Juremir Machado da Silva

Argentina, 1985

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Argentina, 1985
A Argentina pode ter crise econômica, mas está em alta no mundo: tem o melhor Papa que já vimos, o impensável Francisco; o melhor jogador do mundo na atualidade, o interminável Messi; o tricampeonato do mundo no futebol, com a incrível conquista no Catar; e o melhor filme dos últimos anos, ganhador do Globo do Ouro, “Argentina, 1985”, com o impressionante Ricardo Darín. Ator mundialmente consagrado, Darín inviabiliza os diretores dos filmes em que trabalha. Não se diz “Argentina, 1985”, de Santiago Mitre, mas “Argentina, 1985”, com Ricardo Darín. O filme conta o processo e o julgamento dos ditadores argentinos que atolaram o país em tortura, mortes e desaparecimentos.

É a história do promotor de justiça Julio Strassera (Darín) e do seu inesperado braço direito, Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani), com um grupo de jovens procuradores, no difícil trabalho de levantar provas, em cinco meses, para condenar ditadores com Jorge Videla. O filme é maravilhoso, emocionante, de fazer chorar. Os depoimentos das vítimas do horror dos fascistas fardados argentinos parecem estar acontecendo ao vivo, não em um filme. A gente fica com raiva, grita o que o coração não cala: que bando de fdps foram esses milicos! Em seguida, vem a reflexão: a Argentina fez o que o Brasil não teve coragem nem de tentar. Julgou e puniu os seus algozes. Cana braba.

O Brasil das estratégias conciliatórias deu no que deu: a tentativa de golpe de 8 de janeiro, com a malta sob proteção militar, acampada em frente ao QG do Exército, em Brasília, na condição de intocável. Ainda estamos devendo um grande filme sobre a ditadura brasileira. Tomara que saia rapidamente um sobre o fascismo de janeiro. “Argentina, 1985” pode ser visto na Amazon Prime. É imperdível. Darín, no papel de um promotor cético, mal-humorado e tenaz, dá show. Como sempre. A história tem início, meio e fim. Os argentinos dão espetáculo em roteiros. Tudo faz sentido e fascina.

Somos, em parte, o que a ditadura fez de nós. Os argentinos não passaram a borracha. Já o Brasil ainda continua submetido aos militares, tendo de escolher ministro ao gosto dos comandantes bolsonaristas, e com um artigo, o 142, da Constituição redigido com o máximo de ambiguidade para contentar os militares, que se acham poder moderador, quando são simplesmente um instrumento a serviço da ordem constitucional. Sem dúvida, temos muito a aprender com nossos vizinhos. O pequeno Uruguai é outro país que nos dá lições de democracia. Enquanto não agimos, melhor olhar “Argentina, 1985”.

Continua...

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