Argentina, 1985
É a história do promotor de justiça Julio Strassera (Darín) e do seu inesperado braço direito, Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani), com um grupo de jovens procuradores, no difícil trabalho de levantar provas, em cinco meses, para condenar ditadores com Jorge Videla. O filme é maravilhoso, emocionante, de fazer chorar. Os depoimentos das vítimas do horror dos fascistas fardados argentinos parecem estar acontecendo ao vivo, não em um filme. A gente fica com raiva, grita o que o coração não cala: que bando de fdps foram esses milicos! Em seguida, vem a reflexão: a Argentina fez o que o Brasil não teve coragem nem de tentar. Julgou e puniu os seus algozes. Cana braba.
O Brasil das estratégias conciliatórias deu no que deu: a tentativa de golpe de 8 de janeiro, com a malta sob proteção militar, acampada em frente ao QG do Exército, em Brasília, na condição de intocável. Ainda estamos devendo um grande filme sobre a ditadura brasileira. Tomara que saia rapidamente um sobre o fascismo de janeiro. “Argentina, 1985” pode ser visto na Amazon Prime. É imperdível. Darín, no papel de um promotor cético, mal-humorado e tenaz, dá show. Como sempre. A história tem início, meio e fim. Os argentinos dão espetáculo em roteiros. Tudo faz sentido e fascina.
Somos, em parte, o que a ditadura fez de nós. Os argentinos não passaram a borracha. Já o Brasil ainda continua submetido aos militares, tendo de escolher ministro ao gosto dos comandantes bolsonaristas, e com um artigo, o 142, da Constituição redigido com o máximo de ambiguidade para contentar os militares, que se acham poder moderador, quando são simplesmente um instrumento a serviço da ordem constitucional. Sem dúvida, temos muito a aprender com nossos vizinhos. O pequeno Uruguai é outro país que nos dá lições de democracia. Enquanto não agimos, melhor olhar “Argentina, 1985”.
Continua...