Juremir Machado da Silva

A hora e a verdade da Inteligência Artificial, GPT-4

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A hora e a verdade da Inteligência Artificial, GPT-4 "O ser humano vai se tornar obsoleto?"| Foto: Mottakin/Unsplash

O GPT-3 chegou em janeiro. Cometia muitos erros de informação. Podia atribuir a José Saramago uma obra de Chico Buarque. Mas raciocinava melhor do que a maioria de nós. O GPT-4 já está disponível para pagantes e representa um salto enorme em relação ao seu antecessor. O ser humano vai se tornar obsoleto? A criação não deixa de ser o resultado do cruzamento de dados. A IA tem o maior cérebro e maior memória do mundo, a internet, que é a reunião de todas as memórias e cérebros do planeta. Um poeta que procura uma rima o faz no universo limitado da sua mente. A IA busca a rima ao mesmo tempo em todos os imaginários aos quais tem acesso. É veloz e memoriosa.

Quase 2 mil personalidades mundiais, incluindo cientistas e o famigerado Elon Musk, dono do Twitter, pediram moratória de pesquisas em IA por seis meses. Estão assustados com o avanço prodigioso do GPT. Para que serviremos assim que a IA fizer arte melhor do que nós? Talvez esse fosse o último reduto da singularidade humana. Os otimistas incorrigíveis adoram pensar que tudo vem sempre para melhor. Lembram os defensores da imunidade de rebanho no auge da pandemia de covid-19. Como no passado as pandemias virais haviam esbarrado em imunidade de rebanho, garantiam que a covid terminaria da mesma forma. O coronavírus não concordava. Tecnologias sempre desempregaram e produziram novos empregos. Uma vez entrevistei Bruno Latour, guru de certa concepção da ciência. Ela achava ingênuo temer que a tecnologia fosse deixar as pessoas desempregadas. Jurava que elas apenas parariam de trabalhar em coisas penosas. Será mesmo?

Nunca se viu uma escala de automação tão vertiginosa. O otimista fica cínico: “Para a maioria da humanidade nada mudará. Ela não cria mesmo”. Há quem apresente um emprego florescente para humanos: cuidadores de idosos. A novidade da IA é que ela não atinge os empregos e atividades fabris, mas o chamado trabalho intelectual. Advogados, professores, jornalistas, compositores, escritores, roteiristas, enfim, ganham um concorrente feroz, com mais informação armazenada e com uma velocidade de raciocínio inalcançável. 

Há luz no fim do trabalho: poderemos passar os dias assistindo a séries, vendo filmes ou lendo livros escritos especialmente para nós humanos pelas nossas inteligências artificiais. Não precisaremos trabalhar com as mãos nem com a mente. Estaremos livres para consumir.


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Ninguém resiste à tentação de morder a maçã. Appel que o diga. Nada barrará o avanço da IA. Como dizia William Bateson, falando sobre genética, “quando o poder é descoberto, o homem sempre recorre a ele”. É possível que a estúpida mente humana o tenha levado a criar uma inteligência artificial capaz de torná-lo obsoleto. Ou, ao contrário, que a inteligência humana o tenha feito criar uma estupidez artificial capaz de torná-lo obsoleto por falta de senso de humanidade.

Continua...

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