Reportagens | Teatro

Porto Verão Alegre 2021 celebra Tchekhov

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Porto Verão Alegre 2021 celebra Tchekhov "Os Males do Fumo". Foto: Pedro Mendes

O Porto Verão Alegre 2021 apresenta dois espetáculos que celebram um dos mais importantes nomes da história do teatro e da literatura. A obra de Anton Tchekhov (1860-1904) está presente no festival em Os Males do Fumo – adaptação da Cia Teatrofídico para Os Malefícios do Tabaco (1887), com direção de Renato Del Campão – e na peça Os Palhaços de Tchekhov, montagem clownesca do Circo Teatro Girassol dirigida por Dilmar Messias e inspirada em textos do autor russo.

“Os Males do Fumo”. Foto: Pedro Mendes

O monólogo Os Males do Fumo, que estreou em 2019, narra a história de Ivan Nioukhine, um palestrante obrigado a realizar uma conferência sobre os riscos do tabagismo. “Essa temática mascara a psicose do personagem, oprimido pelo fantasma de uma mulher ausente ou inventada. O delírio é tamanho que possibilita uma visão multifacetada de suas personalidades”, comenta Campão.

O protagonista da peça é interpretado por João Petrillo. “Eu diria que se trata de uma tragicomédia – a meu ver, talvez, uma das essências do ser humano. Temos um pouco de vilão e herói, bem e mal dentro de nós”, comenta o ator. “Esse texto costuma ser encenado de forma realista, mas nós fizemos o contrário: embarcamos no campo da alucinação. Além disso, Renato me alertou para o quanto Tchekhov é rico em pausas, em pensamentos, em tempos. Busco essa atmosfera”, completa Petrillo.

“Os Males do Fumo”. Foto: Pedro Mendes

O ator também destaca a necessidade de repensar a atuação para o formato em vídeo adotado pelo Porto Verão Alegre devido à pandemia: “Fico triste de não ter o calor do público, mas me cativa a ideia de estar vivendo um momento histórico para o teatro, onde a linguagem é desafiada. Como a arte da presença pode se dar sem a presença?”. Petrillo completa: “Adaptei minha interpretação tendo em mente que estou fazendo algo que, de alguma forma, auxiliará futuras gerações a entenderem que a linguagem passou por esse processo. Estarei, assim como era na forma presencial, olhando no fundo dos olhos do público, só que desta vez mediado por uma tecnologia que, quero crer, não abalará nossa relação”.

A palhaçaria encontra Tchekhov

“Os Palhaços de Tchekhov”. Foto: Vilmar Carvalho

Apresentada desde 2019, a peça Os Palhaços de Tchekhov conta a história do ator Vassili Smirnov (Tuta Camargo), que se despede do teatro tomando todas com seus admiradores. Embriagado, o personagem cai no sono, sendo acordado mais tarde por Mikhail Usov (Diego Steffani), um ponto – figura que, escondida, “assoprava” o texto para os atores – e pela camareira Natacha Semínova (Débora Rodrigues) – atenção aos trocadilhos nos nomes dos personagens.

Os textos de Tchekhov que inspiram a montagem de Messias são O Canto do Cisne (1888) – central na adaptação por conta do protagonista, um ator cômico em fim de carreira –, Os Malefícios do Tabaco (1887), O Pedido de Casamento (1889), Trágico à Força (1890), A Gaivota (1896), Tio Vânia (1898), As Bodas (1900) e O Jardim das Cerejeiras (1904).

Na proposta metalinguística de Messias, o trio de personagens aproveita a confraternização do fim de carreira do fictício Smirnov para representar fragmentos de obras de Tchekhov, tudo com uma abordagem clownesca. “Sou apaixonado pelos contos de Tchekhov. A partir da leitura dos textos dele, pensei em contar uma história de palhaços”, explica Messias, que em paralelo às atividades do Circo Teatro Girassol é diretor artístico do Theatro São Pedro.

“Os Palhaços de Tchekhov”. Foto: Vilmar Carvalho

Débora Rodrigues, que faz o papel da camareira Natacha, ressalta outro elemento metalinguístico do espetáculo. “Depois que se cria uma palhaça, a essência dela permanece em todos as futuras personagens palhaças”, explica a atriz, aludindo à Farinha, personagem interpretada por ela em Hipnotizador de Jacarés (2006), montagem do Circo Teatro Girassol. “Os Palhaços de Tchekhov é uma grande oportunidade de exercitar a brincadeira, a ousadia e o jogo do palhaço dentro de um espetáculo dramático, sem fugir muito do texto – porque os palhaços adoram fazer isso”, completa a atriz.

O ator Diego Steffani ressalta a questão do figurino dos palhaços, geralmente desproporcional: “Na peça, isso está presente nas deformidades dos personagens, com um aspecto muito próximo do bufão. Os tecidos grosseiros, sujos e puídos remetem a épocas em que os atores utilizavam o figurino até a exaustão”.

Na construção da abordagem das obras de Tchekhov a partir da palhaçaria, o grupo estudou a atuação dos palhaços russos. “Não utilizamos a técnica desses palhaços, mas ela é base da nossa pesquisa para o espetáculo, já que eles são caracterizados pela liberdade, pela reverência e pelo domínio do tempo cênico e cômico”, explica o diretor da peça.

O espetáculo Os Males do Fumo será exibido nos dias 3, 4 e 5 de junho, sempre às 20h, na programação do Porto Verão Alegre 2021.

Os Palhaços de Tchekhov está em cartaz no festival de 9 a 11 de junho, também às 20h.

Mais informações e ingressos à venda no site do festival.

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