizando, formando coletivos de espetáculos poéticos e lançando livros… E depois o slam também se espalhou pelo estado. Recebíamos muitas mensagens perguntando como entrar no circuito estadual, como fazer um slam.

Mesmo antes da pandemia, ao longo dos anos, fomos vendo pelas finais estaduais que alguns slams não conseguiram se manter. Isso também é reflexo da nossa situação política e econômica. É um movimento autônomo, e isso significa que a maior parte dos eventos só acontece porque a gente cobre os gastos ou do próprio bolso ou com estratégias de autofinanciamento. Mas nem todos os coletivos conseguem, e com todo mundo lutando muito pra sobreviver, estudar, trabalhar…

Acaba que a cultura, nesses momentos, se por um lado é parte da resistência, ela pode ficar meio em segundo plano na vida das pessoas. Com a pandemia, tudo ficou ainda mais difícil. Equipamento, internet, espaço… Nem todo mundo tem condições de participar de eventos assim.

Passado o pior da pandemia, os coletivos estão despertando de novo. Na final estadual que vamos ver, de verdade, quem conseguiu manter os eventos para participar – pois o critério é ter realizado pelo menos três batalhas no ano e a batalha final.

Também tem uma outra questão, que é o trabalho que slammasters e slammers fazem na cidade e no estado – em feiras do livro, escolas, empresas, centros de juventude, eventos culturais privados e editais públicos, oficinas… Ao longo desses anos, muitos de nós se viram nesse papel, e isso também ajudou a popularizar o slam de uma maneira diferente. Hoje em dia muito mais gente sabe o que é slam, ele é trabalhado em várias escolas, está na Base Nacional Comum Curricular, apareceu em novela da Globo… É uma nova cena e provavelmente o slam ainda vai se renovar muito por causa disso.

Slam Peleia 5 anos
Onde: Centro Cultural Cidade Baixa – CCCB (José do Patrocínio, 296) e Largo Zumbi dos Palmares
Horário: a partir das 15h
Participação gratuita
Mais informações nos perfis de Instagram e Facebook do Slam Peleia

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