Juremir Machado da Silva

A hora e a vez dos Bolsonaro

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A hora e a vez dos Bolsonaro Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Dizem que foi Tom Jobim quem disse que o Brasil não é para amadores. Digo e repito o mesmo. O Brasil é para profissionais. Tenho dito. Mas ninguém é suficientemente profissional num país de malandros. Tudo aqui tem seu tempo, que é um tempo especial, depois das festas de fim de ano, antes ou depois do recesso parlamentar ou do judiciário, pós-carnaval, coisas assim, salvo exceções. Finalmente a Polícia Federal bateu na porta da família Bolsonaro, a que assombrou o Brasil durante quatro anos com todo tipo de estripulia, de declarações absurdas sobre vacinas a golpismo escancarado e outros do gênero.

Sabe-se desde os tempos de Al Capone que para engaiolar certos peixes grandes é preciso pegá-los com anzol pequeno. O mafioso americano foi para a cadeia por sonegação de impostos. Como é mais difícil pegar o capitão por seu apoio ao golpismo de 8 de janeiro de 2023, é preciso cercá-lo pelo varejo do seu clã: da suposta falsificação de cartão de vacina à criação de uma agência de espionagem paralela. No caso, não é pouca coisa, embora a turma já tenha sido denunciada por feitos incrivelmente maiores. Conta-se que Bolsonaro teria sido avisado da visita da PF e saído cedo para pescar sem isca nem caniço. Mesmo assim, voltou a tempo de encontrar os visitantes indigestos e, pé de chinelo, foi à rua com o filho Carlos para se deixar filmar quando nem a Polícia Federal imaginava tanto.

A cena é de filme sobre patrocínio alternativo de escola de samba. Jair e Carlos de bermudão, exibindo seus ventres avantajados, com ar de quem não está respirando direito, loucos para chutar o balde. No entanto, balde não havia ao alcance da pata. O país inteiro, habituado a novelas de televisão, aguarda ansiosamente os próximos capítulos. O suspense está prejudicando a audiência do 24º BBB, que, se depender da Globo, terá ainda mais cem edições. O destino dos Bolsonaro, contudo, parece que será decidido mais rapidamente. No momento, as cenas dos próximos capítulos sugerem que haverá paredão.

Carlos Bolsonaro queria uma Abin (agência de arapongagem, chamada de serviço de inteligência para tentar encobrir suas burrices recorrentes) para chamar de sua. Não confiava, certamente com alguma razão, por más razões, no tino do pré-histórico general Heleno para encontrar alguma coisa que alguém quisesse esconder. Não podia dar certo. Nem devia, claro. Um serviço quase secreto coordenado de um quiosque da Barra da Tijuca para espionar adversários dos interesses da família. Em outros tempos, seria chamado de serviço da fofoca.

Espera-se que o desfecho seja vibrante e transmitido ao vivo. Em novela não tem mais casamento sem barraco. O mínimo que acontece é noivo e noiva dizerem não. Nem chefe de clã sem prisão. Aguarda-se uma adaptação daquela letra sobre o pato pateta, tantas fez o moço que foi pra prisão. E o velho também. Panela é pouco. O pirão deles primeiro. Parece que o pirão de Bangu tem fama de intragável e anda difícil de se fazer abastecer no mercado paralelo das Abin e dos rangos. A ver.

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