Artigos | Marcelo Carneiro da Cunha | Série

Borgen 4, a missão

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Borgen 4, a missão Netflix/Divulgação

Não sei se todos sabem, mas habemus a quarta temporada da série dinamarquesa que agradou o mundo, Borgen. Está na minha, na sua, na nossa Netflix, com o título Borgen – Power & Glory.

A primeira fase da série, com três temporadas, fez sucesso, até surpreendente para algo que falava de política dinamarquesa, onde tudo é muito calmo e as entrevistas são levadas a sério e acontecem com todos de pé, ao redor de uma mesinha, em um mundo ordenado e racional. Talvez por isso mesmo, pelo contraste com tudo que conhecemos sobre política, tenha tornado Borgen o que foi – uma série boa, muito boa, séria, e muito vista.

Dez anos se passaram entre a primeira fase da série e agora essa quarta temporada. Dez anos reais, não de mentirinha. Os atores estão todos mais velhos, uns mais, outros menos sexy, e alguns magros agora são barrigudinhos. O tempo, caros leitores, ele passa, mesmo no reino da Dinamarca.

Borgen é uma série sobre políticos, mais do que sobre política. E ela é uma série sobre mulheres na política e no poder. Esse pode ter sido outro dos motivos para o seu sucesso. Ela mostrou o equilíbrio difícil – ou impossível – entre família, trabalho e poder para as mulheres.

Agora, na quarta temporada, Birgitte Nyborg – nossa heroína e primeira mulher que governou a Dinamarca – já não tem mais marido ou namorado, e os filhos estão crescidos e ela está livre para fazer o que gosta. Basicamente, mandar.

E a Dinamarca vive um momento diferente, em particular, porque o Ártico, o mundo gelado ao seu redor, está esquentando e derretendo. Isso muda o jogo, pra quem não sabe. Navios começaram a passar pelos mares de lá, o que era impossível. O comércio da China com a Europa custaria 40% menos em rotas pelo Ártico. China, Estados Unidos, Rússia, todos os pesos pesados se interessam pelo assunto e pela região, e a Dinamarca é pequena demais pra segurar a onda dessas mudanças todas.

E quem está ali, bem no meio da confusão? Ela, Birgitte, agora ministra do Exterior do governo de outra mulher, igualmente voltada para o poder, mas sem o peso pesado de Birgitte.

Essa temporada aproveita o que a Dinamarca tem de melhor – basicamente, a linda e gelada Groenlândia, que ela ocupou há 300 anos e vem tentando controlar desde então. Minha gente: apenas as cenas espetaculares da Groenlândia já fazem valer a pena o tempo gasto vendo a temporada. Existem coisas perturbadoras, como o fato de os groenlandeses sentirem muito prazer em matar e comer baleias – eles são esquimós e podem – e a instalação de grandes operações de exploração de petróleo e minérios numa área tão bela e intocada.
Mas as cenas de enormes blocos de gelo boiando por todo lado, com pequenas cidadezinhas em frente – a Groenlândia tem a área da Argentina, mas apenas 50 mil habitantes – são de atordoar.

Birgitte parece ter perdido a alma na busca do poder. E é sobre isso que a temporada se desloca. Um certo príncipe da Dinamarca tinha problemas semelhantes. To be or not to be, essa era a questão, e segue sendo. O que não é questão é um hipotético to see or not to see. Borgen é pra ver, e fim.

Vejam.

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